Introdução: Mariana Marçal
Entrevista: Ester Jacopetti
A escorpiana de 27 anos, carioca da gema, sabe exatamente para que veio nesse mundão.
Mãe de pet, mãe de planta, adora decorar e cozinhar nas horas vagas, que agora, sendo protagonista, são poucas.
A primeira ídola da vida foi a Xuxa, mas a realização de um sonho veio ao contracenar com Fernanda Montenegro e Lima Duarte, dupla que a inspirou para que pudesse crescer e se solidificar como profissional.
Caçula de três irmãs, começou a atuar aos nove anos idade. O curso de artes cênicas teve início em 2014. A estreia na televisão foi como Celeste na minissérie Dois Irmãs, gravada em 2015 e exibida em 2017. Na trama, ela vive uma empregada doméstica que tem cenas quentes com Omar, papel de Cauã Reymond. A atriz namorou o ator e médico veterinário Pável Reymond entre 2016 e 2017. Giovana Cordeiro começou a namorar o ator Giuliano Laffayette em 2019.
Em “Fuzuê”, a atriz dá vida a Luna, uma mulher simples, moradora do Bairro de Fátima, no centro do Rio de Janeiro, que busca incansavelmente por pistas que desvendem o paradeiro de sua mãe, Maria Navalha (Olivia Araújo), ex-cantora da Lapa, que desapareceu misteriosamente. Ela não sabe, mas é irmã da empresária Preciosa (Marina Ruy Barbosa), que recebe como herança do pai delas, Cesar Montebello (Leopoldo Pacheco), documentos que indicam a localização de uma fortuna escondida.
“Fuzuê” tem sido um sucesso. Você acredita que a colaboração com outros atores é essencial para a evolução de um artista? Como isso tem se manifestado durante as gravações da novela?
A troca com outros atores é fundamental para a cena, para o desenvolvimento como artista. Nosso trabalho é um jogo e quando encontramos parceiros que querem jogar, tudo fica muito mais divertido e prazeroso. Em “Fuzuê”, tenho muitos encontros maravilhosos e parceiros de cena incríveis: Olivia Araújo, Nicolas Prates, Heslaine Vieira, Marina Ruy Barbosa, Micael… E esses encontros rendem cenas hilárias e bastidores muito divertidos. Sempre que compartilho, o público me dá um retorno muito positivo.
Com base no envolvimento intenso de Luna em todas as tramas, cenários e núcleos, como você percebe o desafio prático de interpretar um personagem com tal volume de cena, considerando as demandas de um papel protagonista?
É um mergulho muito intenso. Eu realmente me preparei para ficar imersa nesse desafio porque, de cara, já entendi que eu precisaria estar muito entregue ali. O desafio prático para mim é: mesmo com esse mergulho profundo, encontrar espaço para mim: para fazer as coisas que eu gosto, estar com as pessoas que eu amo e, assim, estar sempre bem fisicamente e emocionalmente, até para dar a Luna o meu melhor.
Com uma protagonista sua visibilidade perante o público cresce. De que maneira você tem lidado com o assédio nas ruas? É algo que dá para se acostumar ou você ainda acha estranho as pessoas te confundirem com a personagem?
Eu acho divertido, na verdade. As pessoas sempre me abordam de uma maneira muito respeitosa. No começo, falavam muito do sofrimento dela com Maria Navalha, que queriam que Luna solucionasse o mistério. Agora as pessoas estão torcendo pela dupla dela com Jefinho (risos). Aliás, estou amando esse desafio de cantar em cena. E as pessoas também se mostram muito divididas entre Luna e Jefinho e Luna e Miguel (risos).
Vamos voltar no tempo, dentre os atores com quem você já trabalhou ou ainda pretende trabalhar, existe algum que tenha servido de inspiração de alguma maneira para seguir na carreira de atriz? E para complementar, há algum ator ou atriz com quem você tenha o desejo de trabalhar?
Eu já tive o privilégio de dividir a cena com Fernanda Montenegro e Lima Duarte em “O Outro Lado do Paraíso”. Eles são dois artistas que guardam a história da TV, que têm um amor e respeito imensos pelo ofício. Observá-los em cena me deu ainda mais certeza de que quero seguir essa carreira, quero me empenhar nos meus personagens, quero estudar e me experimentar. Eu quis muito trabalhar com o Zé Celso, mas não tive oportunidade. Ele foi e é uma figura muito importante pra nossa arte. O Teatro Oficina é algo revolucionário e um legado e uma herança muito importante que ele nos deixou.
Ser protagonista é algo que exige e muito do artista, mas quando você tem os seus momentos de folga, de que maneira você gosta de aproveitá-los?
Gosto de organizar minha casa, de estar com minha família, conseguir malhar – isso me ajuda muito a manter o foco, a ter disposição. Gosto de ir à praia, fazer alguma atividade ao ar livre. E também na folga acabo tendo outros trabalhos. Aí o desafio é dosar para conseguir equilibrar tudo.
Em que aspectos o feminismo atual tem sido essencial para abordar e combater as nuances mais sutis de desigualdade de gênero que ainda persistem na sociedade contemporânea?
O feminismo é sempre importante. Acho que temos muitos avanços, mas ainda precisamos avançar muito mais. Quanto mais discutimos o papel social da mulher, mais vamos criando consciência sobre a importância de ocuparmos espaços de poder, de sermos lideranças comunitárias, políticas, de ganharmos o mesmo salário dos homens ocupando os mesmos cargos. Se a gente não debate, não questiona, não mudamos. E o feminismo nos ajuda nesse movimento.
Muitos dizem que o artista tem o poder de refletir e moldar a cultura. Como você acredita que o seu trabalho impacta o público? Como você vê o papel do artista na sociedade atualmente?
Acredito que a arte é uma janela: tanto para refletirmos sobre nós quanto para refletirmos sobre a sociedade. Como artista, levo isso a sério. Conversando sobre composição de personagem esses dias com o Clayton Nascimento, ele fez uma observação a respeito do meu trabalho que eu ainda não tinha traduzido dessa forma. Ele comentou “Isso que você faz é uma construção de carreira mesmo, importante ter essa clareza.” Quando comentei que sempre faço escolhas nas minhas personagens femininas de trazer força, independência e uma inteligência para resolver questão pessoais da vida da personagem. Tive isso muito claro pra mim na construção de Xaviera, em Mar do Sertão, e o caminho da personagem foi de um protagonismo da própria vida muito bonita, a trajetória dela terminou com uma realização profissional e não com um casamento, e era uma construção diária em conjunto com o texto de representar uma mulher com anseios atuais.
Na Luna a mesma coisa. Logo no início entendi os pontos onde eu podia ir mais fundo na construção de uma mulher forte, decidida, independente e vejo que o público percebe isso e torce pela personagem muito por conta desse temperamento. Como mulher e artista, me interessa contar histórias de mulheres com muitas possibilidades. A família é um desejo da Luna, mas ela é focada em resolver suas próprias questões antes de qualquer coisa, em se realizar com o que deseja para além do que é imposto socialmente.
Eu li uma entrevista sua em que você comentou que já sofreu machismo e que hoje percebeu que brigar o tempo todo não é a solução. Que caminho você escolheu trilhar para combater esse tipo de situação?
Depende da situação. Se você sente que a pessoa está aberta, dá para estabelecer um diálogo e fazê-la refletir. Vivemos em uma sociedade machista e nós mesmas, muitas vezes, reproduzimos pensamentos machistas. É uma reflexão diária para repensarmos nossas atitudes, mudarmos e também ajudarmos a sociedade a mudar, a melhorar.
O ano passou rápido, e estamos próximos das festas de final de ano. Você gosta de comemorar todas as festas ou prefere ficar mais quieta com a família em um lugar isolado? Conte-me como será a sua comemoração? Aliás, você tem muito a ser comemorado, né?
Esse está sendo um ano muito especial, de colheita farta. Ainda não sei como será a comemoração de fim de ano porque estamos gravando a novela. Mas se eu tiver tempo, quero aproveitar para descansar, para estar com as pessoas que eu amo e começar 2024 com o pé direito.