Moradores da Estrada do Capuava, que liga os municípios de Embu Das Artes e Cotia, se unem em prol da segurança das casas, condomínios e comércios da região. O ‘Vizinhança Solidária’ abrange 8 quilômetros de distância e visa proteger os cidadãos de crimes como assaltos e sequestros, que têm se tornado frequentes no local, além de estabelecer um vínculo solidário entre vizinhos.
O projeto teve início em julho deste ano, pois a crescente criminalidade em Embu e Cotia amedrontava os residentes – apesar da maioria morar em condomínios fechados, eles não se sentiam seguros nas ruas de seu próprio bairro. Só em 2021, mais de 153 criminosos foram presos em flagrante na cidade, e muitos outros casos permanecem sem solução.
“Essa é uma iniciativa 100% dos moradores”, afirma Marco, um dos fundadores do Vizinhança nesta região. Junto à Viviane e outros 12 residentes insatisfeitos, e moradores de um residencial no Capuava, foram atrás e mobilizaram comerciantes locais, empresários e outros condomínios e moradores do bairro para apoio da ideia.
Hoje, o projeto soma mais de 500 pessoas – dentre elas, empresários e comerciantes da região, a presidente de um grande residencial que aderiu à iniciativa e o CONSEG, Conselho Municipal de Embu das Artes, responsável por estreitar as comunicações do Vizinhança Solidária e as polícias militar, civil e guarda municipal.
Tendo como seu principal objetivo a prevenção primária e o resgate do entrosamento e convivência social entre os vizinhos, a presidente do CONSEG de Embu das Artes , Halana, afirma que o projeto “é um instrumento de prevenção social e esse vínculo facilita o policiamento primário”. Veja entrevista com Viviane , uma das tutoras do Programa:
Como surgiu a ideia do Vizinhança Solidária? Quando começou o projeto?
Antes de falar em Vizinhança Solidária, é preciso destacar que nós nos mobilizamos para pensar em alternativas para reagir ao aumento de violência ao longo da estrada do Capuava, antes do Programa – conta Viviane, moradora de um condomínio em Embu das Artes. O grupo começou comigo e o Marco, um vizinho. Quando percebemos que não teríamos o apoio institucional da Administração, seguimos em frente sozinhos. Com o aumento da violência a nossa indignação aumentou e novos correligionários, naturalmente, se juntaram a nós. Somos todos moradores de um Residencial. Hoje, nós somos em 12 (doze). Temos matemático, engenheiros, advogados, donas de casa e um profissional da área de tecnologia. Passamos a nos reunir semanalmente para discutir ideias sobre segurança. Assim chegamos e fizemos a opção pelo Vizinhança Solidária que tem o amparo legal e se mostrou uma experiência vitoriosa em outros bairros. A Halana, da CONSEG Embu da Artes, foi fundamental ao apresentar o projeto para nós. O Projeto Vizinhança Solidária Capuava, começou efetivamente na primeira quinzena de Julho/2021. Não posso deixar de mencionar a Elizete que se juntou a nós. Ela também tem parte importante neste projeto.
No último dia 20 agosto, o dia do vizinho, o programa se tornou uma realidade. Ele compreende um trecho de 8 km e envolve dois municípios, experiência única de um programa que tem origem no governo do Estado de São Paulo. A geografia do Vizinhança Solidária Capuava, começa na cidade de Embu das Artes e atravessa a divisa para Cotia. Nós buscamos por segurança. Todos nós! Somos moradores, comerciantes, escolas e empresários. O desejo por segurança é indistinto. São para os trabalhadores que andam na estrada, os moradores dos Residenciais e casas, os comerciantes – todos nós, comenta Viviane.
Qual o principal papel dos moradores no Vizinhança Solidária? Que atividades vocês exercem?
Precisamos separar o papel dos condutores do processo e de todos os participantes do Programa. O nosso papel como condutores do processo foi de liderança, de planejamento, de organização junto com o CONSEG – de fazer de fato as coisas acontecerem. Apresentamos o projeto às empresas e aos comerciantes e buscamos fundos para tornar o programa uma realidade. Não manuseamos recursos. Tudo foi obtido por meio de doações. As placas, faixas e demais materiais. Fazemos o trabalho corpo a corpo, prospecção de colaboradores, e nos organizarmos para fazer com que o programa aumente diariamente.
Mas, nem tudo é um mar de rosas. Se não estivéssemos tão mobilizados e confiantes que valeria lutar por essa causa, teríamos desistido na primeira tentativa que fizermos ao nos reunir com um grupo composto por membros de diretorias de alguns condomínios da região.
Mas uma boa ideia não morre na primeira dificuldade. Um grande condomínio da região se alinhou a iniciativa. A dirigente deste condomínio se mostrou bastante pragmática e conseguiu ver valor em nossa iniciativa. Ela foi determinante para a adesão dos moradores do Residencial que dirige. Somos um grupo determinado que acredita na Causa, isto é – na segurança de nossos familiares e de todos que fazem parte do Capuava.
Esperamos que outros se juntem ao Projeto. Mas, sendo muito franca – não precisamos deles. Chegamos até aqui sem eles. Nós precisamos dos moradores, este sim. Eles são o nosso objetivo. Se um ou outro dirigente desejar participar da iniciativa como a dirigente que mencionei, melhor.
Em um mês atingimos a marca de mais de 590 participantes e vai aumentar mais. Fomos muito bem recebidos pelos comerciantes e outros moradores do perímetro do programa.
O principal papel dos participantes do Programa é cuidar do outro por meio da solidariedade e empatia. Você acredita que naquele caso do sequestro de uma mulher que estava com crianças que foi amplamente divulgado na mídia, enquanto a operação criminosa ocorria, apesar de estar evidente que alguma coisa errada estava acontecendo, os carros passavam e ninguém foi capaz de fazer algo – buzinar, chamar atenção de alguma forma. Eles, os criminosos ficaram em uma situação confortável para prosseguir. Será que se alguém buzinasse alto não teria assustado os criminosos? Não estamos sugerindo que as pessoas reajam com violência, mas que tenham empatia e não se calem.
É importante que o morador observe com atenção o que acontece ao seu redor – não a vida de seu vizinho, mas se existe uma situação de risco para relatar às autoridades com a maior rapidez que puder. Hoje já somos mais de 590 câmeras espalhadas ao longo da Capuava. Câmeras inteligentes.
Vocês já veem resultados do projeto? Qual foi o impacto na região?
Tudo é muito novo, mas, por certo já vemos alguns resultados. O primeiro deles é a adesão dos moradores. Saímos do nada para 590 em 30 dias. A cada dia aumenta o número de adesões.
O segundo resultado é o aumento das rondas no perímetro do Programa. Isso está muito claro. As blitzs, também aumentaram. Essas coisas trazem um efeito psicológico importante para todos.
À medida que o tempo passar iremos vivenciar uma iteração importante entre os policiais militares e os guardas do GCM de ambos os municípios com os comerciantes e moradores. Certamente isso trará um excelente retorno no médio e longo prazo. Hoje, a interação já existe entre nós condutores do processo com as autoridades policiais. Vocês não fazem ideia do papel que esses profissionais desenvolvem no cotidiano para a nossa segurança. Em muitas circunstâncias heróico.
Estamos em busca de nossos direitos. O programa não é de nenhuma pessoa. É da Polícia Militar, o veículo é o CONSEG e todos nós (moradores, comerciantes, escolas e empresários), somos o Vizinhança Solidária Capuava.
O ego de algumas poucas pessoas que subestimaram a nossa iniciativa não é maior e nem poderia ser do que a nossa Causa – a nossa segurança e daqueles que amamos – os nossos familiares.
Gostaríamos finalizar fazendo uma advertência àqueles que incomodam o nosso sossego. Não ficaremos mais aprisionados dentro de nossas casas e, finalmente dizer que o Programa é um movimento contínuo e legítimo de cidadania envolvendo moradores, a iniciativa privada e o Poder Público. Aproveitamos para convidar todos os moradores e comerciantes ao longo da Capuava a ser juntar à nossa Causa.
Juntos somos mais fortes!!!!!
O CONSEG
O CONSEG é o conselho comunitário de segurança, é uma entidade de apoio a polícia militar, civil e guarda municipal. É um canal de estreitamento das comunidades as autoridades policiais.
Coopera com as ações e estratégias integradas de segurança pública, que resultem na melhoria da qualidade de vida da população e dos órgãos de segurança.
O CONSEG articula junto à comunidade a prevenção e a solução de problemas ambientais e sociais. E identifica locais com maior necessidade de policiamento.
Colabora para a interação das unidades policiais, com vistas ao saneamento dos problemas comunitários.
O principal objeto é a prevenção primária, é resgatar o entrosamento entre vizinhos, estabelecer um vínculo solidário onde um passe a olhar pelo outro.
É um instrumento de prevenção social e esse vínculo facilita o policiamento primário.
A importância desse comportamento do grupo vizinhança solidária como ferramenta facilitadora da filosofia de Polícia Comunitária, em face da necessidade de interação dos integrantes das comunidade junto aos operadores do programa de Policiamento Comunitário, proporcionando o preenchimento das lacunas de dados, considerados como invisíveis, frente às informações estatísticas, porém, no dia a dia da população e indispensáveis para o planejamento do policiamento preventivo. A Prevenção Primária como instrumento de integração dos operadores da Polícia Comunitária contribui para a segurança pessoal do cidadão no contexto social, pois este deve ter a Segurança Pública como qualidade de vida e investir em prevenção é a melhor opção diante das ameaças urbanas.