Na semana passada, mais de 7.400 casos de COVID-19 e 10 mortes sumiram do boletim da Prefeitura de São Paulo, que informa o número de infectados na cidade.
Na última terça-feira (07), a Secretaria Municipal da Saúde de SP afirmou que tinham sido registrados 1.429.749 infectados pelo vírus e 37.298 mortes desde o início da pandemia. Porém, no dia seguinte, quarta (08), os números caíram para 1.422.261 e 37.288, respectivamente.
Quando questionada pela Folha de SP, a secretaria afirmou que fez uma limpeza nas bases de dados usadas para coletar informações sobre a pandemia, o e-SUS Notifica e o Sivep-Gripe. Ao fazer isso, a pasta diz ter excluído casos e mortes duplicados nos sistemas, por isso os números diminuíram. A prefeitura, porém, não detalhou quais os casos duplicados e quando eles teriam ocorrido.
O e-SUS Notifica é o sistema federal que contabiliza casos confirmados de COVID-19 no país, e o Sivep-Gripe quantifica as internações e mortes em decorrência da COVID-19.
Além da mudança de números na quarta-feira, o boletim epidemiológico da Saúde repetiu o mesmo número de casos e mortes por três dias seguidos – 3, 4 e 5 de setembro. De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, isso aconteceu porque a atualização dos números não acontece no final de semana – os dias 4 e 5 foram sábado e domingo.
“Isso causa grandes dificuldades na avaliação dos dados, porque acompanhamos o histórico diário”, afirma Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP COVID-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia.
“Além de dificultar a auditoria e a transparência das informações, ao remover de um dia para o outro quase 7.500 casos confirmados da doença, a curva de novos casos perde o sentido, visto que todo o “passado” do dado é perdido”, diz ele.
Segundo ele, os números do boletim são usados, por exemplo, para definir os níveis de abertura da cidade dentro do Plano São Paulo. Assim, mudanças nos dados dificultam a decisão das autoridades sobre medidas de restrição.
“Os dados perdem a confiabilidade e a concretude. Se na semana passada observamos uma redução percentual no número de novos casos ou óbitos, hoje, essa mesma conclusão poderia não ser mais válida, ou seja, poderíamos ter a situação oposta: um aumento percentual em razão da modificação dos dados”, completa.
Já para Adriano Massuda, professor do FGV Saúde, a limpeza dos dados é necessária e ajuda na análise da pandemia. Para ele, o problema nesse caso é do SUS (Sistema Único de Saúde), que deveria cuidar melhor da informação.
“Esse é um grande problema das informações do SUS. Há muitas inconsistências, dados duplicados numa ponta e, na outra, muito subregistro. Quanto mais se evitar as duplicações e quanto menos subregistros tiver, melhor a qualidade da informação e a possibilidade do seu uso para pesquisas que tenham a finalidade de avaliar o funcionamento de sistema de saúde, de programas, desempenho, recursos”, explica.
Segundo Adriano, o SUS tentou melhorar a qualidade da informação há alguns anos, mas a iniciativa perdeu espaço.