Por Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal
Fotos: Jorge Bispo
Stylist: Marlon Portugal
Make: Auri Mota
Se você encontrar Sergio Guizé (42) por aí, com um pincel na mão e respirando todo tipo de arte, não se impressione. O cara pinta, canta, compõe, interpreta é multi-instrumentista e cativa nosso coração cada vez que estreia como protagonista em uma dramaturgia.
Ah, e além de ser gato pra caramba, tem bom gosto. É fã de Ramones, David Bowie, Bob Dylan, Guns n’ Roses e Belchior. E completa a lista com Van Gogh e Basquiat. Isso é TUDO o que descobrimos sobre ele. Sergio é super discreto com a vida pessoal e, hoje, vive isolado com a esposa Bianca Bin em um sítio, no interior de São Paulo, imerso na Natureza. Aliás, vale lembrar que foi ao lado dela que ele deixou os telespectadores vidrados na TV com sua interpretação do Gael, em 2017, na novela O Outro Lado do Paraíso, um homem perturbado por traumas da infância que agredia suas namoradas. Na época, abriu-se uma discussão sólida em torno de relacionamentos abusivos, dentre outros assuntos que norteiam o tema.
Taurino, é formado pela Escola Livre de Teatro de Santo André e pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Estreou no Teatro em 1998. Na televisão estreou em 2004, na novela “Da Cor do Pecado”, e possui uma extensa e rica carreira nas telinhas, nas telonas e nos palcos. Coleciona troféus de “melhor ator”, o que legitima que ele é bom mesmo no que faz. Em 2002, formou a banda de punk rock Tio Chê.
Pai de pets, em registros nas redes sociais ele sempre demonstra o amor por Gustavo, seu filho de quatro patas desde 2010, irmãozinho de África e Marola. Uma surra de fofura!
Sergio achou que fosse ficar quietinho e se dedicar a outros projetos. Mas a vida veio – ou melhor, a Globo veio – e virou Guizé de cabeça para baixo. Agora, é curtir esse talento todo diariamente. Conversamos com ele sobre a novela “Mar do Sertão” e ficamos sabendo de várias coisas legais sobre a construção do seu personagem.
É spoiler que vocês querem? É spoiler que terão!
As gravações começaram de forma externa por Pernambuco e Alagoas. O que acrescentou quando começaram as gravações no estúdio e o que vocês trouxeram dessas externas?
Foi muito importante viver durante duas semanas ali; descobri um pouco sobre a região, o semiárido, um ambiente que eu não estava acostumado, e os personagens estavam nascendo ali. Eu estava descobrindo como era a comunicação entre os dois personagens, Zé Paulino e Tertulinho (Renato Góes). Deu um clima. Não nos conhecíamos, mas começou de um jeito muito especial, os personagens começaram a ganhar vida e as cores do lugar.
O clima ajudou muito na composição e também na trama.
O que mais te encanta em ‘Mar do Sertão’?
O que mais me encanta são os questionamentos que o Mario Teixeira propõe com o texto dele. Ao mesmo tempo em que estamos contando uma história de amor, temos temas como a preservação do meio ambiente, a concentração de poder na mão de poucos, a força feminina, entre outros. É bonito ver a trajetória de alguns personagens fazendo de tudo para salvar aquela terra que é tão importante para eles.
“Temos temas como a preservação do meio ambiente, a concentração de poder na mão de poucos, a força feminina” (Guizé sobre a novela Mar do Sertão)
A novela tem todo um ar de fábula, é uma história de amor de encher o coração. O que enche o coração do Zé Paulino, o seu personagem?
É o amor incondicional que ele sente pela Candoca (Isadora Cruz). O Zé Paulino vai embora por dez anos para tentar se recuperar do baque, que é vê-la casada com o Tertulinho. Ele volta, mas continua sendo atravessado por este amor, independente do que ela tenha feito, com quem ela tenha ficado, ele vai continuar amando essa mulher. Ele apoia os projetos de Candoca, uma mulher forte que quer estudar e ser independente. Ele acha isso o máximo.
Eu gostaria que você se aprofundasse sobre este amor que os personagens sentem um pelo outro; como você definiria esse amor? Como foi essa troca entre você e a Isadora?
Eu pensei nessa fase como uma grande virada do personagem; pensei na angústia de Graciliano Ramos, que foi preso durante a ditadura Vargas, e o que ele escreveu sobre sentir essa angústia, a falta de vontade de continuar vivendo, de não ter um por quê. Quando o meu personagem retorna, ele tenta ser uma pessoa importante, justamente para se segurar em alguma coisa, porque a vida toda era pautada na relação que ele tinha com a Candoca, mas, ao mesmo tempo que ela traz essa angústia, essa figura feminina traz o frescor de vida para ele novamente. É como se ele se apaixonasse de novo e tivesse mais motivos para viver a partir deste reencontro. A primeira fase da novela é solar, inocente, apaixonante, e tem esse momento que eu acho que, a partir daí, é como se ele estivesse tendo que reaprender a viver depois do coma.
O grande coma é o casamento do Tertulinho com a Candoca.
De que maneira você se preparou para fazer este personagem? Como é o perfil deste homem e as circunstâncias que acontecem na vida dela? Ele volta sendo um vilão?
Eu tive pouco tempo para preparação. Quando comecei, faltava apenas um mês para iniciarmos as gravações. Encontrei com o Allan (Fiterman – diretor) e a Isadora, li os 16 capítulos em dois dias e fiquei encantado. Eu estava em casa achando que faria outro projeto no teatro e me apareceu esse presente. Não é o ator que escolhe o personagem, é o personagem que escolhe o ator. Foi muito rápido e intenso. Além de me apaixonar pelo texto – por tratar de temas atuais e necessários como o meio ambiente e a corrupção – eu me deparei com um elenco maravilhoso.
O mais bacana de fazer novela – porque geralmente no teatro você trabalha com seus amigos – é que na novela vem gente de tudo que é lugar, de várias escolas de teatro. Estou apaixonado. A construção vem mesmo a partir dos outros atores. A Isadora vem com uma energia incrível, que não é do meio de televisão, mas agora é; dois meses e ela domina a coisa toda. Até fevereiro vou estar nessa preparação, descobrindo e levando presentes para esse personagem. O Zé Paulino está tomando conta da minha vida. Espero continuar jogando com o elenco todo, até o final da trama, e que a gente não perca essa poesia.
Como você define o perfil do Zé Paulino?
Ele é um homem trabalhador, corajoso, honesto, de muito bom caráter e vive para o trabalho e para a noiva. Ele trabalha como vaqueiro na fazenda Palmeiral e tem muita gratidão pelo patrão, o coronel Tertúlio (José de Abreu). É completamente apaixonado pela noiva, Candoca, mas seu castelo começa a ruir quando o Tertulinho, o filho do coronel, volta da capital para Canta Pedra e começa a dar em cima da Candoca. Tertulinho aparece cobiçando, sendo um mau caráter, dando em cima da mulher do outro, sendo que eles se conhecem desde pequeno; depois de um acidente em que o Zé Paulino é dado como morto, ele demora pra se recuperar porque está em coma, mas um ano depois ele volta e presencia o casamento dos dois, e toda a desconfiança que ele tinha em relação a Candoca – porque ele acreditava que ela dava mole pro Tertulinho, mas isso não é verdade – vem à tona já que, ela se casa com outro. Esse período é o principal para a construção do personagem, é o que mais me pega, por isso citei a angústia; não sai da minha cabeça o fato de viver sem nenhuma esperança e ter que virar essa chave. Ele acredita que após dez anos estará tudo resolvido; ele se preocupa com a cidade onde ele nasceu, ele pensa em justiça social e no meio ambiente, mas continua apaixonado.
Zé Paulino será dado como morto e volta depois de 10 anos. Como isso vai impactar na personalidade do personagem?
Após o acidente, Zé Paulino vai reaprender a viver sem Candoca e sem a vida que ele construiu em Canta Pedra. Será uma jornada de tentar entender tudo o que aconteceu na ausência dele e de tentar acabar com as injustiças das quais o povo da cidade sempre foi vítima na mão dos poderosos. Será um misto de emoções.
Zé Paulino e Timbó (Henrique Dias) têm uma relação muito próxima, de respeito e de amizade. Fale um pouco sobre essa ligação.
Acredito que o Zé Paulino entende que, mesmo sendo analfabeto, o Timbó sabe mais sobre a vida do que muita gente que estudou. Zé Paulino admira a sabedoria do amigo para cuidar da terra e preservar a memória de seus antepassados.
O que o público deve esperar da novela?
Estamos fazendo uma novela que fala do interior do Brasil e de sua gente. Veremos tipos universais representados, mas de uma forma especial, conduzidos pelo texto do Mario e pela direção do Allan e equipe. É uma história alegre, com muitas cores e muita leveza, que espero que o público se identifique e goste bastante.