Introdução: Mariana Marçal
Entrevista: Ester Jacopetti
Imagens: Fabio Audi
Lindíssimo, taurino e pai da Sofia, Cauã Reymond, 41, é intenso, visceral e faz questão de contar em detalhes o seu mais novo desafio na televisão. Desafio esse que, como ele mesmo disse, correu em sua corrente sanguínea. Mas vale contar que esse é só um episódio da história de Cauã, que começou na labuta há mais de vinte anos, quando encarou a carreira de modelo em Paris, Milão e Nova Iorque. De volta ao Brasil, iniciou a carreira de ator. Desistiu do curso de psicologia e estreou na TV como o Mau Mau de Malhação.
“Um Lugar ao Sol” poderia ser só mais um trabalho na vida do galã, se não fosse o fato dele ter uma mãe que foi adotada. Tocado pela história do personagem na trama, o ator, que acumula inúmeros trabalhos na televisão e no cinema, diz que interpretar Renato/Christian tem sido desafiador, mas não só do ponto de vista técnico, mas emocional. “Foi muito contundente estar dentro dessa realidade”, relata. “Me trouxeram para esse universo com momentos muito duros pra mim, que me colocou pra pensar sobre a realidade da minha mãe. Ela foi adotada numa circunstância muito triste e perdeu a irmã por desnutrição”, conta Reymond que soube da história há pouco tempo pelo irmão, que faz seu dublê na trama. “Foi impactante porque a trajetória de um dos irmãos, em busca de possibilidades, me fez lembrar o caminho e a história da minha mãe”, desabafa. Durante a entrevista, o ator fala sobre as reflexões causadas pela atitude do personagem, e de que maneira essa história impactou a sua vida. Um bate-papo sincero e cheio de emoção.
Em “Um lugar ao Sol”, Cauã Reymond é o protagonista, na pele de dois irmãos gêmeos, separados quando tinham apenas 1 ano. Enquanto um, Renato, é adotado por uma família abastada e criado cheio de oportunidades que não aproveita, o outro, Christian, vai para um orfanato e só sai de lá aos 18 anos, repleto de sonhos, mas sem as ferramentas para realizá-los.
O tema da novela é sobre conquistar “Um Lugar ao Sol”. O que você acha justo para alcançar essa meta e o que você aconselharia para o seu personagem?
Que pergunta difícil (…). O que nós atores aprendemos muito cedo é não julgar os personagens que vamos interpretar. Preciso entender o que o Cauã tem de semelhança com o personagem, o que eu preciso criar; no caso da Lícia (Manzo – escritora), ela me deu a liberdade de trazer camadas para os meus personagens. Esses dois irmãos e, principalmente um deles, me gerou muita reflexão, ansiedade e angústia de ver como ele encarava cada situação. Eu vou usar o termo que a Lícia usa: ele é um anti-herói. Havia momentos que ele fazia coisas que me deixava perplexo e momentos em que eu sentia muita compaixão e empatia por ele. Não sei que conselho eu poderia dar, mas o texto propõe uma grande reflexão, principalmente neste momento que estamos vivendo no Brasil. Até onde você iria para conquistar um sonho? Até onde você se corromperia e se perderia nessa escolha? Eu gosto de pensar que eu fiz uma grande jornada com esse cara e amadureci muito, tanto no meu ofício como ator, como indivíduo.
Cauã, eu gostaria de entender um pouco sobre a criação dos personagens. De que maneira você se preparou para viver esses dois homens de personalidades diferentes? Em algum momento você conversou com outros atores que já interpretaram gêmeos em outras novelas?
Eu conversei bastante com gêmeos e com outros atores também. Eu já tinha feito “Dois Irmãos” (2017), uma série de dez capítulos, onde eu tive a sorte de fazer pela primeira vez irmãos gêmeos. É raro um ator receber esse desafio, duas vezes é mais raro ainda. Eu tenho algo a meu favor: o texto é muito preciso e apontava caminhos muito sólidos para esses dois irmãos e, eu construí com o Maurício essa saga, esse começo, essa primeira semana da novela, que eu gosto de acreditar que gravamos com muito cuidado. Trabalhei com uma coach, Andréa Cavalcanti. Eu me lembro que começamos a gravar em novembro, no ano retrasado, e trabalhei esses personagens com pelo menos três meses de antecedência, até mesmo pelo meu desejo de querer entregar um trabalho de qualidade e também por estar voltando às novelas após seis anos. Eu tinha um desafio enorme pela frente e não conseguia imaginar o tamanho deste desafio, da cumplicidade e do volume de trabalho. Me preparei bastante.
São dois personagens que vivem em mundos paralelos …
Eu repito que essa obra é completamente diferente do que eu já fiz. É muito impactante porque um dos irmãos é adotado e o outro não, então fica ali um vazio, uma mágoa, um desejo de ter a mesma oportunidade que o outro que foi adotado teve. A minha mãe foi adotada pela minha avó, mãe solteira; eu perdi a minha mãe há dois anos e meio e foi muito contundente pra mim, de certa forma, estar dentro dessa realidade.
Qual o principal diferencial em estrear uma novela totalmente gravada?
É muito bom porque eu sei exatamente quais os caminhos que o meu personagem vai ter. Nós tivemos vários desafios em relação à pandemia. Paramos duas vezes – o que trouxe um nível de dramaticidade maior para a nossa trama -; gosto de acreditar que trouxe camadas diferenciadas para o nosso processo e, ao mesmo tempo em que tivemos situações não favoráveis pela pandemia, gosto de acreditar também que fomos favorecidos porque acabamos gravando um número de sequências menor por dia. Deu a possibilidade de trabalharmos num ritmo menor. O que vivemos em alguns momentos é não ter alguns atores no set por conta da idade, de alguma delicadeza por uma questão de saúde, vivemos mudança no protocolo de gravação; isso fez com que não conseguíssemos ter uma cronologia muito grande na sequência de gravação, o que trouxe um cuidado maior para a equipe. Eu gostaria de dar um prêmio para as nossas continuístas que eram leões no set.
São alguns anos de experiência, mas o que você fez de mais inusitado nos bastidores desse projeto que nunca tinha feito anteriormente?
Eu me apaixonei pelo meu camareiro, Didi.
Quando começou o desafio, liguei para o Maurício e para a nossa gerente de produção e perguntei se podia ficar com o Didi para me acompanhar. Nunca numa novela eu tive alguém me acompanhando assim. Eu até achava uma bobeira, mas o Didi salvou a minha vida. Ele me lembrava a hora de beber água. Ele me chamava de jogador. “Jogador, está na hora do seu lanche. Jogador, eu vou preparar a sua cama pra você descansar um pouco. Jogador, você está com a garganta ruim, toma o seu própolis”. Pra mim foi inusitado porque eu nunca tive uma pessoa assim; construí uma relação potente e sincera. Ele foi o meu anjo da guarda. Brinco que sem as nossas continuístas e sem o Didi eu não teria conseguido terminar essa novela.
Cauã Reymond começou a carreira como modelo em NY. De volta ao Brasil, iniciou a carreira de ator. Desistiu do curso de psicologia e estreou na TV como o Mau Mau de Malhação. Na época, namorava com a também atriz Alinne Moraes, com quem ficou por 3 anos. Em 2007 conheceu Grazi Massafera, e ficou com ela por 6 anos. Juntos, tiveram Sofia. Atualmente é casado com a modelo e apresentadora Mariana Goldfarb
Você comentou sobre o seu irmão fazer o seu dublê na trama. Como foi essa interação entre vocês?
A Alinne Moraes me perguntou quem seria o meu dublê; eu disse que não sabia e que o Maurício estava fazendo uma pesquisa. Ela comentou sobre o meu irmão (…) fiquei com essa ideia na minha cabeça. Pável Reymond, apesar de não ter muita experiência, fez alguns cursos, alguns testes, e o Maurício não pensou duas vezes. Mesmo o meu irmão não tendo muita experiência na técnica de fazer televisão, ele estava no set com muito carinho, atenção, e ao mesmo tempo, me deparava com o meu irmão de verdade, o que foi muito potente. Minha mãe morreu em janeiro de 2019 e, no leito de morte, ela pediu que eu e o meu irmão ficássemos unidos pra sempre; de alguma forma a novela trouxe esse lugar sincero.
Desafios da carreira
Cauã Reymond protagonizou cenas quentes ao lado de Matheus Nachtergaele, no filme Piedade, lançado em 2019