Congada de São Benedito comemora 71 anos com a volta das celebrações presenciais

Patrimônio Cultural Imaterial de Cotia (Lei 1823/2014), a Congada de São Benedito está de volta com programação presencial. Depois de dois anos sem sair às ruas – por conta da pandemia da COVID-19 – levando a alegria dos congos, reverenciando os ancestrais e marcando a resistência, a liberdade, a libertação dos escravos, a festa será retomada este mês no ano em que completa 71 anos de história na cidade de Cotia. História que começou a ser escrita por Benedito Pereira de Castro, o Seu Dito, como era conhecido.

Seu Dito deixou um legado de amor à congada e à cultura popular. Este legado segue vivo pelas mãos de sua filha, Elisete Aparecida Castro, e de outros familiares e amigos, aos quais ela chama de ‘irmandade’. Pessoas imbuídas do desejo de não deixar o congo em Cotia morrer. “[congada] é manifestação de alegria, momento em que as pessoas do congo demonstram alegria nas ruas, sensação de liberdade, porque isso é a congada: é liberdade”, descreveu. “Os negros já vieram da África com a sua cultura milenar passaram a ser chamados de escravos aqui no Brasil, porque lá eram reis, príncipes e princesas”, completou Elisete.

Neste ano, a festa será no dia 14 de maio, com o apoio da Secretaria de Cultura e Lazer e de Turismo. Antes, no dia 13 de maio, haverá Encontro Cultural em homenagem à Congada. A programação será divulgada ainda nesta semana.

A seguir, um bate-papo com Elisete, uma das organizadores da celebração.

Este ano tem o sabor dos 71 anos da congada como existência e resistência ao longo de 7 décadas. Como está a expectativa para a retomada e os preparativos para a festa?

A expectativa é bem grande, até já estou pálida, abatida, emagrecendo porque fico com ansiedade (risos) para que tudo aconteça. […] Não olho pra mim ou para a dificuldade, às vezes eu choro sozinha, como estou querendo chorar agora, porque é complicado porque isso me faz lembrar do meu pai, dos meus tios, da força que eles tinham, da luta que eles travaram para deixar essa cultura aqui em Cotia. […] Isso pra mim é, às vezes, é até difícil falar porque sei que nestes 71 anos, para chegar ao que é hoje, a gente adquiriu o respeito da própria comunidade não foi fácil.[…] Eu penso assim, mês de maio, congo na rua. O congo, com ou sem pessoas apreciando a festa, vai estar nas ruas, vamos colocar alegria na rua, não importa se vai ter povo ou não [sic].

Você falou que a congada conquistou Cotia, e lembrando do seu pai que trouxe a congada para Cotia, o que ele diria agora, depois de dois anos de congada calada e poder voltar neste momento?

Meu pai estaria ansioso, que era como ele sempre esteve, ele era alegria em pessoa, todo mundo cabia no coração dele. Ele falava que passou do portão para dentro passa a fazer parte da minha família. Ele agregava o todo naquele coração gigantesco. Para ele, mesmo com a pandemia, tenho certeza que a alegria dele não ia atrapalhar. […] Ele estaria me dando uma força que sinto falta extrema, porque em festas eu conversava com ele, para ver como ele queria, o que tinha que fazer, ele me faz muita falta, ele é a minha referência, ele é a minha força e ele estaria até mais forte do que eu. Alegria em pessoa. Estaria com muita ansiedade esperando para que tudo saia corretamente e ele alegria de ver a irmandade e o congo, povo na rua, ele gostava de ver tudo na rua [sic].

Vocês vão ter convidados de fora? O que você já tem confirmado?

Este ano não chamei muitos, depois da pandemia quero trazer os mesmos congos que vieram, para se unirem novamente, porém tem congada que já não vai poder vir, teria oito, mas virão seis. […] Teremos congos de Taubaté, de Mogi das Cruzes, dois de São Paulo, Pindamonhagaba, é o que vamos trazer este ano e, para o outro ano, pretendo trazer outros congos.

Para concluir, o que você gostaria de dizer para quem não conhece a congada. Faça um convite.

O que posso dizer a vocês, público? Pessoas que não nos conhecem: ‘venham, participem, as portas estão abertas’. Venham participar e exaltar a cultura porque é o que precisamos, precisamos desta alegria. Cultura é vida, é força. Esta é a força que nos move, a força da nossa ancestralidade, seja ela indígena, branca, negra, japonesa tudo é cultura, venham participar desta alegria conosco, conto com todos vocês.

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