É fato que fontes limpas e suas tecnologias prometem causar uma profunda reorganização do setor elétrico em todo o planeta. Até mesmo porque, no Brasil, os analistas estão sempre de olho no risco hidrológico, decorrente de nossa matriz energética muito concentrada nas hidrelétricas, que sofrem cada vez mais com a queda no nível dos reservatórios.
As energias renováveis tiveram seu primeiro impulso com os leilões de energia promovidos pelo governo. Tal política tem contribuído para a diversificação das fontes de geração, diante das limitações para a construção de novas grandes hidrelétricas.
Como resultado, ao final de 2020, foi atingida em potência instalada, a marca de 3,1 GW de fonte solar centralizada no país. Em 2019, a fonte solar tornou-se a mais competitiva nos leilões, com preço de US$17,62/MWh.
A resolução 482 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e demais regulações abriram terreno para que o consumidor final produzisse sua própria energia.
Depois de um início tímido, com a redução contínua do custo dos equipamentos, alcançamos um crescimento extraordinário da geração solar distribuída. Como resultado, ao final de 2020 atingimos a marca de 4,6 GW em geração solar distribuída.
A energia solar segue avançando a passos largos e somando-se a geração centralizada e a geração distribuída acumulamos 7,7 GW, superando a fonte nuclear e o carvão.
Fica cada vez mais sólido o consenso de que os países devem buscar a emissão zero de carbono para combater as mudanças climáticas.
A data para isso é 2050 para os mais realistas, e 2030 para os mais ambiciosos. O forte crescimento das energias solar e eólica, e a substituição dos combustíveis pela eletricidade no transporte são as duas ondas mais visíveis desse processo.
Nesse contexto, a Califórnia está liderando a disseminação do armazenamento em massa de energia. Está entrando em operação a maior bateria do mundo, com 300 MW, na usina de Moss Landing, na baía de Monterey.
Esta planta, assim como inúmeros outros projetos, surgiu a partir de uma lei estadual de 2013 que definiu a meta de 1,3 GW de armazenamento até o final de 2020. A Califórnia alcançou 1,5 GW e a meta foi superada.
A velocidade deste crescimento depende da evolução do preço das baterias. Impulsionadas pela escalada dos carros elétricos, as baterias estão ficando mais baratas a cada dia, beneficiando o mundo das renováveis.
Nos EUA, o preço das baterias de armazenamento em larga escala caiu cerca de 70%, entre 2015 e 2018, segundo a U.S. Energy Information Administration, agência oficial de energia do país.
O custo da energia solar fotovoltaica teve trajetória muito semelhante: declinou mais de 70% entre 2010 e 2019. A concorrência e o crescimento da produção podem levar a uma redução adicional de mais 45% no custo médio das baterias, entre 2018 e 2030, segundo o NREL (National Renewable Energy Laboratory).
Os analistas projetam globalmente 1,2 TW de armazenamento ao longo da próxima década. Ao mesmo tempo, apostam que os veículos elétricos serão mais baratos do que os a combustão interna que é utilizado atualmente.
Para a energia solar, o armazenamento muda substancialmente o jogo. Ele disciplina a intermitência da oferta, entre os momentos em que o Sol brilha e aqueles depois que ele se põe.
Isso melhora a rentabilidade das usinas solares, pois permite obter melhores preços, oferecendo energia nos momentos de maior valor.
Além disso, segundo especialistas, isso permite que as usinas solares substituam as pequenas e médias usinas térmicas, incluindo aquelas acionadas nos momentos de pico de demanda.
O armazenamento será fundamental para acelerar a transição para uma economia livre de carbono. Quer associadas à geração renovável ou embarcadas nos veículos, as baterias serão importante catalisador das próximas transformações.
Investidores estão cada vez mais de olho nas empresas verdes. A Tesla tem cinco vezes o valor de mercado da GM e da Ford somadas. Aqui no Brasil, as empresas geradoras que investiram em renováveis lideram a valorização em bolsa entre as elétricas, mesmo sem pagar altos dividendos.
Em qualquer cenário futuro para o setor elétrico, as energias renováveis e o armazenamento de energia estarão presentes. O modelo original inaugurado pela corrente alternada sofrerá profundas mudanças. A velocidade delas ainda é uma aposta, especialmente no Brasil.
O certo é que nada poderá deter a força de uma inovação, quando o seu tempo chegar.