Por Adriana Rodrigues Xavier
No início do ano, nas redes sociais encontramos rostos, tantos rostos de jovens e abaixo deles, nomes de universidades nas quais esses meninos e meninas poderiam estudar, pois venceram seus vestibulares. Eu gosto de ver, muitas vezes encontro faces tão conhecidas e queridas por mim, de crianças que conheci anos atrás, como meus estudantes! É uma alegria!
Eu os parabenizo em meu silêncio e emano com todas as minhas forças, vibrações de bons caminhos e uma vida feliz a eles. Vida feliz…
Mas estava pensando num dia desses e queria muitíssimo saber dos rostos que estão por trás dessas muitas vezes exclusivas lentes. Quero dizer…onde estão os que não passaram em conhecidas faculdades? Onde estão os que ainda não se decidiram? Os que ainda estão estudando e têm como meta uma única opção querida por seu coração?
Alguém teria coragem de fazer uma entrevista com esses jovens? Falar com eles? Saber de como pensam em seguir seus caminhos? Eu me candidato a sentar-se e olhar em seus olhos, que ainda pouco viram do mundo, para saber o que sentem…E as escolas? Como deram conta desses estudantes? Alguém os notou? Segurou suas mãos, olhou em seus olhos? Esses meninos e meninas, mostraram outras habilidades? Quer dizer, muitos desses jovens passaram anos nessas instituições de ensino! E suas histórias? Do que eles gostavam?
Tenho pessoas queridas e atípicas em minha família e acho que não verei os rostos delas nas redes. De qualquer forma, elas estão aí, têm sonhos, têm medos, precisam de alguém que os conduza, que mostre algum caminho, valide suas tentativas!
Quem fará de verdade a diferença nesse mundo?
Eu alfabetizo meus alunos mas sempre digo a eles e aos pais que a leitura e a escrita devem estar a serviço da humanidade, e meu pleito é provocar e trazer à tona boas ações que nem sempre estão associadas a ótimos desempenhos.
Tenho alguém querido portador de um imenso déficit de cognição social. Pois é… isso existe! Esse indivíduo escolheu, após sofrer rejeição em diversas investidas sociais, se isolar. Pois bem, essa estudante, é uma menina, já havia se acostumado com a solitude e protegeu-se dentro de si mesma até que um dia, uma bola escapou da quadra e foi parar bem pertinho do seu pé, quando, costumeiramente ela tomava seu lanche no frio e rígido banco de madeira encostado no canto do corredor. Sem coragem de pegar a bola, nem teve tempo de pensar, quando uma colega veio buscar e a convidou para jogar também.
Ela dizia: “Chega de ficar aí sozinha, vem ficar com a gente.”
Ela insistiu por dias, investiu, e hoje as meninas são amigas! Aquela solidão deu lugar a risadas, conversas e convites para o cinema!
Sim!! Queria muito ver o rosto de uma menina como essa na rede e ao invés do nome da faculdade, haveria uma inscrição: “Parabéns, essa menina notou um colega que sofria sozinho e estendeu sua mão e sua amizade!”
Claro, a universidade, o trabalho, irão acontecer, eu reconheço a importância, a segurança de começar a desenhar o futuro, estudar, buscar seu caminho, mas para mim, temos que cultivar o extraordinário! Sim! Inclusive a escolha de uma carreira deve conter esse olhar para o mundo e o que nos motiva a SER!
Eu sugiro novas postagens com dizeres:
“Passou em letras na USP e sempre foi umbom amigo!”
“Passou em engenharia na Unicamp e era ótimo em futebol”
“Esse jovem ainda não se decidiu sobre qual carreira fará, mas em 10 anos foi um excelente estudante, membro do nosso grupo de teatro, espalhou leveza por onde passava. Nós estamos aqui para apoiá-lo em suas futuras escolhas!”
Como estão nossos jovens? Qual o impacto de tudo isso em suas vidas?
Quando aos 17 ou 18 anos a rotina e os amigos do tempo da escola são ceifados do dia a dia desses meninos e meninas, tudo muda e muitos perdem o chão, se sentem perdidos! Na escola em que estou, eu os vejo voltar nos anos posteriores para conversar, para rever pessoas, revisitar os lugares. É preciso haver esse espaço garantido ainda a eles, uma escuta cuidadosa de quem os acompanhou! Por isso é que acabamos vendo advogados que seriam brilhantes pianistas, ou mesmo um empresário que herdou o negócio da família, mas que teria sido um excelente médico. É preciso refletir sobre isso, desde sempre!
Como educadora, já tenho visto crianças pequenas mais ansiosas, com poucos recursos para lidar com suas emoções, relações e escolhas e tanta necessidade de se conhecer e se reconhecer em grupo e no mundo, achar seu espaço!
Viver é um dom!
Ser feliz então, chega a ser uma façanha!
Busquemos o que há de mais extraordinário, memorável!
E como dica, deixo esse livro fantástico do psicólogo social norte americano, Jonathan Haidt: