TAINÁ MÜLLER: Uma voz para ser ouvida

Estudante de filosofia, a atriz acredita que sem debate não existe democracia

Ela é uma das eloquentes vozes do feminismo, sim, ela está ativa para falar e fazer refletir sobre este e outros assuntos como: pandemia, filosofia, meio ambiente, inteligência artificial, redes sociais, e claro, sobre a nova série de suspense da Netflix “Bom Dia, Verônica”, mas as aventuras da atriz não param por aí, com lançamento previsto para o final do ano, Tainá está escrevendo um livro sobre maternidade. “É um bate-papo meio filosófico, meio despretensioso, mas com momentos bastantes confessionais de troca”, explicou. Nesta entrevista exclusiva à revista TUDO, Tainá revela-se uma mulher segura e madura para fazer suas escolhas.

Revista Tudo: Estreando na série “Bom dia, Verônica” na plataforma de streaming, você interpreta uma escrivã que decide investigar um crime. Durante o processo de criação você chegou a visitar uma delegacia e conhecer um pouco a rotina de uma escrivã? Como foi o seu laboratório e quanto tempo você precisou para se preparar para este trabalho?

TM: Sim, fiz uma preparação de dois meses com Sergio Penna, que incluiu visita à delegacia de homicídios no Rio. Lá tive acesso à rotina de policiais de várias áreas, estudei casos de feminicídio para entender particularidades desse crime e acompanhei de perto o trabalho de uma escrivã. Tudo isso foi fundamental para a composição de Verônica. Mas fora isso também tive uma preparação emocional, de mergulhar na psicologia da personagem a partir do roteiro e uma preparação corporal, que envolvia lutas e aulas de tiro.

Aliás, a série aborda um gênero pouco explorado – suspense -, especialmente na televisão aberta, você acredita que as plataformas de streaming dão a oportunidade para os atores trabalharem outros temas mais interessantes e fora da caixinha?

Com certeza. O mercado audiovisual brasileiro está mudando muito rápido, está seguindo a tendência mundial de globalização dos conteúdos. Com isso é natural que a gente tenha uma diversidade maior de temáticas, de gêneros e que bom que estamos tendo essa oportunidade aqui no Brasil. “Bom dia, Verônica” me chamou a atenção desde o início justamente por ser muito diferente de tudo o que eu já tinha visto.

Em março o mundo inteiro foi pego de surpresa com uma pandemia fazendo com que a população ficasse em quarentena, isolados, e todos nós fomos afetados de alguma maneira, alguns mais outros menos, emocionalmente, financeiramente. Como o passar desses dias foram pra você e sua família?

Foi cheio de altos e baixos emocionais, nessa montanha-russa que virou 2020. É um período de medo e incerteza e acho que não teve uma pessoa no mundo que não se abalou minimamente com esse impacto. E não é só a pandemia, tem algo de muito estranho no ar na política, nas mudanças climáticas, no nosso comportamento. Mas sinceramente, apesar de sentir isso tudo, não me sinto confortável pra reclamar de nada nesse momento. Tenho consciência do meu privilégio e do quão duro está sendo pras pessoas em posições mais vulneráveis. Fico muito triste por ver tudo isso ao meu redor, tento ajudar como posso e vou levando um dia de cada vez.

Vimos que você participa de um grupo que discute o feminismo, um ação importante nos dias de hoje, mas como você enxerga o movimento feminista daqui uns 20 anos, por exemplo? Porque embora, tenhamos conquistado muita coisa, ainda falta muito a se fazer.

Há uns três anos eu comecei a estudar o feminismo mais profundamente. Devo muito às professoras Djamila Ribeiro e Márcia Tiburi, que davam aulas semanais para esse meu grupo sobre o assunto, de uma forma bem filosófica e acadêmica. Eu sinceramente não consigo imaginar como será o mundo daqui a vinte anos, mas nas minhas utopias crio um mundo muito mais feminino, em todos os sentidos. Estamos vivendo há séculos em um desequilíbrio energético entre feminino e o masculino. As duas forças precisam estar em harmonia e igualdade para prosperarmos sem a auto aniquilação. O patriarcado vem abafando o feminino do mundo há tanto tempo que hoje precisamos lutar pelos direitos mais básicos. Acredito que a toxidade que experimentamos nesse tempo vem dessa virilidade sem medida, que é predatória, sem cuidado e sem reflexão. Espero que os homens possam ser livres para reencontrar seu lado feminino de amparo, de nutrição e de delicadeza com os detalhes, com o sutil. E que as mulheres reencontrem toda a potência criadora que o feminino tem, sem o medo de violência, de opressão e de silenciamento. Sinto aos poucos que esse movimento já começou. Homens e mulheres estão ficando mais conscientes e o backlash disso é uma tentativa de segurar o irrefreável que é o caminho da evolução.

De volta à sala de aula você escolheu o curso de filosofia, e a filosofia é a busca por conhecimento, reflexão, questionamentos e sabedoria, mas em meio a tudo que está acontecendo (desmatamento, homofobia, preconceito, intolerância, patriotismo, ódio e etc.). Você consegue enxergar uma luz no fim do túnel para as futuras gerações?

Eu acredito que a luz no fim do túnel não vai brotar por mágica, ela é resultado de construção de pensamento, de retomarmos a capacidade de imaginar. Sim, penso que a convulsão social de hoje é uma crise de identidade originada pelo excesso de (des)informação que recebemos todos os dias através das telas. Nosso pensamento é influenciado por um algoritmo que reafirma o tempo todo nossos gostos e valores, criando bolhas de pensamento com muros intransponíveis. Ao mesmo tempo em que estamos todos conectados, estamos assistindo a morte do debate. E sem debate não existe democracia, não se chega em um lugar de interesse comum. Temos muito o que pensar, o que inventar e o que rever pra conseguirmos sair dessa teia de imobilidade que nos prende. Talvez a única coisa que nos une, independente dos valores e posição política, é que desejamos um mundo diferente desse de agora. Todos temos a sensação de que “algo não deu certo” e que precisamos consertar. Eu acredito que todas as pessoas hoje com comida na mesa tem o dever de botar a cabeça pra pensar em um novo mundo, que acomode a diversidade, que seja mais livre e justo, mais igualitário e, principalmente, mais ecológico. Como vamos fazer? Não faço a mínima ideia. Mas se não começarmos a debater e a pensar agora, não vai acontecer no futuro. Precisamos parar de cair na cilada de rediscutir ideias de 100 anos atrás e passar a olhar para frente. Precisamos enterrar o século XX para entrar definitivamente no XXI.

Você também está escalada para a série original “Mal Secreto” que está retomando as gravações aos poucos. Como tem sido a adaptação no trabalho em meio a pandemia? E aproveitando a oportunidade, como é a sua personagem, a personalidade dela, o comportamento, enfim…

Minha personagem é uma advogada criminalista que se envolve com o psiquiatra forense vivido pelo Sergio Guizé. Não posso dar spoliers (risos) mas espero em breve poder começar a gravar.

Recentemente o psicanalista Contardo Calligaris disse que as relações serão mais limpas e verdadeiras entre as pessoas, no período pós-pandemia. Qual a sua percepção sobre o mundo pós-pandemia? Você já percebe nas pessoas que te rodeiam essa mudança?

Eu acredito que ainda não temos como medir o impacto de toda essa mudança nas nossas relações, mas acredito que a iminência da morte sempre traz muito aprendizado. Eu pelo menos estou nesse caminho, de seguir alimentando relações de troca verdadeira, de honestidade e cada vez tenho menos paciência para máscaras sociais. Espero que essa seja uma tendência e que a gente possa cada vez mais viver na autenticidade.

Tainá gostaríamos de saber um pouco mais sobre o livro que você pretende escrever falando sobre maternidade. Por se tratar de um tema bastante específico, gostaríamos de entender qual a principal abordagem que você pretende dar, e também como surgiu a ideia, qual o nome do livro e se tem uma data de lançamento? Você está escrevendo sozinha?

Esse livro surgiu do convite da Companhia das Letras para eu escrever sobre o tema depois de um texto que publiquei no jornal “O Globo”. Ele é o resultado do diálogo com Marcos Piangers sobre a parentalidade nesse mundo em transformação, sobre como foi pra gente ser filho e agora como é ser mãe de menino e pai de meninas. É um bate-papo meio filosófico, meio despretensioso, mas com momentos bastante confessionais de troca. Pretendemos lançar até o fim do ano. Está atrasado por causa das demandas da pandemia, ou melhor, da própria parentalidade nesse momento sem escola e sem ajuda.

Você indicou um documentário: “The Social Dilemma” que fala sobre a inteligência artificial e o algoritmo. Mas eu queria entender como você faz para manter a saúde mental equilibrada e longe das redes sociais, num mundo onde postar cada vez mais tem se tornando essencial na vida de muitas pessoas. Como você controla esses anseios que chegam muitas vezes, sem a gente perceber?

Eu posso dizer que hoje, apesar de consciente do problema, estou totalmente imersa nele. E me pergunto se algum dia voltarei a ter meu cérebro e meu tempo de volta. Fomos capturados, nossas profissões e redes de contatos dependem disso agora, nossa geração inteira está nas redes. O “penso, logo existo”, virou “posto, logo existo”. Quem nunca experimentou a estranha sensação de estar vivendo algo muito especial e se achar na obrigação de “sair” do momento para postar, por que se não registrar ali nas redes parece que o momento nem existiu? Enfim, tenho a esperança de que a gente desperte e ao menos lute pela regulamentação dessa indústria trilionária de tecnologia, para que não sejamos dominados por completo por ela. Senão veremos a democracia dar espaço completo à supremacia da indústria e isso é assustador. Acredito que dá pra manobrar esse transatlântico e mudar essa rota, fortalecendo e reafirmando as instituições de controle. Existe muita sombra, mas existe muita luz também nas tecnologias. Hoje posso assistir a uma aula de um líder indígena diretamente de uma aldeia no Acre, algo que seria impossível há anos atrás. Então torço pelo caminho da ética. 

Você disse que quando a vacina sair a primeira coisa que fará é levar o seu filho para conhecer a aldeia Nova Esperança dos Yawanawas, é triste ver tudo que vem acontecendo com as florestas, com os animais e com os índios. Mas você acredita que haverá tempo para salvação já que os governantes não estão empenhados em resolver essas questões?

Tem que haver tempo. Mas temos que ser mais ativos, como sociedade civil para lutarmos pelo o que nos é de direito, que é um mundo habitável. E proteger os indígenas é também autoproteção, já que eles são os guardiões da floresta que sustenta o equilíbrio bioquímico para que a vida na Terra ainda seja possível. E não é só isso, eles guardam também um conhecimento ancestral de sobrevivência e de harmonia com o meio ambiente que precisamos urgente resgatar. A descolonização do nosso pensamento é fundamental para a nossa própria sobrevivência. Os indígenas nos ensinam a “pensar fora da caixa” e acho que hoje produzem o pensamento mais contemporâneo de todos, por isso sempre que posso ouço o que eles tem a dizer. Percebo que eles trazem uma outra lógica de existência, muito mais conectada à essência da vida, muito mais integrada com tudo o que existe e com a tal verdadeira “chave da felicidade” que o capitalismo tanto quer vender e não consegue, trazendo apenas a insaciabilidade dos desejos. Fico triste porque somos privilegiados no Brasil por ter toda essa riqueza de diversidade cultural no país, que quer e tem muito a nos ensinar, mas não damos valor. Não enxergamos ainda o nosso verdadeiro ouro, que é a potência dos nossos povos originários e sua forma de viver. Não podemos deixar que o capitalismo destrua nossas maiores riquezas. Precisamos agir e é já.

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