A MPB segue viva! Obrigado, Pedro Mariano!

Aos 12 anos, Pedro Mariano subiu ao palco pela primeira vez e, gradativamente, saiu do anonimato para o olho do furacão que é o meio artístico. Filho de Elis Regina (que morreu quando Pedro tinha apenas 6 anos) e do pianista e arranjador musical Cesar Camargo Mariano, passou de filho de Elis a celebridade nacional e cotado para o artista que representaria a Nova MPB!

Pedro Mariano estava animado no dia da nossa entrevista!

E a gente sabia o motivo: agenda cheia de shows, além de estar muito bem acompanhado da esposa Patrícia e da filha Rafa, que segue os passos da família na cena musical.

Roupas claras, sorriso no rosto, preparado para dar uma aula sobre música e no auge dos 50 anos bem vividos.

Amante da boa música que sou, tirei proveito da situação, apesar de ter lapidado a pauta em torno, também, de outros assuntos. A experiência emocionante de ser filho de quem é fez de sua casa um casulo de boa música e Pedro não demorou para sair dele!

Aos 12 anos subiu ao palco pela primeira vez e, gradativamente, saiu do anonimato para o olho do furacão que é o meio artístico. Filho de Elis Regina (que morreu quando Pedro tinha apenas 6 anos) e do pianista e arranjador musical Cesar Camargo Mariano, passou de filho de Elis a celebridade nacional e cotado para o artista que representaria a Nova MPB!

Entender o seu espaço dentro da família – e no mundo – fez dele um dos maiores intérpretes do Brasil. Pedro canta de uma forma singular uma lista de canções que todo mundo conhece e são essas faixas que fazem parte do A2 – Volume 2, com versões de músicas de Ivan Lins, Ritchie e Gil, entre outros.

Apaixonado pela corrida e pela cozinha, granjeiro raiz, e com os compromissos de trabalho em dia – que não são poucos; Pedro deixa claro que sua rotina é muito parecida com a de qualquer outra pessoa. “Antes de mais nada, temos a relação de uma família comum, com horário pra dormir e pra acordar, escola, o cotidiano da Raposo travada; a única coisa que é um pouquinho diferente para os outros é o cotidiano dentro do universo musical”, verbaliza.

Nosso papo foi bom, leve e teve café. Pedro dividiu seus pensamentos sobre paternidade, música, corrida e contou alguns causos gostosos de escutar, assim como a sua voz doce, repleta de técnica e de talento.
Ah, ele falou da Granja e sobre o lado bom e ruim de viver aqui. “Nada resiste ao Brasil,nem a Granja Viana”, brinca ele. Quanta coisa boa vem a seguir.

A gente só tem a agradecer por essa oportunidade.

Obrigada, Pedro!

“Antes de mais nada, temos a relação de uma família comum, com horário pra dormir e pra acordar, escola, o cotidiano da Raposo travada; a única coisa que é um pouquinho diferente para os outros é o cotidiano dentro do universo música”

Como é a sua relação com a Rafa e a relação de vocês com a Granja?
Eu moro na Granja há 21 anos e ela tem 18. A Rafa nasceu aqui. Antes de mais nada temos a relação de uma família comum, com horário pra dormir e pra acordar, escola, o cotidiano da Raposo travada; a única coisa que é um pouquinho diferente para os outros é o cotidiano dentro do universo musical, que ela sempre foi ligada desde pequena. Desde que ela mostrou que gostava, a gente fomentou e deu condições pra que ela florescesse. Ela estudou piano, violão, voltou para o piano, teve a época que não queria nada, estudou canto e agora está na faculdade de música. Tudo natural e normal, nada imposto.Eu não posso querer pra ela algo que seja conflitante com o que ela quer.

O que tem na Granja que você gosta?
É melhor perguntar no pretérito: “o que tinha aqui que você gostava”? (risos). Como diria o Ronaldo Bôscoli, finado pai do Marcelo Bôscoli, “nada resiste ao Brasil”. E eu completo: nem a Granja Viana. Eu já frequentava a Granja muito antes de vir morar aqui, desde 1996, por causa do Jair. Eu vinha jogar bola aos finais de semana na casa do Jair Rodrigues. Ali começou também meus primeiros ensaios de composição com o Jair. A minha esposa tinha muitos amigos pela Granja; era um lugar muito comum na nossa cabeça. casamos, mudamos para o Morumbi e miramos na Granja. Viemos pra cá em 2004. O bom da Granja é que é versátil e tem bastante coisa; o ruim é que muita coisa abre e fecha muito rápido. O granjeiro é caseiro. Os restaurantes que abriram aqui e perduraram é porque são muito bons. Aí tem a questão da Raposo, mas isso é assunto para uma outra entrevista. (Risos).

Você é atleta e cozinha muito bem.
A Granja ainda tem uma natureza que dá pra fazer algumas coisas. Eu corro aqui e pratico esporte de areia na Riplay. Eu acho lá bem legal. Eu sempre gostei de cozinhar e comecei por absoluta necessidade. Eu adolescente, comecei a me virar. Depois, comecei a cozinhar para a família. Assim como a música, que é uma alquimia onde você junta diversos ingredientes para chegar num som, a gastronomia é a mesma coisa. Estou a centenas de quilômetros de distância de ser um chef, mas eu amo cozinhar. Gastar o meu tempo para dar alimento às pessoas é o maior ato de carinho, na minha opinião. Acho a mesa um lugar sagrado e acho incrível ter gente em volta da mesa. Adoro aprender e estou sempre testando. Pra mim, Michael Jackson e Rita lobo estão no mesmo patamar. Aqui na Granja, sou fã do Repita.

Você teve essa liberdade de escolha dentro de casa?
Tive. Meu pai nunca me perguntou o que eu queria fazer. Eu que contei pra ele. Quando eu falei pra ele que queria ser músico, a única frase que escutei foi: “Você tem certeza”?
Porque ele tinha as preocupações dele… o fato de ser filho da minha mãe, o fato da gente viver em um país onde a cultura realmente é tratada de um jeito muito desleixado. Então, a música sempre foi fluída dentro de casa, sempre tive instrumentos à disposição.

“O bom da Granja é que é versátil e tem bastante coisa; o ruim é que muita coisa abre e fecha muito rápido. Aí tem a questão da Raposo, mas isso é assunto para uma outra entrevista”

O que você busca na música hoje?
Eu busco artistas e músicas em underground. Não com o intuito de achar algo que ninguém achou. Eu adoro fazer isso! Mas com o intuito de pegar artistas e músicas menos viciadas no algoritmo. Os artistas de uma forma geral, no mundo inteiro, estão fazendo música para o algoritmo, para poder quebrar a bolha e chegar nas pessoas. Com isso, você parece que tem uma série de artistas que parece que está um copiando do outro, literalmente. Isso cansa. Se você quiser escutar algo diferente você tem que mergulhar para o fundo. Então, eu tento enganar o algoritmo.

“Nada resiste ao Brasil, nem a Granja Viana”

O que não acontece no dia a dia do Pedro Mariano?
Você não vai chegar na minha casa e vai ter alguém tocando um instrumento. Música, pra mim, é trabalho. Música não é hangout. Então, não tem luau na minha casa. Pode ter na sua e eu provavelmente não vou (risos). Em casa nunca teve isso. Eu lembro de amigos meus da escola irem em casa fazer trabalho e não estar rolando um show, com todo mundo de roupão. Meu pai estava no estúdio trabalhando. Você não chega na casa de um médico e tem uma mesa de operação com um cara aberto no meio da sala.

O que você escuta quando está no carro? Quem escolhe a playlist?
Ouço notícias; mas, com um adolescente no carro você escuta no máximo duas notícias e logo vem uma música. Nesses momentos, desde que ela era pequena e eu podia escolhera playlist, até a formação do gosto musical dela … teve a fase de Violeta, teve a fase do Kpop… a gente tem que ir na onda, tirar o lado bom disso e observar o caminho que o gosto musical faz. Hoje nosso gosto está muito parecido. A gente está ouvindo praticamente as mesmas coisas e, hoje em dia, debatendo e conversando sobre arranjos.
Com duas horas pra ir e duas horas pra voltar de Raposo, dá pra ouvir música pra caramba. Em casa era assim, meu pai vinha com uma fita cassete na mão, colocava no carro pra gente ouvir e eu, além de curtir o som, prestava atenção nos comentários dele.

A Elis Regina continua sendo ídolo entre os jovens. Como você explica isso?
Eu explico a longevidade da minha mãe até hoje entre os jovens devido a passagem de bastão, dos pais para os filhos. Se pais e filhos têm uma relação mais íntima e próxima, normalmente esse tipo de influência existe. Quase que, na maioria das vezes, a culpa daquilo que o filho gosta é do pai e da mãe. O fã é orgulhoso daquele artista que não está mais aqui, porém, deixou um legado, e, ele faz questão de, na primeira oportunidade, presentear o filho com esse conhecimento. Salvo alguns casos de ser algo forçado ou de não ter empatia, normalmente existe uma convergência de gosto. Se não fosse assim, não teríamos legado na arte. O Van Gogh não tinha um publisher fazendo posts diários sobre sua arte. A força da obra e a propagação de uma pessoa para outra faz com que o legado dele perdure. A música foi feita para ser assim. Ela é uma arte agregadora. Desde os primórdios da humanidade a música começou a ser feita em volta de uma fogueira, em roda. Música é conectividade acima de tudo, independente da qualidade. A gente não pode pegar a música e quantificá-la por boa ou ruim, legal ou não legal. A música se conecta com todo tipo de gente e, automaticamente, por conta disso, algumas terão uma projeção maior na sociedade e ganharão visibilidade. A casa é a nossa primeira fogueira. A gente conversa em volta da mesa e, de repente, estamos colocando as mesmas playlists para tocar. Todos os mecanismos mudaram, mas a forma como a música chega às pessoas continua a mesma.

A voz e o talento da Elis te acompanham. Mas, o que você se lembra dela,fisicamente? E com o seu pai? Ele te influenciou musicalmente?
Eu lembro de ensaios, de trechos de shows. O cotidiano de casa eu lembro muito pouco, porque eu tinha de 6 para 7 anos com ela morreu. São flashes. Com o meu pai já tive uma vivência infinitamente maior. E sempre tive muitas boas conversas sobre música com ele, desde que demonstrei que eu seria um cantor (tive uma banda na escola com 10, 11 anos). Era muito comum uma música passar no rádio e elef alar: “Fique de olho nessa música, ela é boa; pode ficar legal com você cantando”. Uma vez ele me mostrou uma música que estava fazendo lá nos Estados Unidos, eu ouvi, achei legal e passou. Aí fomos gravar um material de piano e voz e, no quarto dia de gravação, eu peguei uma virose e não consegui cantar. Eu fui ao médico e ele pediu uma semana de repouso pra eu me recuperar. Nestes dias, aproveitamos para discutir sobre repertório e, no meio dessa conversa, senti que estava faltando uma música inédita. E lembramos da música que ele tinha composto. Ele disse: “Mas quem vai colocar a letra”? E eu disse: “Ah, eu conheço um tal de Jair Oliveira”. (risos). Jair foi até o estúdio, mostramos a melodia pra ele, meu pai falou sobre o tema que tinha pensado pra ela e no outro dia o Jair estava lá com a letra da música na mão. Consegui cantar de primeira, de tão encaixada que estava. É muito difícil criar para tema instrumental porque é uma dinâmica diferente. E ele fez. E encaixou perfeitamente. A Música é a “Par, ímpar”.

Como é a relação com os seus irmãos? Quando se encontram, tem luau? (risos)
Graças a Deus não. A gente morou junto até 1993, menos meu irmão mais velho, o Marcelo, que sempre morou no Rio. Depois, meu pai foi embora para os Estados Unidos, eu fiquei com o João e as meninas foram morar com meu pai. Até esse momento, todos nós éramos muito jovens. O João já trabalhava com publicidade e tinha a banda dele. Eu também trabalhava com publicidade e cantava jingles, mas não tinha feito nada profissionalmente com música. Minhas irmãs são mais novas, então, ainda estavam na escola. Quando a vida começou realmente acontecer, estávamos cada um em um lugar. Não tivemos essa troca profissional… a boa interferência no mundo um do outro. Não tivemos por uma questão geográfica mesmo. Não temos o hábito de interferir um na vida do outro. Ninguém faz isso. Nem meu pai nunca fez. A única coisa que existe é: se eu perguntar, virá uma resposta. E vice-versa. Independente de competências, música é uma expressão da sua personalidade. Pelo menos a música que nós aprendemos a fazer. Fazer música, nós todos sabemos. Quando eu perguntava para o meu pai algo sobre meu trabalho, era sempre uma pergunta direcionada e técnica e não perguntando se ele gostava do meu trabalho. Sempre tive o Cesar Camargo Mariano a um telefonema. Pra que eu iria perguntar a outras pessoas?

Pedro Mariano, 50, acumula quatro indicações ao Grammy Latino, Disco de Ouro, 13 CDs e 5 DVDs lançados. Em “A2 Vol.2”, que foi lançado no dia 11 de abril, ele se uniu ao guitarrista e violonista Conrado Goys, sob a direção musical de Dudu Borges e do próprio Pedro Mariano. O álbum reúne interpretações de grandes sucessos da música brasileira,como “Vitoriosa” (Ivan Lins e Vitor Martins), “Todo Azul do Mar” (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos), “Menina Veneno” (Ritchie e Bernardo Vilhena), “Se” (Djavan) e “Estrela” (Gilberto Gil), além da nova versão de “Não Diga Nada” (Ed Wilson, Gilson, Ronaldo Bastos e Prentice). Uma delícia escutar tudo isso na voz do Pedro! Pedro Mariano esteve com o A2 recentemente em Salvador!

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