O aumento dos crimes de sequestro e sua correlação com o PIX

Por Marco Pontes

Uma série de fatores contribuem para o aumento da violência no país. Sabemos que a pandemia, apenas asseverou este fato. A seguir apresento uma abordagem pontual sobre o tema, em epígrafe. Deixo a análise mais profunda e necessária para quem tem competência no assunto, isto é, os sociólogos, os especialistas em segurança sob as diversas perspectivas e, naturalmente, os membros da segurança pública.

Todavia, como gestor de risco e matemático eu dou importância aos números. Eles têm o mérito de fornecer uma visão cética e pragmática dos fatos. O que eles dizem? As estatísticas apontam que a principal razão dos sequestros ocorridos em São Paulo está associada as gangues especializadas em crimes envolvendo o PIX.

A edição do Jornal Estadão na semana passada trouxe uma matéria que aponta um aumento de 40% nos casos de sequestros na cidade de São Paulo. Fenômeno semelhante deve estar ocorrendo em outros Estados da federação.

Sabemos que para um crime ocorrer é preciso haver uma oportunidade. Os criminosos estão se aproveitando desta oportunidade. Qual? O PIX é ou não é seguro? Alguns especialistas alertam que a ferramenta é extremante frágil do ponto de vista de segurança. O cadastramento é muito simples. É tão simples que pode ser feito enquanto o crime é cometido, com o sequestrado no carro.

Eu me recordo de uma Live promovida pelo BTG Pactual no ano passado em que o Sr. Beny Parnes, ex-diretor internacional do BACEN afirmou que o PIX não tem segurança. Ora se ele faz uma afirmação deste teor, quem sou para contradizê-lo? Acredito, integralmente no que diz – até porque as estatísticas comprovam a sua afirmação. O assustador é como uma indústria tão poderosa que movimenta um volume diário de recursos tão elevado, como é a indústria bancária, libera uma ferramenta para o consumidor que alguns especialistas consideram frágil.

Por outro lado, aqueles que defendem a ferramenta, alegam que o risco do PIX são os mesmos dos outros serviços financeiros oferecidos aos consumidores, e que antes de ser ofertado a ferramenta passou por testes exaustivos de segurança. Vão mais longe ao afirmar que o ponto frágil do PIX, é o fator humano.

A repercussão negativa da matéria do Estadão tornou o dia de seguinte bastante agitado para os representantes do setor bancário e às autoridades do BACEN. No fim do dia foram anunciadas novas regras para o PIX, dentre elas destacamos:

(i) limite de R$ 1 mil reais entre o horário de 20 horas e 6 horas;

(ii) liberdade para o usuário escolher limites do PIX;

(iii) limites diferentes para o dia e noite;

(iv) novo limite – após 24 horas e, finalmente

(v) o pré-cadastro com 24 horas de antecedência.

Infelizmente, ainda são medidas paliativas. Não bastam.

Já sabemos, por exemplo, que apenas o uso de senhas é insuficiente. Um sistema de segurança eficiente exige uma análise de riscos mais adequada. O emprego de softwares de análise de dados que já são utilizados pela indústria bancária para os outros produtos. Existe tecnologia para efetuar uma análise comportamental dos gastos dos consumidores por meio do seu histórico de operações, entre outros fatores.

A análise comportamental é capaz de realizar uma avaliação do DNA do dispositivo que está sendo usado, geolocalização, horário de acesso e muito mais.

Tendo ciência do comportamento do consumidor, uma instituição financeira tem meios para certificar que se trata de uma operação legítima ou se está sendo feita por um criminoso virtual ou mesmo por intermédio do consumidor sob pressão de um criminoso.

É bom lembrar que o PIX chegou no fim do ano passado para substituir o DOC e a TED, mas qual o preço que estamos pagando? O aumento da insegurança?

Se por um lado simplificou as transferências de recursos e reduziu os custos do consumidor. Por outro lado, acarretou uma perda significativa de recursos para a indústria bancária. Alguém lembra do custo que representava para realizar um DOC ou uma TED?

Nós consumidores não podemos ficar tão expostos como estamos no presente. O BACEN deve continuar cobrando de forma implacável das instituições financeiras medidas de segurança mais eficientes para maior proteção do consumidor, afinal como já destaquei aqui, as medidas anunciadas ontem são paliativas e não resolverão os problemas dos consumidores.

Eu recomendo a todos que forem vítimas desse crime que busquem na justiça uma reparação.

(*) é matemático e gestor de riscos.

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