Eliane Giardini por inteira

Ela pensou em estudar Letras ou Filosofia, mas foi picada pelo bichinho da dramaturgia. Nascida em Sorocaba, no interior de São Paulo, Eliane, 71, conheceu o mundo dos palcos por meio do pai de uma amiga, ainda na infância. Ele fazia parte de um grupo amador de teatro e fazia questão de levar as duas meninas aos ensaios. Aos 17 anos, foi chamada para fazer parte do grupo de teatro, no qual conheceu Paulo Betti, com quem foi casada entre 1973 e 1997, com quem teve duas filhas. Participou do programa Grupo, supervisionado por Antonio Abujamra, na TV Tupi, em 1981, o que rendeu muitos convites a ela, ainda bem! Hoje, tem uma carreira consolidada no teatro e marcada por personagens inesquecíveis na televisão. Descendente de italianos e portugueses, Eliane tem uma ligação afetiva profunda com a sua família e, a partir de tantas memórias, essa atriz engrandece seu potencial artístico o que a deixa cada vez mais fascinante.

Eliane atuou em inúmeras tramas, na pele das mais diversas personagens, como Lucinda em “Desejo” (1990), Dona Patroa em “Renascer” (1993), Santinha em “A Indomada” (1997), Condessa de Gouvarinho em “Os Maias” (2001), Neuta em “América”, Dona Glória Santiago em “Capitu” (2008) e Muricy em “Avenida Brasil” (2012). Contudo, alguns papéis acabaram tornando-se marcantes por conta da preparação exigida. É o caso de Lola, de “Explode Coração”. “Ela inaugurou a minha trilogia. Lola era uma cigana. Depois, teve a Nazira em ‘O Clone’, que era uma marroquina. E a Indira [foto], de ‘Caminho das Índias’.

Marcos Serra Lima | Rede Globo

Por Ester Jacopetti

Eliane Giardini, você interpretou recentemente a marcante personagem Agatha em “Terra e Paixão” e agora já está dando vida à Berta em “Mania de Você”. Como é a sua preparação para transitar entre personalidades tão diferentes em um curto espaço de tempo?

Quando um trabalho termina, eu já começo a pensar no próximo, entende? Geralmente tenho uns quatro, cinco meses entre um e outro. Aí, quando recebo o novo texto, já começo a viajar na personagem, a procurar meu primeiro caminho. Sempre busco alguma memória, sentimento, algum outro personagem, um trecho de literatura… alguma coisa que eu tenha uma memória forte e que se conecte com a personagem. E aí eu começo a navegar, é como se fosse o meu farol.

Promoday Mania de Você – Eliane Giardini | Beatriz Damy

A mudança de visual de Agatha para Berta é realmente notável. Como você utiliza essa transformação física para te ajudar a construir e diferenciar essas duas personagens tão distintas?

Uma das coisas boas de começar um novo trabalho é justamente essa transformação. Além das ideias que já temos, contamos com profissionais incríveis na caracterização, que é um momento crucial na televisão. Diferente do teatro, na TV a caracterização é um momento muito forte de criação da personagem. Juntos com o maquiador, o cabeleireiro e o figurinista, vamos montando a personagem diante do espelho. O visual que se forma ali já diz muito sobre ela, né? O tipo de roupa, o penteado, tudo isso vai definindo a atmosfera da personagem. No início da novela, Berta tem uma vida muito tranquila. Ela é rica, sócia do Molina, que está construindo resorts em Angra, com o filho morando no exterior. Tudo parece perfeito em seu universo, até que o filho chega e uma tragédia acontece, mudando tudo radicalmente. Não podemos revelar muito sobre a trama, para não estragar a surpresa para o público; ela vai passar por uma grande transformação, digamos que uma verdadeira metamorfose. Uma experiência tão intensa como essa modifica qualquer pessoa, não é mesmo?

Eliane, a Berta parece ser uma personagem complexa e cheia de nuances. Como você descreveria a jornada emocional dela ao longo da novela, desde a vida tranquila, no início, até as reviravoltas que a transformam? E o que mais te encanta em interpretar essa personagem tão surpreendente?

Essa reviravolta modifica tudo, e eu acho isso maravilhoso. Gosto de estar preparada e de construir uma história para a personagem, mas também aprecio a possibilidade de deixar 50% do processo acontecer no momento, na improvisação. É aí que a mágica acontece! E a nossa família na trama é um espetáculo, é linda. A história é maravilhosa e surpreendente. Começamos em um cenário de calmaria, em Angra, e de repente uma tragédia acontece. E essa nora, que eu tinha aceitado, mas não completamente, se torna minha família. Farei de tudo para que ela fique, para que ela e meu neto, com quem tenho uma grande afinidade, permaneçam juntos. E tem ainda essa outra família que chega para trabalhar em nossa casa, com a intenção de nos dar um golpe, mas Berta reage de uma forma que me surpreendeu. Inclusive, eu acho uma personagem incrível. Estou amando interpretá-la, ela é tão livre, sabe? Ela enxerga a qualidade nas pessoas, e isso pode até transformá-las. Ela se diverte com eles, gosta deles. Berta é simplesmente incrível! Tenho certeza de que vai ser um sonho.

Promoday Mania de Você – Eliane Giardini |. Beatriz Damy

Suas personagens são todas muito intensas, e você tem uma energia incrível para dar vida a elas. De onde vem essa emoção?

Eu tenho uma família muito dramática. Minhas tias são memórias afetivas que guardo com carinho e tenho sempre a mão para rechear minhas personagens de humanidade.

Você comentou sobre seus familiares, você nasceu em Sorocaba e parte da sua família continua lá… sente saudades da sua terra natal?

Eu te digo que lugar em que nasci, minha casa, meu quintal com as mangueiras, está em todos os meus trabalhos. O horizonte que eu enxergava do alto das árvores, eram as montanhas planas que circundam Sorocaba. A minha rua dava para o cemitério da Saudade que eu conheço como a palma da minha mão, porque era lá que nós brincávamos o dia todo. Parece mórbido, mas o universo infantil é muito misterioso e mágico e nossa maior alegria era o dia após Finados, onde redistribuíamos as flores, tirando o que era excessivo em alguns túmulos e colocando em outros abandonados. Nosso exercício de solidariedade e igualdade. Naquele larguinho, aprendi a andar de bicicleta, caindo muito, me esfolando toda, mas me lembro perfeitamente da alegria brotando no meu peito quando o meu corpo conseguiu entender o equilíbrio. As crianças também eram muito presentes nas festas religiosas que a minha família italiana organizava. As novenas eram regadas a licor de figo preparado em casa. Até hoje eu sei fazer.

Léo Rosário | Rede Globo

Como a sua família, especialmente suas tias, influenciou a construção de suas personagens?

Minhas tias, um elenco de primeira que abastece todas as minhas personagens. As primeiras interações fora da família na escola, o primeiro namorado, o primeiro beijo, tudo se impregna em minha memória, e afeta os meus personagens. Sotaque caipira não serve para todos os papéis, é necessário trabalhar para ter uma prosódia que não remeta a uma região específica. Sou atriz, tenho que acolher tantos sotaques quanto sejam necessários. O gosto profundo que experimento cada vez que reúno minha família ao redor de uma mesa que emenda café da manhã, almoço e quase jantar atualizando fatos, recordando outros, enternecendo com as crianças novas, aí está a minha essência, meu sentido. Acredito que por isso sou quase sempre convocada para papéis de matriarca. Está escrito com todas as letras minha origem, minhas ruas, árvores e Rio Sorocaba atravessando o meu coração. Minha família ainda mora em Sorocaba. Sempre que possível vou até lá e me realimento junto à minha família. Sinto muito ter um trabalho tão distante, adoraria poder estar mais
perto.

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