A morte do empresário Henrique Silva Chagas, de 27 anos, após ser submetido a um peeling de fenol em 3 de junho em São Paulo fez um alerta entre os profissionais sobre a imposição de padrões de beleza nesse mercado que movimenta bilhões. O procedimento foi realizado pela influenciadora e dona da clínica estética Natalia Fabiana de Freitas Antônio, que se identifica como Natália Becker nas redes sociais e que não possui qualquer formação para realização do procedimento.
A Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (Anesco) diz que Natalia é uma pessoa leiga que não pode ser considerada esteticista. Ela fez apenas cursos de micropigmentação, um procedimento usado para delinear e corrigir falhas, por exemplo, em sobrancelhas e lábios.
O peeling de fenol consiste na aplicação de um composto orgânico mais ácido do que o álcool e que provoca uma reação inflamatória na pele. A inflamação causa uma descamação da superfície do tecido para reduzir manchas e cicatrizes. Dias após a aplicação, a pele parece “se soltar” do rosto. É um tratamento considerado eficaz contra rugas e flacidez, mas que exige cuidados. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) informou por meio de nota que “defende que procedimentos invasivos”, como é o peeling de fenol, “devem ser feitos por médicos”.
O brasil fica com a vice-liderança em procedimentos estéticos e reparadores.
De acordo com o último levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgado em 2023, o Brasil desponta como o segundo país que mais realizou procedimentos estéticos e reparadores no mundo, 8,9% do total de casos, perdendo apenas para os Estados Unidos (24,1% do total).
Os procedimentos invasivos , principalmente os preenchimentos, que hoje são amplamente realizados por não médicos e médicos não habilitados são tratamentos em que há riscos consideráveis e devem ser realizados somente por médico especialista em Dermatologia ou Cirurgia Plástica.
“Esses procedimentos envolvem a aplicação de substâncias em gel na pele e subcutâneo, e que devem levar em consideração as estruturas anatômicas, sempre buscando a segurança do paciente”, explica a dermatologista Cláudia Chaim.
De acordo com a médica, parece simples, mas não é.
“O corpo humano tem variações de indivíduo para indivíduo e uma obstrução vascular, evento extremamente grave, pode ocorrer. Além disso, o organismo pode reagir às substâncias injetadas, causando processo inflamatório importante”, explica! Infecções também podem ocorrer caso não sejam respeitadas as regras sanitárias como uso de material estéril, e a realização dos procedimentos em ambiente com alvará e liberação da vigilância sanitária.
As Esteticistas, cosmetólogas ou técnicas em estética estão habilitadas para realizar uma grande diversidade de procedimentos, mas com um limitador: os considerados invasivos estão proibidos para essas profissões.
Uma pesquisa realizada pela Research And Markets aponta que os adeptos de procedimentos estéticos estão dispostos a gastar muito dinheiro com diferentes tipos de tratamentos. Segundo o levantamento, a previsão é que o setor apresenta um crescimento constante, chegando a US$ 415.29 bilhões até 2028 em todo mundo.
A aplicação dos preenchimentos envolve a escolha do produto que será utilizado, suas características e riscos. O procedimento requer habilidade técnica e conhecimento da medicina para detectar precocemente quando algo não vai bem, possibilitando instituir de imediato o tratamento eficaz, o que requer a prescrição de medicamentos por médicos.
As sequelas das complicações de preenchimentos estão cada vez mais numerosas. Comunidades de vítimas dessas complicações podem ser facilmente encontradas nas redes sociais.
CUIDADO PARA NÃO CAIR NUMA “FURADA”
Para realizar um procedimento que irá invadir o nosso corpo, não basta consultarmos as redes sociais do profissional ou ver o resultado aparentemente bom de uma pessoa conhecida. Todos os anos, surgem profissionais de múltiplas áreas, com formação no mínimo discutível, tentando aproveitar a “onda da Beleza”. “Muitos pacientes chegam ao meu consultório já com a sua receita: quero fazer uma aplicação disso! Mas ao examinar, algumas vezes identificamos que a queixa do paciente é consequência de uma doença que compromete todo organismo, às vezes encontramos cânceres malignos de pele e, comumente, o procedimento indicado pelo paciente não é necessário ou o suficiente para corrigir o seu problema”, afirma o cirurgião plástico Mauro Milman, que é categórico em sua em defesa da medicina: “o único profissional capacitado para diagnosticar, tratar e solucionar complicações é o MÉDICO. Também não é necessário dizer que um médico sem especialização nas áreas de Dermatologia ou Cirurgia Plástica é “aventureiro”, conclui.
Segundo ele, entre os procedimentos mais bizarros que testemunhou, foram as aplicações de silicone industrial (aquele vendido em lata para brilhar os plásticos) e de PMMA – polimetilmetacrilato. Por serem substâncias baratas e pouco reativas inicialmente, costumam ser aplicadas em injeções em todo o corpo, inclusive em grandes quantidades. O silicone industrial é um gel fluido, que não permanece no local infiltrado, causando deformidades e abscessos. O PMMA é uma bomba-relógio! Pode ficar bom por anos, mas a qualquer momento o organismo pode “rejeitá-lo” e criar feridas extensas. Assim, não basta saber com quem você irá realizar seu procedimento, mas questionar o produto utilizado! Não aceite ouvir “fórmula secreta”, “minha invenção”, “produto inédito no país” e qualquer coisa parecida, pois, provavelmente, trata-se de algo de procedência ruim ou proibido!
De acordo com o último levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgado em 2023, o Brasil desponta como o segundo país que mais realizou procedimentos estéticos e reparadores no mundo, 8,9% do total de casos, perdendo apenas para os Estados Unidos (24,1% do total).
Entre os procedimentos mais buscados estão a harmonização facial, o preenchimento facial com uso de ácido hialurônico e peeling químico. A ginecomastia (redução das mamas masculinas), lipoaspiração, rinoplastia (cirurgia estética e funcional do nariz) e transplante capilar estão no ranking das cirurgias mais buscadas.
A dica? Buscar a qualificação do profissional que irá lhe atender é de suma importância.
