A culpa é da mãe

Fale a verdade: você já culpou alguma mãe por um comportamento ou hábito de uma criança?

Temos a certeza que a resposta foi sim e, acredite: existem muitas pessoas que as julgam todos os dias, o tempo todo, sem dó e nem piedade. 

Como diz o ditado: “Nasce uma mãe, nasce uma culpa”. Pesquisas mostram que a culpa atinge as mães quase que de forma universal, mais em mães solo do que em mães que dividem a criação com o parceiro debaixo do mesmo teto. 

“A maternidade solo vem se apresentando para muitas mulheres que desejam ser mães, mas, não desejam compartilhar suas vidas com um parceiro ou parceira. O desafio desta escolha requer não apenas maturidade emocional, mas também afetiva, autonomia financeira e, principalmente, auto conhecimento”, explica a psicanalista Andrea Rico.

Para ela, é preciso reconhecer que esta configuração pressupõe escolhas que foram pré definidas em vivências, nem sempre tão felizes . Experiências de dor, dúvida, abandono ou simplesmente na crença do: “Dou conta de tudo sozinha!”

Andrea explica que, à medida que o tempo avança, surge com ele desafios que nos trazem a reflexão invariável de questões sobre a nossa performance.

Ter a consciência e a maturidade de que o melhor foi feito dadas todas as condições da época é absolutamente determinante para que a culpa não se instaure.

“A culpa fala de um lugar em que o seu melhor não foi realizado. Muito cuidado! Essa fala pode não ser sua, talvez esteja presente em discursos que habitaram a sua infância. Avalie com cuidado e auto amor e lembre- se que a culpa e a solução de um conflito não habitam a mesma casa”, finaliza. 

A psicóloga Patrícia Morello enxerga a culpa como uma arma de destruição. 

“A culpabilidade materna é degradante para a sociedade e a mulher fica prejudicada, a família fica prejudicada, o casamento, a relação a dois e a estrutura familiar. É um ciclo vicioso e repetitivo”. 

De acordo com ela, a culpa é feminina, até pela questão do ato sexual. “O homem sempre pode e a mulher não. Algumas questões estão mudando, mas, ainda assim, a carga sobre a mulher é predominante. 

Então, essa culpa vem do ato sexual, da criança ser gerada no corpo da mulher, a questão do parto, mudanças hormonais, amamentação”, exemplifica. 

Aqui no consultório, tentamos trocar a palavra culpa por responsabilidade. A culpa está ligada ao erro, ao pecado. Então, ela vem carregada de julgamento, punição, vergonha. Isso acarreta a autoestima da mulher, que vai lá embaixo. O modelo social e cultural entrega a culpa para a mulher.

Ou seja, assumir culpas faz com que demoremos a caminhar, crescer no trabalho, aceitar o ganho financeiro, o crescimento. E eu acredito que a culpa é muito maior do que a relação da mulher com os filhos. É uma relação interior que a prejudica em todos os aspectos, se tornando uma arma de destruição”, completa.

Participaram desta matéria:

Andrea Rico

@andrea_rico.psi 

Patrícia Morello 

@patimorello 

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