Eduardo Kobra: O artista urbano que ganhou o Mundo!

Ele desceu do andaime para conceder essa entrevista exclusiva

 Por Ester Jacopetti

Responsável por levar a street art brasileira para os quatro cantos do mundo, Eduardo Kobra segue seu caminho promovendo sua arte. Mas, a trajetória até aqui teve os seus altos e baixos. Com sabedoria conseguiu sair da periferia de São Paulo e conquistar o seu lugar ao sol. Mas, como ele mesmo disse nesta entrevista exclusiva, as dificuldades que enfrentou ao longo do caminho o moldaram a ser quem ele é hoje, e revela sua essência nos murais que ele pinta. “É muito difícil imaginar sair do bairro onde eu nasci e transitar pelo mundo afora. Mas eu sou hiperativo, sempre busquei a evolução da minha arte”, disse o urbanista. Nesta edição especial de aniversário, prepara-se para conhecer o lado humano e sensível de quem vive da arte de grafitar.

***

Das periferias de São Paulo para o mundo, você em algum momento sonhou com esse momento?

Eu sempre pensei na arte como algo universal e, sendo assim, o artista tem a oportunidade de falar todas as línguas, sem dizer nenhuma palavra, tocando os corações das pessoas ao redor do mundo. Eu estou vivendo esse sonho, embora, seja algo que estava distante da minha realidade, porque é muito difícil imaginar sair do bairro onde eu nasci e transitar pelo mundo afora. Era um desafio porque eu não tinha sequer dinheiro para pagar o aluguel ou uma condução de ônibus; muitas vezes, eu passava por baixo de uma roleta para poder comprar uma lata de tinta. Mas eu sou hiperativo, sempre busquei a evolução da minha arte. Renunciei ao crime, às drogas, ao álcool e tudo que é ilegal. Foi através da minha arte que as portas foram se abrindo. Eu aprendi na prática a pintar um prédio, sendo um dos percursores no Brasil com pintura 3D no piso, sem nunca ter visto alguém pintar, sempre vendo através de filmes ou pesquisas de livros. Realmente a arte é muito desafiadora, mas a liberdade que ela possibilita me move.

“Eu não tinha sequer dinheiro para pagar o aluguel ou uma condução de ônibus; muitas vezes, eu passava por baixo de uma roleta para poder comprar uma lata de tinta”

Você prefere não se envolver com marcas (patrocínio), mas, de certa forma, poderia ganhar mais dinheiro com patrocínios; ao mesmo tempo, imagino que quem trabalha com arte quer ter liberdade para se expressar. Comente.
Fui trilhando o meu próprio caminho e, muitas vezes, deixando de comer para comprar uma lata de tinta. Não tive apoio de nenhuma marca no começo da minha história, ninguém nunca me procurou para nada. Deixo claro que não sou contra artistas que fazem associações com marcas; eu procuro me associar de forma legítima, como por exemplo: tinha um mural que eu queria muito fazer uma homenagem ao Airton Senna, à história dele e o que ele representa. Eu não tinha como custear porque o trabalho em um prédio é muito caro. Por coincidência, a Audi do Brasil me procurou para customizar um carro. Fiz a customização e eles patrocinaram esse mural, ou seja, se a associação é legítima, eu não vejo nenhum problema, contanto que a marca não interfira nos meus conceitos e princípios, e não seja contrária aos valores que eu coloco no meu trabalho, ou seja, preservação do meio ambiente, da natureza e não utilizar animais para nenhum tipo de experiência. Eu não faria um catálogo de arte para as pessoas comprarem e estamparem onde elas quiserem. Não é legal e não agrega valor. Fiz pouquíssimas parcerias a nível de produtos, assim como fiz poucas exposições também, porque fico esperando o modelo certo, o momento certo, e também porque estou nas ruas, que é o maior museu de arte à céu aberto que existe.

O grafite: uma arte que surgiu na década de 70, mas que ainda briga por seu espaço e reconhecimento.

São Paulo é uma das principais cidades do mundo em relação a arte de rua, e isso é inquestionável. Existem manifestações artísticas acontecendo na cidade ilegalmente e legalmente; formas de arte que utilizam diferentes suportes e técnicas, diferentes materiais, mas todas elas estão acontecendo simultaneamente. Cada artista tem o seu valor, seu princípio, sua ideologia e o motivo pelo qual fazem ou deixam de fazer. Eu acredito numa política de incentivo aos artistas e entender que existe diferença da arte que é feita em museus, galerias e a arte que é feita na rua. Alguns artistas evoluíram e acabaram fazendo o movimento contrário, das ruas para as galerias, das ruas para os museus. Tornar a cidade cada vez mais agradável com mais obras de arte ao acesso de todas as pessoas, claro, com todo cuidado, critério, curadoria, tem que ser feito sim. Embora tenha ocorrido alguns equívocos, ainda percebo uma explosão de street art na cidade, com pinturas de prédios, de murais, de incitações. É um privilégio para os artistas desta geração, mas claro que falta incentivo, apoio.

Desde a estreia como muralista, você já retratou inúmeros personagens importantes no mundo; um dos últimos foi uma homenagem ao ex-jogador Pelé que acabou de completar 80 anos. Qual o sentimento de fazer parte dessa história e de todos os nomes que você já desenhou. Qual te marcou e por quê?

Aí vale a pena comentar que o meu trabalho não é apenas sobre personalidades; eu tenho projetos como Greenpincel – proteção do meio ambiente, da natureza, dos animais de forma geral; tenho pinturas em 3D anamórficas, que são pinturas que sofrem distorções; tenho projetos como Recortes da História, onde pego momentos importantes da história e recrio pintando murais; tenho O Muro das Memórias, onde “falo” da década de 20 e 30 fazendo uma releitura de imagens antigas; tenho o Olhares da Paz, onde retrato personalidades importantes que lutam e lutaram pela paz. Cada momento trabalho projetos diferenciados. Tenho a Galeria Circular Itinerante, onde transformo o ônibus em uma galeria e levo para várias comunidades. É óbvio que, acima de tudo, quando se trata de um tema relacionado a alguém ou personalidade, essa pessoa pode ser anônima também; como exemplo cito o caso do Senhor Raimundo, um escritor que viveu por 17 anos nas ruas de São Paulo, talentosíssimo, foi descoberto e hoje conseguiu lançar seu próprio livro; mas eu pinto também Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King, Madre Tereza De Calcutá, Irmã Dulce, Ayrton Senna; são pessoas que inspiraram o mundo de alguma forma, que fizeram uma transformação para o bem, que lutaram  e conquistaram seus espaços através das suas lutas, na vida pessoal ou no esporte, na superação, na mensagem e naquilo que construíram.

Ao longo dos anos foram inúmeras pinturas e, algumas delas, precisaram de alguns reparos; hoje, com a nova técnica para pinturas, como você procura desenvolver essa habilidade para que os murais resistam bem a passagem do tempo?

A durabilidade de um mural depende de fatores como as condições climáticas – calor, frio, chuva -, a poluição, e se foi realizado em uma parede nova ou mais antiga. Agora, podem ser tomados cuidados essenciais para que os murais durem mais, como um melhor preparo da parede, o uso de seladora e tintas acrílicas como base e aplicação de verniz ao final do trabalho. Não podemos pensar apenas no novo. É preciso ter um olhar para o que já existe em nossas casas e cidades, como as marquises dos prédios, as árvores, os monumentos e os murais. Já há alguns anos eu estava incomodado ao ver meus trabalhos deteriorados. A vontade de realizar um trabalho nesse sentido cresceu ainda mais durante a pandemia, já que as pessoas começaram cada vez mais a passear em suas próprias cidades. A Arte de Conservar é um dos primeiros movimentos de restauração, revitalização e preservação de murais, que já são verdadeiros patrimônios das cidades e, acredito, merecem receber os mesmos cuidados que os prédios, os monumentos públicos e qualquer obra de arte. A velha ideia de que a arte de rua é descartável e efêmera deve ser mudada.

A “Mão de Deus” é um mural autobiográfico que você fez na cidade de São Paulo, no Minhocão. O que ela significa para você?

A “Mão de Deus” tem um significado muito delicado; eu deixei esse trabalho, assim como deixo todos os outros, em aberto para interpretações das pessoas, para que cada um possa sentir de uma forma, e entender de uma maneira. Eu tive ateus que olharam para a obra e identificaram solidariedade, apoio, pessoas ajudando uma as outras durante a pandemia. Eu tive pessoas de diferentes religiões que identificaram ali Deus das mais diferentes formas e relataram milagres, ou acontecimentos em suas vidas através das Mãos de Deus. Obviamente, quando se pinta na rua, existe uma grande responsabilidade em respeito a todas as culturas, tradições, povos, religiões, mas, particularmente, essa obra trata de esperança, de fé em Deus mesmo, especificamente durante todos os momentos difíceis que eu vivi esse ano, não só por conta da pandemia que trouxe restrições, mas do luto que eu vivi com a morte do meu bebê, a Catarina, que viveu apenas doze horas. Criei essa obra como se fosse a mão de Deus me resgatando, que é o que eu realmente senti e sinto.

Viajando pelo mundo você já conheceu mais de 30 países representando o Brasil; quais são seus sentimentos diante dos problemas reais que assolam o nosso país, como a homofobia, o machismo, o racismo?

Existe o preconceito, o racismo enraizado na cultura brasileira, a educação desiquilibrada. Eu não falo inglês até hoje por conta de toda dificuldade que passei. Vejo muitos meninos com uma educação complicada, a saúde é um descaso, pessoas morrem por questões básicas da saúde em vários lugares e até mesmo na cidade de São Paulo. Quero ver o Brasil melhorar, mas não só com discursos políticos da esquerda, da direta, da extrema direita; para mim tanto faz. Quero mudança verdadeira. Quantos talentos estão deixando de ser artistas? Ou que vão para o mundo do crime? Eu busco a paz e a solidariedade para incentivar as pessoas a terem fé, esperança no futuro, mas também dando uma ideia para que elas se esforcem, pesquisem, estudem, se afastem das drogas, do crime, da bebida, do cigarro, da violência, do que é destrutivo para família. Essa transformação tem que acontecer primeiro no nosso coração, dentro de nós, depois através da nossa família, comunidade, bairro, para transformarmos o mundo onde vivemos.

Quem Somos :

A Revista TUDO chegou e revolucionou! Com uma proposta diferenciada traz inovação, ousadia, serviço e mais Informação para você, leitor! Muito além de mais uma revista regional, a TUDO mostra o que a Região tem de bom, o que precisa ser melhorado e as necessidades de seus moradores. Somada a esta prestação de serviço, apresenta uma síntese dos fatos mais importantes que acontecem no Brasil e no mundo, sem contar os assuntos de interesse geral que estão em evidência na atualidade. Leia Mais

Contatos: 

Distribuição Gratuita:

  • Condomínios e pontos comerciais instalados na Granja Viana, Ao longo  da Rodovia Raposo Tavares, Cotia, Caucaia do Alto, Vargem Grande Paulista, Embu das Artes, Jandira, São Roque, Alphaville e Aldeia da Serra

Horário de Atendimento:  

  • SEGUNDA-FEIRA    09:00 ÀS 17:00
  • TERÇA-FEIRA          09:00 ÀS 17:00
  • QUARTA-FEIRA        09:00 ÀS 17:00
  • QUINTA-FEIRA         09:00 ÀS 17:00
  • SEXTA-FEIRA           09:00 ÀS 17:00

A Revista Tudo é uma publicação da Editora Tudo: Av. São Camilo, 980 Shopping Granjardim Granja Viana – Cotia

Privacidade:

  • O website da  “Revista Tudo” zela pela privacidade e proteção dos dados pessoais de seus clientes e visitantes, mantendo assim a relação de confiança, respeito e transparência. Apenas pessoal qualificado e autorizado tem permissão para acessar os dados coletados.
  • Em nenhuma circunstância, tais informações são vendidas ou compartilhadas com terceiros, de acordo com a LGPD (lei 13.709, de 2018)

Mais notícias

Você viu tudo

Não há posts

Abrir Chat
Precisa de Ajuda?
Como podemos ajudar?