Fotos: Ita Mazzutti
Beleza: Marcelo Hicho
Stylist: André Do Val e Livia Oura
Nascida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Sheron Menezzes deu início a carreira de atriz aos 19 anos, sua primeira personagem na TV foi Júlia de “Esperança”, em 2002, de lá pra cá somam-se muitos personagens e histórias.
“Todos os personagens que vivi e tive a chance de representar são especiais para mim, tenho um carinho especial por todos. Mas sou imensamente grata à minha eterna Júlia, ela me abriu inúmeras portas”, diz. Celebrando um novo personagem, o ano de Sheron não poderia ter começado melhor, além de completar 20 anos de carreira, ela encara sua primeira protagonista em “Vai na Fé”, a intérprete de Sol está numa boa fase, mas não só profissional, mãe de Benjamin de 5 anos, ela equilibra com doçura família e trabalho, mas sem esquecer das pautas feministas que também são importantes para a evolução da sociedade.
“Nossa luta, a luta das mulheres, é de extrema importância para o futuro que queremos para nosso legado e para o presente que vivemos. Nosso posicionamento é para um mundo mais igualitário. E que nossas filhas tenham o direito de escolher o que querem pra elas, e como querem, ou seja, terem o direito de escolha, feminismo é isso”.
Nesta edição especial de aniversário, em entrevista exclusiva à TUDO, Sheron conta os desafios profissionais, em especial para viver Sol, na qual precisou aprimorar ainda mais a dança e o canto, os dilemas humanos em ter que agradar aos outros o tempo todo e de que forma passou a olhar o mundo pós-pandemia.
Sheron, você completou 20 anos de carreira, após esse período de amadurecimento profissional, como lida com suas escolhas? Você sente que tem mais liberdade para decidir o que fazer e o que não fazer?
Assim como em qualquer profissão, chega um momento em que começamos a refletir sobre o percurso que estamos seguindo para entender se realmente estamos fazendo escolhas que coincidem com nossos valores de vida. No meu atual momento de vida, não tenho do que reclamar. Todos os meus papéis foram escolhidos por mim e eles também me escolheram, a gente se escolhe (risos). E o que posso afirmar é que sou uma mulher cada vez mais feliz com todas as minhas conquistas. Sou muito feliz com as minhas escolhas e sempre vim no crescente de personagens, sempre busquei fazer de qualquer papel um personagem incrível.
Ao longo desses anos dedicados especialmente a dramaturgia, consegue mensurar um trabalho em especial que tenha tido um significado importante pra você, na sua vida pessoal?
São vinte anos de história e todos os personagens que vivi e tive a chance de representar são especiais para mim, tenho um carinho especial por todos. Mas sou imensamente grata à minha eterna Júlia, que foi minha personagem em “Esperança” lá em 2002 e que me abriu inúmeras portas.
As mulheres estão cada vez mais atuantes em várias áreas, se impondo mais, mas a luta é constante contra o sistema patriarcal. De que maneira você enxerga o movimento feminista?
Nossa luta, a luta das mulheres, é de extrema importância para o futuro que queremos para nosso legado e para o presente que vivemos. Nosso posicionamento é para um mundo mais igualitário. E que nossas filhas tenham o direito de escolher o que querem pra elas, e como querem, ou seja, terem o direito de escolha, feminismo é isso.
Um dos grandes dilemas que cerca a vida do ser humano em convívio com o outro é a questão de não desagradar. Mas ao mesmo tempo não corresponder às expectativas alheias e o que irão pensar sobre você é libertador. De que maneira você encara esses conflitos?
É normal criarmos expectativas sobre o outro ou determinadas situações, mas precisamos entender que nem sempre elas serão atingidas, e isso não é uma responsabilidade do outro, e sim nossa, pois estamos projetando algo em alguém e não podemos controlar isso. O que podemos controlar é a forma que lidamos quando elas não são cumpridas, para que isso não gere uma frustração em nós.
Em “Vai na Fé” você interpreta a Sol, uma mulher de fé, mãe, guerreira, vendedora de quentinhas no centro da cidade do Rio de Janeiro. Como foi a sua preparação que envolve dança e canto?
Foi muito gostoso porque dançar e cantar são coisas que eu amo fazer, mas morro de vergonha, mesmo! Eu venho de outro trabalho que coincidentemente precisei passar por essa etapa, outro ritmo, claro, mas tive que passar por cima da vergonha. Eu tenho me descoberto. Sempre tive desejos e vontades, mas eu não fazia por medo e agora eu preciso fazer porque é trabalho. Eu fico muito feliz quando o diretor diz que ficou ótimo. Meu Deus, eu consigo dançar na frente das pessoas.
Você diria que ter participado da “Dança dos Famosos” de alguma forma te ajudou a se soltar um pouco mais?
Eu diria que participar da “Dança Dos Famosos” me mostrou que eu podia ir além do que imaginava com o movimento do meu corpo. Eu já dançava! Dançava zouk. E participar desse quadro te dá oportunidade de você conhecer vários ritmos, apesar de ser uma coreografia, não vou falar que sai dançando de lá (risos), mas passei a entender o ritmo, o que me deixou preparada para as oportunidades que chegassem. Assim como tive uma outra personagem – uma dançarina de axé music – que dançava e cantava. E foi a partir daí que tive contato com a música 100%, sempre amei cantar, mas confesso que tinha vergonha de dançar e cantar. Essa vergonha eu perdi no “Dança Dos Famosos”, então, me ajudou a perder um pouco a timidez da dança, mas cantar não (risos). E a minha personagem é mais um desafio, porque preciso fazer isso por ela. A Sol não tem vergonha de dançar e cantar, ela ama isso.
Estamos vivendo um Brasil dividido, e sua personagem traz o tema esperança, a Sol é como milhões de brasileiros que sonham, lutam e correm atrás, muitas pessoas irão se identificar com ela. Qual a importância de falar sobre esse tema neste atual momento?
A personagem e a novela vem num momento muito importante. Precisamos voltar a ter fé. Fé pra acordar e tocar o dia, pra ir trabalhar, pra voltar pra casa, levar as crianças na escola, cada um com a sua fé. É gostoso ver a protagonista como uma mulher que tem seus problemas, mas levanta com um sorriso no rosto, trabalha, ajuda a mãe em casa, coloca roupa pra bater, pega ônibus, faz shows, faz tudo como muitas mulheres fazem na vida, no seu dia a dia. É importante neste momento as pessoas ligarem a televisão e se identificarem de maneira positiva e se verem na novela. Eu, como espectadora, assistiria e com certeza gostaria muito, porque a Sol é uma personagem bacana para se inspirar.
Você acredita que a novela tem a missão de trazer um pouco de esperança para o espectador pós-pandemia?
Sim, essa é a intenção, trazer ainda mais leveza e esperança. A pandemia nos ensinou a ter outro olhar sobre a vida, trouxe reflexão do que realmente importa e, para muitas pessoas, a religião foi um grande alicerce nesse período de incertezas, porque ela resgatou a fé que cada pessoa tem e acredita.
Após um período triste que foi a pandemia, aos poucos, estamos voltando ao normal. A partir deste acontecimento, de que maneira você passou a olhar a vida, a família e o trabalho? A sua relação com esses pilares mudou de alguma forma?
Desde que me tornei mãe e passei a ter um contato direto com a maternidade, mudei minha forma de enxergar as coisas e até mesmo como me enxergo. Minha família e meu filho são a minha prioridade, concílio as outras responsabilidades dentro desse novo mundo para que um, não interfira no outro. A pandemia me ajudou a perceber que é exatamente isso. Que no final do dia, o que eu mais quero é voltar para os braços dos meus familiares e ter a certeza de que estão seguros.
Já falamos que a Sol é inspirada em mulheres da vida real, mas quais serão os conflitos que ela irá enfrentar e de que maneira essa personagem humanizada será retratada quando tiver suas “incoerências”?
Ela vai enfrentar muitas questões por causa do seu passado e presente. Ela tem a chance de voltar a dançar aos 40 anos, uma oportunidade de realizar um sonho antigo que terminou ficando de lado, porque ela precisava cuidar da família. E com isso, ela vem sofrendo muitas críticas por ser uma mulher madura. Não existe idade para você começar a viver um sonho, e ela vai enfrentar esses dilemas dentro de casa, porque a família não está acostumada a vê-la ter seus próprios desejos. Ela voltar a dançar nesse momento vai desestabilizar a família.
Em quem você se inspirou para interpretá-la e de que maneira você espera que o público receba essa personagem?
Me inspirei nas mulheres brasileiras. Mulheres que conheci ao longo da minha vida, mulheres que eu tenho certeza que o público vai se identificar porque a Sol é uma mulher guerreira, que faz de tudo para ter uma família unida, faz de tudo para sustentar essa família, tem a sua fé, alegria de viver, uma mulher extremamente otimista, que dá vontade de estar por perto, sempre de bem com a vida, ou seja, não tem tempo ruim com a Sol, e quando tem, ela dá um jeito para ficar bom. Eu acredito que o público vai se identificar porque todo mundo tem uma Sol por perto.