Eles contribuem para o desenvolvimento socioemocional dos netos ao serem fonte de sabedoria, sensatez e coerência. Além disso, permitem que as mães intensifiquem o autocuidado físico e mental ao servirem de rede de apoio
Ante o desafio da maternidade, muitas mães sabem que podem contar com o apoio irrestrito dos avós na criação dos filhos. Mas o papel dessas figuras, cuja data em homenagem é comemorada nesta quarta-feira (26), vai além de encher o neto de mimos e cuidados. Os avós têm uma função primordial na dinâmica familiar, por terem a capacidade de impactar positivamente o desenvolvimento psicológico e socioemocional de seus netos.
A psicóloga, arteterapeuta, e autora do livro infantil “A Casa de Pedro”, Cecília (Ciça) Rocha, gosta de comparar os avós a guardiões, pois eles são os responsáveis por guardar a história da família e de sua ancestralidade. Segundo Cecília, o acúmulo de experiência adquirido ao longo da vida faz com que os avós sejam uma rica fonte de ensinamentos aos netos, trazendo um olhar sábio, coerente e sensato para distintas situações.
“A segurança e a sabedoria passadas pelos avós contribuem de forma muito positiva para estabilidade emocional das crianças e para o seu desenvolvimento psicológico”, afirma.
Do ponto de vista do desenvolvimento socioemocional das crianças, os avós costumam ser importantes porque praticam uma escuta acolhedora dos conflitos que seus netos vivenciam. Segundo a psicóloga, essa escuta, calma, atenciosa e sem crítica, é de muito valia para as crianças regularem suas emoções. “Não à toa, no meu livro infantil sobre emoções, “A Casa de Pedro”, quando o personagem recebe a visita da tristeza, ele liga para a sua avó para desabafar e conversar”, comenta.
Os avós também são essenciais para as crianças porque ajudam na formação de sua identidade. Conforme Cecília, ao compartilharem as histórias dos ancestrais familiares (bisavós, tataravós etc.), os avós fornecem a seus netos um senso de pertencimento e valorização da própria história. “Quanto mais informações as crianças tiverem, melhor será o processo de construção de sua identidade”, explica. Além disso, destaca a arteterapeuta, para as crianças, estar próximo de quem guarda a história da família, e saber que é admirada e amada por eles, faz com que fiquem calmas, tranquilas, seguras e em paz consigo mesmas, contribuindo para que fortaleça sua autoconfiança e amor-próprio.
A participação dos avós na criação dos netos também é fundamental para o bem-estar das mães, que podem intensificar seus autocuidados físico e mental quando sabem que possuem uma rede de apoio permeada de afeto e confiança. “A mãe descansa muito melhor sabendo que seus filhos, além de muito bem cuidados, estão sendo impactados por todos esses benefícios proporcionados pela convivência com essas figuras tão importantes para trama familiar”, diz Cecília. E com o equilíbrio emocional restaurado, a mãe consegue desenvolver melhor a própria maternidade, estando mais fortalecida para lidar com os inúmeros desafios inerente a ela.
Pela vasta experiência que adquiriram ao longo da vida, os avós podem ainda municiar as mães e os pais com conselhos e orientações de grande valia para a criação e educação de seus filhos. Contudo, alerta a psicóloga, ao fazerem isso, precisam ter muito e discernimento e sensibilidade, para não serem invasivas. “O foco é sempre a harmonia da relação. Desse modo, a frase de ordem nessa situação é: apoiar e orientar, sem invadir, tendo como base o respeito e a empatia”, diz.
Para mães e avós que não cultivam um bom relacionamento, a maternidade pode ser a oportunidade de alterar a situação, à medida que novos papéis são criados. De acordo com a arteterapeuta, não é raro que o neto contribua para que mágoas e ressentimentos sejam observados sob uma nova perspectiva. “Vale lembrar que o neto, ou seja, a criança, representa o novo, o início, e esse novo pode representar também o início de novas maneiras de se relacionar”, diz.
As avós têm um papel relevante para que a família funcione de maneira mais orgânica e sadia. Isto porque, conforme Cecília, eles são o ponto de encontro entre diferentes gerações e, como tal, tem o poder de estreitar os laços familiares. Uma maneira de fazer é isso é através da promoção de encontros, sejam quais forem. “Entendo que nos tempos de hoje aqueles almoços de família enormes se perderam, mas podemos nos adaptar às novas condições e criar outros jeitos que combinem com o dia a dia desses avós e das famílias atuais: cafés, lanches, pizzas, tardes de brincadeira”, afirma.
Por fim, a psicóloga ressalta a importância de olhar para a figura dos avós de uma nova maneira do ponto de vista social. Ela lembra que em algumas culturas, como nos povos indígenas, por exemplo, os avós são muitos respeitados e considerados. Na nossa sociedade, porém, segundo Cecília, os idosos, não raramente, ficam ociosos e são considerados descartáveis. “Vemos o etarismo com muita força em todos os contextos: sociais, profissionais e familiares”, diz.
A arteterapeuta enfatiza que essa visão precisa ser modificada, sendo imprescindível olhar para a figura dos avós e idosos de um modo geral como alguém que tem o que oferecer. “No caso da avó, é preciso compreender que não cabe a ela somente o papel de mãe e de cuidadora, mas que ela tem o próprio lugar, único e indivisível”, conclui.
Minibio Cecília Rocha
Instagram: @ceciliacicarocha
- Psicóloga
- Especialista em TCC (terapia cognitiva comportamental) pela FMUSP
- Arteterapeuta
- Mediadora de conflitos