Alexandre Nero: ator, cantor, músico e lindo

Introdução: Mariana Marçal
Entrevista: Ester Jacopetti
Imagens: Adriano Fagundes – Rede Globo

É sempre uma delícia mergulhar na correnteza que é a vida de Alexandre Nero, 52, porque ele é puro movimento. É músico profissional desde os 20 anos. É aquariano e filho do meio entre duas irmãs. Nasceu em Curitiba mas foi na metrópole paulistana que passou parte da infância e juventude. Perdeu os pais antes da vida adulta efetivamente chegar e, órfão, retornou para sua terra natal.

Se jogou na musicalidade da noite, morando em pensão e se misturando à cena local de artistas e boêmios. Comprou seu primeiro apartamento tocando na noite, o que ele já acredita ser um tremendo sucesso como profissional. É técnico em agronomia mas nunca soube muito bem o que fazer com esse diploma. Em entrevista, ele contou que a primeira vez que um boi foi em sua direção, ele saiu correndo.

Aos 19 anos foi fazer teatro para aumentar o seu repertório de palco. Sacada de mestre. Seu primeiro personagem na televisão foi em 2008. Em 2014, virou xodó nacional, interpretando o Comendador José Alfredo, na novela Império, da TV Globo. A explosão de sua popularidade mexeu com ele e, na época, precisou apelar para uns remedinhos pra conseguir lidar com a fama e com o assédio. É o marido da atriz e consultora Karen Brusttolin e pai dos garotões Noá e Inã.

Ele ama ser ator – inclusive coleciona alguns prêmios importantes pela atuação – mas a sua cartada de mestre sempre foi a música. Fez parte de grupos importantes no cenário musical de Curitiba.

Seu trabalho não se resume em atuar. Também é cantor, compositor, sonoplasta e, em novembro de 2012, lançou seu terceiro disco solo. Já acumula cerca de 50 trabalhos em espetáculos de música, cinema, teatro, TV e dança. Sempre conciliou as carreiras de ator e músico. Já foi vocalista da banda Maquinaíma, quando se apresentava em um bar de Curitiba.

Depois do sucesso na parceria entre você e a atriz Giovanna Antonelli em Salve Jorge (2012) você volta a interpretar Stenio, desta vez em Travessia. Eles terão um final feliz?

A felicidade não funciona o tempo inteiro em uma novela, porque precisamos dos conflitos. Por isso, a escolha de trazer esses personagens em um outro momento. A semente é a mesma, tem aquela coisa do gato e rato, tem o humor e o drama, o afeto e o carinho. Inteligentemente a Glória (Perez – escritora) começou a novela com os dois separados, mas a passagem de tempo é inevitável. O Stenio é um homem sagaz, um advogado competente e sedutor que agora vai transitar por diferentes cenários. Ainda assim, esse homem tem um outro lado. Ele era uma pessoa mais leve, mas agora tem a carga de dez anos a mais, com os dramas dos 45, 50 anos. Ele parece mais solitário. Mas, respondendo a sua pergunta, basicamente final feliz em novela não funciona (risos); quer dizer, o que não funciona é a felicidade o tempo inteiro, porque precisamos que tenham conflitos, e isso não só em novela, mas em filmes, séries, livros.

Dez anos depois da primeira parceria em Salve Jorge, a autora Glória Perez convida Nero e a atriz Giovanna Antonelli para reviverem o casal Helô e Stênio em seu novo trabalho no horário das nove, Travessia.

Você comentou sobre o Stenio transitar por outros cenários; isso quer dizer que ele terá um antagonismo na trama?

Em Salve Jorge o Stenio era um personagem bastante satélite, aparecia de vez em quando, basicamente em cima da relação da Helô; mas, em Travessia, ele aparece mais na trama central, participa mais do joguete, porém, sem saber muito bem quem está certo ou errado, mas participando como advogado. Ele é um homem inteligente, competente, leve, bem-humorado, vaidoso, é um homem sedutor; e quando digo sedutor, não necessariamente relacionado às mulheres, mas sedutor do mundo, do universo. Ele é um homem que seduz os homens, as mulheres, que conversa, sorri, seduz o cachorro, seduz todo mundo. Ele quer seduzir o juiz. Eu fico imaginando que este homem tem o outro lado também. Ele está sempre atrás da Helô; já aconteceu da Gloria mostrar que quem pediu o divórcio foi a Helô e eu imagino que tenha sido pela possessividade e ciúmes dela porque, se dependesse do Stenio, eles não teriam se divorciado. O Stenio é um homem muito solitário, no seu apartamento ele tem uma solidão profunda e, por isso, ele está sempre atrás da Helô. Eu e a Giovanna temos essa facilidade em transitar pelo humor e o drama, que é um parque de diversões para o espectador. Eu tenho talento para falar bobagens.

Interpretou o motorista Baltazar na novela “Fina estampa”, personagem que ganhou repercussão nacional por ser homofóbico e bater em sua esposa, interpretada por Dira Paes. Na época, a trama alertou milhares de mulheres que sofrem violência doméstica.

Eu tenho talento para falar bobagens.

Essa questão de trazer um personagem de outra novela para uma nova trama é inédito; você tem vontade de fazer outros personagens de sucesso, como por exemplo o Comendador, que marcou o público?

Eu tenho vontade de fazer vários personagens, menos o Comendador (risos). Não precisa porque todo mundo fala dele o tempo todo. Mas eu tenho vontade de fazer o Geraldo Bulhosa, de Os Filhos da Pátria (2017), por exemplo. Fico imaginando o Stenio, que era tão mais leve e agora tem um peso que são esses 10 anos. Ele começa a ver o seu tempo envelhecido, os dramas e a vida começam a ficar mais pesados, mais complexos. É curioso porque é um personagem rico, participa da trama mais séria, mais dramática da novela e isso enriquece o personagem. Estou curioso para ver onde a Glória vai colocá-lo. E claro, tem o humor. A Giovanna falou sobre os cursos que ela fez de armas pesadas e eu fico justamente pensando que o Stenio é o contrário (risos), porque ele morre de medo de arma, tem pavor; é o oposto da Helô que é o homem da relação; ele não quer violência, não quer brigar, é um advogado, um cara burocrático que resolve tudo pela oratória, na palavra. Ele é um homem mais experiente, mais calmo. Espero que eles fiquem juntos, mas não necessariamente casados. Esse é o grande barato, eles ficarem tentando se achar.

Observando as últimas novelas, elas têm saído um pouco do eixo Rio-São Paulo e Travessia começa no Maranhão, mostrando suas belezas; Pantanal também seguiu nesse ritmo e Mar do Sertão tem sido uma novela com sotaques originais por parte dos atores que fazem a dramaturgia…

O Brasil é um continente maravilhoso, nós temos muito o que conhecer. Eu conheço muito pouco do Rio de Janeiro, quem dirá o Brasil, o nordeste, mas também temos poucas novelas do sul, de onde eu venho. O nosso país tem que ser explorado ao máximo culturalmente falando. Nós temos que trazer atores de vários lugares; é importante a diversificação porque enriquece a Rede Globo, a dramaturgia, enriquece nós mesmos que aprendemos com eles; mas não sou desse purismo, eu acho que o ator é esse cara que tem que ficar interpretando vários personagens, inclusive temos que dar personagens para os nordestinos, os cariocas e os paulistas também.

A novela começa falando sobre fake news e vivemos numa era em que uma mentira se alastra facilmente; quais são os cuidados que você toma para não terminar disseminando uma mentira que parece verdade?

Fake news é um terror, é perigoso. Vemos notícias falsas há muito tempo, isso não é novidade. A questão é a verbalização e a potência que é muito maior. Eu procuro investigar, faço as minhas pesquisas, procuro por fontes sérias. Nós precisamos pagar veículos de comunicação relevantes para nos precavermos. A fake news é terrível porque pode abalar não só as pessoas, mas nações como já aconteceu nos Estados Unidos e o Brasil está passando por isso agora. Nós passamos por uma mudança brutal e descobrimos um Brasil que até então achávamos que não existia. Estamos descobrindo coisas que eu não gostaria de ter descoberto, mas agora temos que lidar com isso.

Fake news é um terror, é perigoso.

Ainda sobre fake news: você acredita que a novela está passando essa mensagem de que todos nós podemos ser enganados?

Eu acho que não. Não podemos ter essa pretensão, primeiro porque é muito rápido e temos pouco tempo, não vai ser assim que iremos conseguir educar o povo em relação a fake news. Educar o povo leva mais tempo, anúncio, publicidade, atenção para que elas entendam o que é realmente a internet e o que pode acontecer nos caminhos para evitar a fake news. A novela não tem essa função. A ideia do nosso trabalho como artista é levantar essas questões, mas as respostas quem tem que dar é a sociedade.

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