Entrevista: Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal
Imagens: divulgação/Globo, João Miguel Junior
Ela prefere não carregar rótulos. Já teve namoradas e namorados. É feminista e defensora do meio-ambiente. Fala sobre sustentabilidade e natureza nas suas redes sociais. Natural de Santo André, taurina, filha de Fúlvio e Valéria e irmã caçula de Marcelo e Isabela, Alanis Guillen está no auge de sua carreira – com apenas 24 aninhos recém completados – vivendo a personagem visceral Juma Marruá, no remake global Pantanal.
Não só isso, está interpretando ao lado de feras da dramaturgia; Jesuíta Barbosa, com quem faz o par romântico mais badalado da atualidade, rasga elogios para a atriz sempre que tem oportunidade. Ah, e o Brasil inteiro aposta que, na vida real, tem romance novo por aí.
Apesar da pouca idade, ela que recebeu este nome em homenagem à cantora canadense Alanis Morissete, começou ainda criança a galgar a sua trajetória como atriz.
Foram comerciais de marcas famosas como Nestlé, Marisa, Nextel e Mercado Livre até a formação na Escola Nacional de Teatro que a fizeram entrar de cabeça no mundo da arte. Chegou a morar em São Paulo e no Rio de Janeiro para a realização de testes e peças teatrais. E estudou, inclusive, na Escola de Atores Wolf Maya, no Rio de Janeiro.
Sua preparação para o papel envolveu estudo arquetípico, mudança de hábitos – Alanis deixou de ser vegetariana -, começou a praticar Kung Fu, aulas de equitação, aulas de prosódia (características da emissão dos sons da fala, como o acento e a entoação) e por aí vai.
Bastou três testes para que fosse a escolhida para protagonizar a releitura do sucesso de Benedito Ruy Barbosa.
O que temos a dizer sobre ela: MARAVILHOSA!
O pai é engenheiro e também apaixonado por música. A mãe trabalhava como arquiteta – especializada na arquitetura contemporânea. Pai e mãe sempre incentivaram a carreira da filha.
Tímida e manhosa quando criança. Foi perdendo a timidez por conta do teatro, mas ainda é um pouco assim e, segundo a mãe, fica vermelha quando reconhecida.
Ela estreou na TV em “Malhação – Toda Forma de Amar” também como a protagonista, à época, a mocinha Rita.
Conte-nos sobre o desafio de viver a Juma. De que maneira você conseguiu encontrar o tom certo para interpretar esse personagem?
Começou desde o teste, quando recebi a Juma; fui investigar este universo pantaneiro e, investigando o que foi o Pantanal daquela época, encontrei essa personagem no meu corpo, na minha voz, no meu gesto…
Ir até o Pantanal foi essencial para descobrir mais sobre ela e sobre este universo. Eu tento me manter fiel ao personagem, ao trabalho. Eu sei que o alcance será maior, já está sendo, e é gratificante poder alcançar tantas pessoas com mais uma história e ver a empolgação do público em reconhecer essa personagem, mas agora por um outro olhar.
“Encontrei essa personagem no meu corpo, na minha voz, no meu gesto…”
A Juma é um papel difícil de se conduzir ao longo da trama. Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou para interpretar esse personagem? Nos bastidores você postou uma foto segurando uma cobra, como foi essa interação com os animais?
Minha maior dificuldade é me manter cada dia mais fiel a ela, a mim, aos meus sentimentos, ao que ela provoca, porque não posso ignorar que esta reconstrução remete às pessoas a recordarem e, consequentemente, fazerem comparações. Eu tento fugir deste comparativo e procuro ouvir o meu caminho, para onde ele quer me levar, o que a Juma que me contar (…) Para interpretá-la eu pratiquei kung fu como forma de adquirir um registro corporal de maior tônus, força, agilidade e prontidão. Na equitação aprendi a montar, andar e galopar no cavalo, coisa que eu nunca tinha feito. Essas foram algumas das práticas que usei para compor o corpo da Juma. Os desafios são esses, colocar o meu corpo nesse novo jogo, que exige uma outra energia e que tem outros impulsos e provocações. Essa foto foi tirada num intervalo entre cenas onde eu pedi aos responsáveis pela cobra para tocá-la, mas, antes de o fazer, fiquei um tempo perto dela, sentindo, observando, me conectando e pedindo permissão. Quando a colocaram em mim, pedi para se afastarem para eu sentir ela inteira. Foi mágico.
Você e o Jesuíta estão vivendo um dos casais mais emblemáticos da televisão brasileira. Esses personagens são complexos sozinhos, mas eu gostaria de entender essa conexão que vocês criaram, essa construção, essa intimidade dos dois.
Nós fomos encontrando juntos essa relação, uma coisa que prende é esse amor genuíno; eles se amam genuinamente, se descobrem um no outro.
Pantanal é um lugar maravilhoso, com suas belezas naturais, animais, paisagens, tudo de bom que um lugar cercado pela natureza pode oferecer. Como foi essa experiência, já que essa foi a primeira vez que você visitou o lugar?
“Eu fui com uma ideia sobre o Pantanal e voltei surpreendida…”
É um lugar ambíguo. De uma beleza selvagem e exuberante, mas também de uma realidade muito dura. Vimos muitas queimadas acontecendo nesse intervalo de tempo em que ficamos lá; vimos os resultados da última grande queimada que aconteceu em 2020, onde morreram milhares de animais. Vi muitos bichos migrando em busca de água; levei um choque de realidade ao ver aquelas terras feitas de pasto para o gado e tudo o que isso envolve. Mas, ao mesmo tempo, ver como a natureza, como esse organismo vivo com seus ciclos e suas formas de autopreservação é lindo demais. É aquela frase: ‘a natureza não precisa de nós, mas nós precisamos da natureza’. Me espanto em ver nossa sociedade empolgada com os avanços tecnológicos, mas fugindo da sua comunhão com a natureza. Para onde queremos ir?
Em relação a primeira versão, você usou como um guia ou preferiu não ter contato para não se deixar influenciar?
Era preciso entender todo esse universo, esse período no qual eu não era nem nascida e não fazia ideia desta novela, de nada. Então, foi inevitável pesquisar do que se tratava. Mas, quando fomos mergulhar para realizar este trabalho nos dias de hoje, fizemos uma busca muito pessoal, para entender o nosso corpo hoje. São atores e portas diferentes, é uma época, um Brasil, um Pantanal diferente de 30 anos atrás, muita coisa mudou, então, não se manter preso ao que foi é um caminho de maior encontro com a verdade, de nos mantermos fiéis a própria trama e encontrar o sentido dela. Pantanal é uma história atemporal; voltamos no tempo para entender o que foi, mas se desprendendo desse passado para encontrar a nossa gente no aqui agora, nesse novo tempo.
Na dramaturgia quais são os nomes que te influenciaram e de que maneira você pensa no seu futuro como atriz? Consegue vislumbrar algo em projetos que envolvam cinema, teatro ou televisão?
“Me inspiro vendo a vida acontecer, nas pessoas que cruzo, colegas de trabalho, amigos, professores…”
Neste momento estou vivendo um trabalho que me permite explorar e me investigar de uma forma maravilhosa nesse ofício. Quero explorar mais o cinema, o teatro, séries, artes plásticas. Deslumbro isso, um futuro que me envolva ativamente nas artes.
Alanis, há pouco tempo você deu uma entrevista para o Fantástico falando sobre relacionamentos. De que maneira você enxerga o feminismo nos dias atuais e como o movimento influencia a sua vida?
Eu vejo o feminismo cada vez mais ativo, não só nos diálogos entre nós mulheres, mas tenho visto muito na ação. Não estamos mais tolerando comportamentos e situações dessa cultura machista. Apesar de viver ainda muito rodeada por diversas situações das mais bem articuladas às mais veladas, tem sido um exercício diário me libertar também dessa cultura.
Nos últimos anos, muitos artistas se manifestaram politicamente através das redes sociais. Como você analisa o momento atual no Brasil, especialmente quando pensamos em cultura?
Eu tento estar sempre atenta ao meu redor, busco diálogos e, principalmente, a escuta. Observo e exercito minhas ações, ideias e ideais. Atualmente, temos um governo que enxerga a cultura como uma ameaça e portanto a sufoca. Um povo sem cultura não existe. Estamos tentando resistir e (re)existir em meio a essa tentativa de sufocamento. Esse ano vamos conseguir mudar o rumo dessas águas e voltar a ter esperanças através do nosso voto. Eu acredito.
Nas redes sociais você posta pouco. É uma forma que você encontrou para manter a sua vida privada longe dos holofotes e evitar os haters?
Na verdade, não penso muito sobre ela, apesar de usar muito. Talvez eu ainda esteja encontrando minha forma de me comunicar ali mais ativamente.