Felipe Becari está ON!

Um dos vereadores mais votados em São Paulo, protetor animal fervoroso, bom moço e galã nato, ele cuida sozinho das redes sociais – são mais de 1,3 milhões de seguidores – mas não abre mão da vida offline

Por Mariana Marçal 

Bater um papo com Felipe Becari é estar preparada para escutar boas histórias. Com 33 anos e uma vasta vivência nas áreas em que se comprometeu atuar, o jovem político dividiu com a equipe da Tudo sonhos nada modestos, que vão da criação de um santuário que levará seu nome até uma eleição pleiteando o alto escalão da política brasileira. 

Filho único da Dona Vera e do Sr. Valdir, ela dona de casa e ele advogado, Becari recebeu o título de cidadão cotiano pelo mérito do trabalho realizado na cidade em prol dos animais em estado de vulnerabilidade. Ao todo, juntando todos os resgates já realizados, mais de 4 mil animais foram libertados de situações que vão de maus tratos à acidentes como aconteceu em Brumadinho, em 2019, após o rompimento da barragem. Na ocasião, ele colaborou com as equipes no resgate dos animais, o que rendeu manifestações de carinho por todo o Brasil.

Descendente de italianos e portugueses, adora falar alto, massa de tomate e um bom vinho; e, apesar disso, nunca visitou a Itália e nenhum outro país. “Nunca saí do Brasil”, conta. 

Formado em Educação Física com seis pós-graduações e delegado de polícia concursado – chegou a cursar educação física e direito ao mesmo tempo – os estudos sempre ocuparam grande parte do tempo de Becari. E foi galgando novos patamares profissionais que ele foi o quarto vereador mais votado do Brasil, com quase 100 mil votos.

Mas, para ele, a vida nunca foi um mar de rosas. Chegar até aqui custou longas e exaustivas horas de estudos e uma depressão que o fez perder 10 quilos: “O resgate animal diário me deixou sequelas. Enfrentei uma depressão e, em dado momento, me senti muito sozinho”, comenta ele, que abriu mão completamente da vida pessoal nos últimos anos para se dedicar à causa animal, aos resgates e à vida pública.

Um cara humilde e repleto de vontade de fazer desse mundo um lugar melhor para se viver.

Pode sonhar alto mesmo, Felipe.
Você merece!

Felipe Becari para Revista Tudo (Foto: Flavia Selman)

Conte o que o levou a defender os direitos dos animais. Influência de alguém da família?

Minha mãe sempre me passou muito essa sensibilidade com os animais. Ela foi criada em Olaria, então, sempre teve contato com diferentes espécies. Nós morávamos em apartamento pequeno e não tínhamos condição de ter um bicho de estimação. E é essa consciência que pego. Se não tem espaço ou condição financeira, não adote. Bom, depois fui morar sozinho e, então, tive meu primeiro animal em casa. Conforme fui adquirindo condição financeira, fui ajudando alguns cachorros de rua. 

E a sua relação com a educação física e com a polícia? Querer ser um delegado de polícia foi por interferência de alguém?

Tudo que fiz até hoje, inclusive entrar para a política, foi algo intrínseco, meu mesmo.
Fui atleta desde criança. Comecei a jogar bola aos seis anos, me profissionalizei e joguei nas categorias de base. Meu pai é advogado e sempre fui muito curioso e, mesmo não tendo vontade de advogar, fui estudar Direito. Eu cursava o último ano da faculdade de Educação Física de manhã, fazia estágio à tarde e Faculdade de Direito a noite. Aos finais de semana eu estudava oito, dez horas por dia. Prestei o concurso para a Polícia Civil e passei. E fui valer deste poder de polícia no resgate de animais sob maus tratos. Foi quando resolvi colocar um resgate na internet e os amigos começaram a compartilhar. Para sustentar os animais resgatados eu pedia dinheiro emprestado para amigos e fazia vaquinha no whatsapp. 

Foto: Flavia Selman

E como aconteceu a ideia de entrar para a vida pública? O que te motivou?

A causa animal foi a grande responsável por eu entrar na vida pública. Na verdade, as pessoas que acompanham meu trabalho me incentivaram. Eu me candidatei e fui o quarto vereador mais votado do Brasil, com 98 mil votos. 

Por enquanto, a política me trouxe visibilidade. Acredito que tive a possibilidade de ampliar a discussão em relação a causa. As pessoas não sabem a definição de maus tratos, por exemplo, e estamos conseguindo conversar mais sobre isso. Qual a discussão? Quais são as leis? Estamos ampliando o debate e o conceito do que é a causa animal. 

(Foto: arquivo pessoal)

Fale um pouco sobre os projetos de lei de sua autoria e o que eles propõe? 

Um dos atributos deste estatuto é qualificar a Guarda Civil para que os agentes saibam detectar os maus tratos que, muitas vezes, não estão explícitos. Ainda, o estatuto prevê a criação de um plantão veterinário para acompanhar os guardas nas denúncias. Isso vai envolver clínicas conveniadas e ONGs cadastradas. Vamos inaugurar mais um hospital veterinário público e estamos prevendo uma grande campanha de castração para este ano.

O trabalho legislativo é moroso. As leis não são aprovadas em um mês. Temos sete projetos de lei esperando por aprovação. A principal delas prevê a criação do estatuto da proteção animal em São Paulo. 

Outra atividade que vai acontecer é uma CPI de maus tratos com o intuito de criar novas leis e endurecer a pena. 

Você realiza um trabalho voluntário e independente como tantos outros protetores da causa animal. Quais os desafios desse trabalho?

A vida do protetor animal é dura e todos passam por um perrengue danado. Quando resgatamos um animal precisamos custear um tratamento e é aí que entram os pedidos de colaboração para que a sociedade também tome essa responsabilidade para si. 

Recebo cerca de 3 mil pedidos de ajuda por dia, sendo que 1/3 são para os próprios animais. Um exemplo é a pessoa não castrar, a cadela ficar prenha e a pessoa pedir para eu retirar os filhotes.  Precisamos ter a consciência de que se deve ter o mínimo de condição para criar um bichinho. 

Então, a culpa não é só do poder público, que está mudando e se responsabilizando mais com a causa animal, mesmo que a passos lentos. 

A responsabilidade precisa ser dividida! 

Nós, enquanto sociedade, precisamos conscientizar nossas crianças. 

Como sou um protetor independente, quando faço os resgates coloco em lar temporário pago. Hoje, tenho 106 sob a minha responsabilidade e gasto cerca de 35 mil reais por mês com eles. Mas, vale lembrar que o meu pai já entrou em dívidas por minha causa e eu já sujei meu nome por causa disso.

(Foto: Flavia Selman)

Esse trabalho deve ocupar grande parte do seu tempo. E como fica a vida pessoal?

Tudo tem suas batalhas. Tudo tem seu preço. Eu não virei policial do nada. Não virei vereador do nada. Eu abri mão de muita coisa. 

O resgate animal diário me deixou sequelas. Enfrentei uma depressão e, em dado momento, me senti muito sozinho. Hoje, com o trabalho legislativo, não consigo fazer resgates diários, mas no final do ano passado cheguei a fazer 6 resgates por semana. 

As pessoas que assistem pela internet não têm a dimensão da cor, do cheiro, da sujeira, do olhar do bicho, do quanto uma situação de resgate pode ser deprimente e eu absorvia isso diariamente. 

Entrei em córregos, peguei sarna. 

Lidei com animais mutilados, sem pele, com bichos e ensanguentados. 

Durante dois anos e meio eu abri mão de mim completamente. 

Abri mão de ter relacionamentos, vi muito pouco meus pais, perdi amizades; minha vida se condicionou a fazer resgate animal e plantão policial; ainda, resolvi entrar na vida política, tendo que lidar com ataques e fake news. 

Então, hoje, estou me resgatando e tenho uma equipe para me ajudar com as denúncias. 

Qual a sua relação com a região? Mora há quanto tempo por aqui? O que gosta de fazer e quais locais curte frequentar?

Momento spoiler: Vou montar o meu santuário aqui em Cotia e será o maior da América Latina. Vai levar o meu nome: Instituto Felipe Becari. Quero iniciar as obras em agosto e não teremos somente cachorros e gatos. Serão cavalos, bois, vacas, porcos, entre muitas outras espécies resgatas que serão reabilitadas e terão um novo lar. Pretendo, inclusive, oferecer um serviço de hotelaria, quadra poliesportiva e atividades com os bichos como equoterapia. Será um ponto turístico na cidade e um espaço para investirmos na educação de crianças e jovens em relação ao cuidado animal.

Eu tenho um carinho enorme por Cotia; a cidade é a minha casa. Inclusive, recebi o título de cidadão cotiano não só por ser morador, mas pelo trabalho que já fiz aqui, relacionado ao combate aos maus tratos. Fiz amizades aqui e tenho parcerias com clínicas da região. Adoro a calma de Cotia e o Parque Cemucam. 

(Foto: Leo Caldas)

Você se colocou à disposição para lutar pelos direitos de pessoas com doenças crônicas e degenerativas, como portadores de Parkinson, Alzheimer, esclerose, lúpus, entre outras. Como está seu trabalho referente a essas questões?

Temos conversado e estamos escutando demandas de grupos como os profissionais de enfermagem e portadores de doenças crônicas e degenerativas. Eu legislo pelos direitos dos animais e das pessoas também. Estou aprendendo muito e nossa equipe tenta entender, atender e dialogar com essas pessoas.

Vou montar meu santuário aqui em Cotia e será o maior da América Latina

Você possui centenas de fã clube na internet e é um cara super conectado. Como lida com as redes sociais, fake news, assédios cibernéticos?

Eu fiz um perfil no instagram e comecei a investir em conteúdo para ele em janeiro de 2019. Então, fui participar do resgate de animais em Brumadinho. Compartilhei algumas cenas e aconteceu o boom. Eu cuido sozinho das minhas redes sociais e é muito difícil administrar tudo isso. Eu faço pessoalmente cada postagem! 

Sem contar que eu não divido só conteúdo sobre a minha vida profissional. Gosto de compartilhar sobre a minha vida pessoal, sobre as coisas que gosto de fazer. 

E por meio das minhas redes consigo manter as minhas atividades como protetor e mostrar para as pessoas que sou um ser humano comum. 

Quais suas pretensões profissionais, políticas e relacionadas à causa animal?

Existe uma projeção para que eu me torne deputado federal, para atender a demandas de todo o Brasil, já que recebo pedidos de todas as parte do país. 

Hoje, faço leis para São Paulo e sou envolvido com diferentes bandeiras, e não somente com as relacionadas aos animais. 

No entanto, só quero subir mais um degrau na política após ter realizado minhas conquistas como vereador. Não quero me candidatar a deputado sem ter realizado o que me propus a fazer. 

Veja mais fotos e momentos de Becari:

Créditos: Flavia Selman (acima) e Leo Caldas (abaixo)

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