Nos últimos anos, uma nova forma de pensar a arquitetura e o design de interiores tem ganhado destaque: a ideia da essencialidade, onde menos é mais; e o conceito de luxo não está ligado ao excesso, mas à escolha consciente e minimalista. O subconsumo, que valoriza a qualidade em detrimento da quantidade, redefine o que entendemos por sofisticação, propondo uma abordagem mais sustentável e equilibrada para os espaços habitados.
Em vez de acumular objetos e materiais, essa abordagem prioriza a escolha criteriosa do que é colocado nos ambientes. Isso não significa simplificação extrema ou uma estética estéril, mas sim a criação de espaços funcionais, bonitos e livres de excessos desnecessários. A essência é realçar o que importa, tanto em termos estéticos quanto práticos.
No luxo do subconsumo, a qualidade dos materiais e dos acabamentos ganha importância central. Em vez de optar por itens abundantes e de qualidade inferior, o foco está em investir em peças duráveis, multifuncionais, atemporais e bem feitas. Móveis com design de autor, tecidos nobres e materiais sustentáveis são exemplos de como é possível criar um ambiente sofisticado sem a necessidade de ostentar. O luxo passa a ser a experiência de utilizar algo único e durável.
Óbvio que essa prática está profundamente alinhada com a sustentabilidade. Ao valorizar o essencial e diminuindo o consumo, reduzimos os resíduos e o impacto ambiental. Escolher menos, mas escolher melhor, é uma forma de viver com mais consciência, e esse aspecto tem sido cada vez mais valorizado por pessoas que buscam um estilo de vida mais equilibrado e em harmonia com o meio ambiente.
Nesse mesmo viés, a valorização da iluminação natural é bem-vinda nesse conceito, explorando grandes aberturas para o externo, reduzindo a necessidade de iluminação artificial e criando um ambiente mais saudável e agradável. Além disso, o uso eficiente da energia e a escolha de sistemas de iluminação sustentáveis reforçam o compromisso com o consumo consciente.
Na arquitetura da essencialidade, o espaço vazio tem tanto valor quanto os elementos que o ocupam. Espaços amplos e arejados permitem uma melhor circulação de pessoas e energia, proporcionando um ambiente mais tranquilo e funcional. A ausência de excessos cria um ambiente mais organizado e confortável, onde cada peça tem um propósito claro, e nada está fora de lugar.
Outro aspecto importante do luxo do subconsumo é a integração dos espaços com a natureza. Ao invés de criar uma separação rígida entre o interior e o exterior, a arquitetura essencialista busca dissolver essas barreiras, trazendo a natureza para dentro dos ambientes.
A escolha dos materiais também reflete o princípio da essencialidade. Madeiras nobres, mármores naturais e metais envelhecidos são exemplos de materiais que, usados de forma equilibrada, conferem elegância e durabilidade ao projeto, sem apelar para o excesso. Móveis feitos por encomenda, que se adaptam perfeitamente ao espaço, além de serem funcionais, proporcionam uma estética refinada e única, refletindo a identidade de quem habita o local. Se ainda conseguirmos que sejam produzidos com a excelência de produtores locais, tradicionais e arrisco até, artesanais, será uma linda entrega de valor.
A paleta de cores na arquitetura essencialista tende a ser composta por tons neutros e atemporais, como branco, cinza, bege e tons terrosos. Essas cores criam uma base tranquila e harmônica, permitindo que os materiais naturais e as texturas ganhem protagonismo. Em vez de chamar a atenção para cores vibrantes ou modismos, o design busca uma elegância discreta e duradoura. Ainda assim, a utilização de paletas intensas é permitida se for essa a leitura para o projeto que atenda a demanda emocional daquele cliente. Sem medo algum, afinal, o conforto também deve ser emocional.
No design de interiores essencialista, a arte ocupa um lugar especial. Em vez de preencher as paredes com múltiplas obras, opta-se por poucas peças, mas que tenham significado e relevância.
Se permitir viver em um ambiente projetado com a composição dos conceitos acima é certeza de uma rotina imersa em bem-estar , responsabilidade e propósito. Vale muito.
Mariana Meneghisso
Granjeira, esposa, 3X mãe. Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes, Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf, Pós Graduada em Neuro Arquitetura pelo Ipog. Membro da Anfa Brazil, Academy of Neuroscience For Architecture. Titular, há 20 anos, do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura