Orange is the new black, for all? Nem sempre

Tendências na Arquitetura

Quando pensamos em roupas e sapatos, é bastante familiar imaginar as tendências; o que estará na moda neste ano: saias longas ou curtas? Os bigodes seguem em alta? Saltos plataforma ou bico fino?

Quem viveu em torno de trinta anos, não tem memórias divertidas ou embaraçosas de “looks” ousados fotografados da juventude e, que hoje, seriam difíceis de explicar. Minha mãe sempre se lembra da “era dos cabelos com permanentes”. E eu, me lembro de, quando pequena, usar laços de tule no cabelo e meia arrastão (que amo até hoje, aliás.) para dançar como a Madonna nas festinhas da década de 80.

A moda é uma das indústrias mais poderosas do mundo e movimenta fortunas há séculos. E sejam os afortunados que compram nas grifes AAA, ou aqueles que também têm estilo e compram com algum delay essas mesmas tendências em uma loja de departamento, todos, inegavelmente, gostam de uma roupa nova ou de um corte de cabelo que aumente a dopamina.

Quando transferimos essa onda de “tendências” para a arquitetura e o design de interiores, posso afirmar que é um universo parecido ao da moda e os profissionais do setor referenciam seus elementos de projeto pelo que as indústrias e designers estudam, desenvolvem e apresentam em feiras, mostras e vitrines por todo o mundo.

Chic modern luxury aesthetics style living room in gray tone

E são dois mercados tão conectados que marcas tradicionais de moda estão a cada ano engrossando o leque do mercado de móveis, criando mobiliários exclusivos, com desenhos e propostas em conexão com os conceitos da marca, como a Louis Vuitton e a Dolce & Gabbana, por exemplo.

No entanto, seja na moda ou na arquitetura, aquilo que é uma tendência só pode ser uma escolha se fizer sentido para quem irá vestir ou viver nela. Um sapato pode estar na moda, mas se apertar o dedo mindinho, deixe de lado. O decote ou o balonê da saia, tem que te fazer sentir feliz consigo mesma; se não fizer, deixe de lado também. Ou seja, a gente usa e veste tendências, sim, desde que estejam em sintonia com a nossa identidade.

O papel dessa sintonia com a identidade em nossa casa nos permitirá viver em um ambiente que desperte bons sentimentos e emoções, um elemento forte para que você viva mais e melhor. Um caminho direto e efetivo para lhe permitir ter um corpo e mente que te levem a longevidade de qualidade. Já pensou nisso?

E o que é a identidade quando pensamos em nossa casa? Ela é formada por um combinado de características: as preferências (nela se encaixam as tendências), somadas às necessidades de quem irá viver nessa casa.

As preferências são realmente as escolhas pessoais a um determinado estilo, a uma paleta ou cor, a uma sensação que um determinado material transmite. Aquilo que sua mente elege e que te transmite prazer em ter e usar.

Já as necessidades, costumo dividir em 2 momentos distintos:

O primeiro, o estilo de vida ideal, que é identificado e narrado pelo cliente, quase sempre, com muita desenvoltura. São os seus sonhos para aquela casa:

  • A família que adora receber muitas e numerosas visitas em casa, descreve as festas de Natal enquanto me explica a sonhada mesa para muitos lugares, o espaço do churrasco para esses momentos especiais.
  • A família da exclusividade, que me descreve a genuína e super arrojada sala de cinema em casa para assistir filmes sem a fila da pipoca ou o barulhento “vizinho de poltrona” nas seções do shopping.

O segundo hall das necessidades, algumas, de ordem prática, como por exemplo:

– A pia da cozinha é muito baixa, quero que a nova seja mais alta para eu me sentir mais confortável ao cozinhar.

No entanto, algumas vezes, o que é necessário não está explícito e o diagnóstico disso para o arquiteto demanda um pouco mais de atenção para descobertas.

Ouvir o cliente contar que foi muito feliz quando morou, por anos, a trabalho, em uma pequena cidade europeia com casas em tons terrosos, e reproduzir esse tom em algum detalhe da casa, vendo esse detalhe despertar bons sentimentos, é um exemplo desse cuidado no projeto que entrega felizes surpresas.

Ou o cliente que tem dificuldade em pegar no sono e perceber que o espaço de moradia atual tem a bancada de home office dentro do quarto é entender que isso pode, com frequência, gerar ansiedade e maior dificuldade em se desligar da rotina. Então, redesenhar esse espaço setorizando o trabalho longe do local de dormir, corrigindo a luz para trazer aconchego, explicar a importância para o descanso em climatizar o ambiente que se dorme, colocar tudo em prática e ouvir que deu certo, que o sono bom voltou para a vida daquela pessoa, é muito especial.

O cliente que já viveu mais da metade da existência e que pede por um projeto elegante, e nele, entregar soluções com cuidados e conveniências de uma casa segura para a melhor idade, tornando possível autonomia e segurança, é gratificante. Soluções essas que não minimizaram, em absoluto, o estilo e a qualidade estética do trabalho.

O grande e importante recado, em síntese, é que onde vivemos é o grande cenário da vida. O lugar onde existimos deve estar em sintonia com sua identidade e inspirar você. Para isso, deve ser a razão entre soluções técnicas cuidadosas e precisas versus cores, aromas, formas e memórias que traduzam quem você é e que te façam essencialmente feliz.

Um abraço!

Mariana Meneghisso


Granjeira, Esposa, 3X mãe. Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo,Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes, Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf, Pós Graduada emNeuroarquitetura pelo Ipog. Membro da Anfa Brazil, Academy of Neuroscience for Architecture. Titular, a 20 anos, do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.

@meneghisso_pasquotto_arq

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