Paulo Rocha: galã luso-brasileiro

Entrevista: Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal

Imagem: Fernanda Garcia

Paulo Jorge Rodrigues Rocha, 47, é natural de Setúbal, Portugal, mas se sente brasileiro raiz! Foi tão acolhido pelos colegas de trabalho e pelo público, que ter feito grandes amigos e constituído a família que tem hoje foram os grandes presentes dessa relação com a nossa terra. É filho adotivo do cenógrafo, figurinista e pintor José Costa Reis, foi criado pela avó.

Em 2011, Paulo se muda para o Brasil, para interpretar o português Guaracy da novela da Rede Globo, Fina Estampa. O convite foi feito pelo autor da novela, Aguinaldo Silva, que gostou de sua atuação na novela portuguesa Vingança. Daí pra frente, foram muitos convites. Aliás, o ator trabalhou tanto que somente depois de 10 anos atuando em solo brasileiro, retornou a Portugal para gravar a trama portuguesa “Amor, Amor”, e também o seriado medieval “Rainha Bastarda”.

Um curioso por medicina e bioenergia, Paulo Rocha dividiu um pouco da sua vida com a gente nessa entrevista. Adivinha? Amamos!

Boa leitura!

De volta ao horário nobre, você dá vida a Volney em “Mania de Você”. Viver vilões tem um gostinho diferente para o ator. Qual a sensação e como tem sentido a repercussão nas ruas?

Eu vou começar pelo final da pergunta. A repercussão nas ruas não podia ser melhor. Repito isso para meus colegas; desde “Fina Estampa” (2011), talvez eu não tenha sentido um retorno tão caloroso por parte do público assim no meu dia a dia. As pessoas gostam do personagem e, de uma forma mais abrangente, o que você me perguntou sobre o Volney e essa coisa dele ser vilão… O que as pessoas mais me falam é que elas não conseguem perceber se ele é vilão ou mocinho. Essa é uma pegada especial que esse personagem traz porque ele é, talvez, um anti-herói. Ele tem a jornada dele, e isso faz com que ele tenha algo escuro que a gente não entende. Mas, por outro lado, o Volney também tem uma componente fora do padrão do que seria um vilão. Ele acaba sendo protetor das mulheres de alguma forma. No caso da Fátima (Mariana Santos), ele cuida da irmã com um certo carinho e também demonstra um certo cuidado com a sobrinha dele. É cuidadoso com a personagem da Mércia (Adriana Esteves) Então, é um personagem que eu acho muito legal porque tem todos esses contrastes. Claro, ele faz algumas coisas que são fora do padrão de mocinho, né?! Mas eu acho que ele é difícil de se compreender.

Ele vive essa dualidade, pode-se assim dizer.

Todos nós somos vilões; todos nós temos essa dualidade em maior ou menor medida, mas também temos essa particularidade de nunca sermos perfeitos diante dos conceitos.

Ao olhar para os trabalhos que você já realizou, como você se conecta com os personagens que interpreta? Qual é o seu processo de imersão e construção para dar vida a um papel?

É interessante essa pergunta. Sabe, eu não tenho um método, não tenho uma forma definida. Acabo sempre trabalhando com uma pessoa que me acompanha e, junto a ela, às vezes, seguimos um processo mais estruturado; mas, outras vezes, temos a necessidade de fazer algo diferente. A base inicial é sempre o conteúdo, porque é nele que se reflete o universo que esse personagem vai ter. Os personagens só existem na realidade que é criada pelos autores, e aquilo que temos como referência para entender e construir esse cenário é o material. Então, às vezes, o processo varia, mas eu gosto de começar pelo texto. Acho que é através dele que conseguimos trazer vida ao personagem ou encontrar a visão de mundo dele. É o escrito que nos guia para descobrir e construir a essência do personagem. Seja o discurso na voz do protagonista ou o papel na fala dos outros personagens, o texto é sempre o ponto de partida na história. Depois, é sobre chegarmos o mais preparado possível e estarmos disponíveis para o processo. Eu acho que, cada vez mais, a nossa profissão exige, sobretudo em televisão, a capacidade de criar relações rápidas e de adaptação. Acredito que a capacidade de nos mantermos presentes e disponíveis para criar conexões com os colegas é, na minha opinião, a forma mais precisa de me preparar para o trabalho.

Você comentou sobre o texto em que procura seguir o que o autor está propondo para o personagem. Gosta de dar o seu toque ao papel?

Eu, por definição, gosto de me ater ao texto. Acho que a personalidade dos protagonistas é criada pelo autor; a forma de linguagem, o jeito de falar do personagem, é resultado de um processo criativo, intelectual e de estudo dedicado dos autores. Então, como regra geral, eu gosto de me manter o máximo possível fiel ao que está no texto. Às vezes, há autores que oferecem liberdade aos atores para fazer sua interpretação. Essa interpretação, no caso, é trazer um olhar próprio, uma perspectiva particular sobre os textos. E aí, quando isso é possível, acho que, depois de muita gravação e quando o papel já está muito dentro de nós, isso pode acontecer. Mas, de forma geral, eu gosto de encarar o trabalho do autor com fidelidade e respeito e acho que essa abordagem nos permite aproveitar ao máximo o que foi criado. Afinal, trata-se de um texto autoral.

Estevam Avelar/ Globo

No caso do Volney, você chegou a fazer alguma sugestão ou seguiu o texto à risca?

Eu gosto muito do roteiro do João Emanuel Carneiro. Era um trabalho que eu queria fazer há muito tempo, então estou apenas desfrutando.

Como você avalia sua trajetória, não apenas como ator, mas também como ser humano? Afinal, os personagens que você vive acabam contribuindo para essa construção, certo?

De fato, acho que existem personagens que chegam à sua vida em momentos específicos, promovendo mudanças em você. Obviamente, é muito difícil, mas possível. No entanto, nunca aconteceu comigo de não ser impactado ou mudado por algum papel que interpretei. Eu costumava dizer que, no final de cada trabalho, gosto de me reagrupar e perceber as mudanças que ele trouxe para mim. Seja em nível pessoal ou profissional, é interessante como os personagens oferecem a oportunidade de acessar partes de si mesmo que talvez não tivesse explorado antes. Ou, ainda, como a forma de um diretor filmar pode fazer com que você se familiarize com diferentes estilos de gravação. Acho que tudo isso faz parte de um processo contínuo de evolução. E evolução não significa necessariamente algo “melhor”, mas sim algo “mais”. E isso é fundamental. Acho que é uma das coisas engraçadas, e eu sempre comento com meus
amigos sobre isso. A probabilidade de conhecermos uma série de coisas novas sendo atores e tendo um pequeno olhar sobre as mais variadas profissões e os mais diversos problemas do ser humano é incrível. Se estivéssemos em uma vida talvez mais convencional, não teríamos essa oportunidade. Isso é muito legal.

Sua carreira se dividiu entre Portugal e Brasil. Como foi essa transição e como você lida com as diferenças culturais?

Olha, a mudança de Portugal para cá não poderia ter sido melhor. Cheguei trabalhando em uma novela que fez um enorme sucesso, e meu papel foi muito bem acolhido. Conheci minha parceira de vida, que está comigo até hoje, e, juntos, temos nosso filho. O Brasil me acolheu lindamente: me deu uma família que eu não tinha em Portugal e um grupo de amigos que também não tinha lá. E, apesar da universalidade dos personagens, por serem inseridos em contextos humanos, eles carregam particularidades culturais relacionadas ao cenário em que estão envolvidos. Mas acho que nossas culturas não são assim tão diferentes. Temos muitas coisas em comum, então acredito que me ajustei bem. Na verdade, não tive grandes problemas. Agora, a forma de interpretar e tudo mais… eu gosto
de estudar, e isso é algo que se desenvolve ao longo do tempo. Acredito que vamos melhorando como atores, assim como nos tornamos pessoas melhores. Conseguimos nos aprofundar mais no conhecimento do ser humano, o que nos torna capazes de ter um olhar mais abrangente sobre a essência das pessoas. Isso nos permite ter uma abordagem mais rica e um olhar mais apurado sobre a perspectiva dos papéis e o ambiente ao qual pertencem.

Você acredita que a arte tem o poder de transformar a sociedade? De que forma a atuação te ajudou a entender melhor o mundo e as pessoas ao seu redor?

A essência da minha profissão é conhecer o ser humano. É ter um olhar abrangente para as particularidades. O olhar atento para as nuances do ser humano é fascinante. Quanto mais eu desenvolvo a capacidade de observar e perceber as diferentes perspectivas e os diferentes sofrimentos, e consigo me colocar no lugar do outro, mais rica se torna a minha experiência de vida. E, consequentemente, melhor fica o meu trabalho. Então, acho que isso responde à sua pergunta.

Além da atuação, quais são suas outras paixões? Como você se diverte e relaxa nos seus momentos de folga, especialmente quando está ao lado da família?

Eu gosto de ficar com a minha família, de levar meu filho e passar tempo com ele. Gosto de estar em casa com eles, de fazer coisas simples. Também gosto de me cuidar, cuidar da alimentação, estar com os meus amigos, ler, e tenho um grande interesse por medicina e bioenergia. Isso é algo que me fascina, especialmente a relação energética entre nós e a capacidade que o corpo tem de se autocurar, em certa medida. Esses interesses acabam enriquecendo minha interpretação.

Você pode falar um pouco mais sobre tudo isso que está estudando? Quando você começou?

Eu comecei há um ano e meio; trata-se de um estudo de desenvolvimento da consciência humana. Esse estudo nos ajuda a entrar num processo refletivo sobre as nossas necessidades, as nossas falhas e como podemos, através de exercícios e aprendizado, tornar nossa experiência mais interessante.

Léo Rosario/ Globo

Você está morando no Rio de Janeiro, certo? Mas você já teve a chance de passear em São Paulo?

Eu fui a um lugar que gostei particularmente. Foi na Casa do Japão; uma amiga minha me levou lá. Comecei a gostar mais depois de um tempo porque tenho muitos amigos que trabalharam aqui no Rio e que eram de São Paulo. A cidade, durante um tempo, era apenas um lugar onde eu ia trabalhar… Com o passar do tempo, comecei a ir para São Paulo, ficar na casa de amigos e fazer programações com eles. A cidade foi se cobrindo de afetos para mim. Então, hoje em dia, tenho uma relação afetiva muito especial com São Paulo, por conta das experiências que vivi lá. A metrópole ganhou uma cor diferente para mim, por isso.

Quais são seus projetos? Tem algum sonho que ainda deseja realizar?

Eu tenho alguns projetos que já estão sendo conversados e que estão caminhando para dar certo. Assim que puder, eu falo mais. Mas, hoje, posso dizer que 2025 será um ano com iniciativas muito legais. Entre elas, a estreia de um seriado que fiz em Portugal no ano passado para a Amazon; a série se chama “Ninguém como Tu”.

Mais notícias

Você viu tudo

Não há posts

Abrir Chat
Precisa de Ajuda?
Como podemos ajudar?