Entrevista: Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal
Foto e beleza: Vinícius Mochizuki.
Edição de moda: Alê Duprat
Produção de moda: Kadu Nunnes
1 metro e 85 de pura simpatia, José Loreto é aquele galã que causa frisson por onde passa. Sim, ele atrai plateias e se engana quem acha que é só pela televisão. Natural de Niterói, pai da pequena Bella e ex da maravilhosa da Débora Nascimento, o ator tem muita história pra contar, resultado dos bem vividos 38 anos de idade.
Só pra começar, saibam que, aos 18 anos, foi morar em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde trabalhou no time de seguranças de celebridades como Stevie Wonder e Gisele Bündchen. Além disso, também ganhou algum dinheiro como ajudante de barman e vendendo churros e pipoca na Universal Studios, em Hollywood. E de repente, foi em 2012, como o malandro Darkson de Avenida Brasil, que ele conquistou nossos corações.
Nesse meio tempo teve interpretação nas novelas Malhação e Os Mutantes e muito trabalho marcante preencheu a carreira desse cara, que aos 17 anos despertou para os palcos, fazendo uma interpretação no Colégio. Formado em teatro pela Casa das Artes de Laranjeiras e em cinema pela Estácio de Sá, faixa preta de judô, diabético tipo 1
(ele descobriu a doença aos 15 anos), dono de restaurante japonês, caseiro, Loreto está nas telas interpretando o Tadeu, em Pantanal, um sujeito rudimentar, sem grandes ambições na vida, mas que tem um descaramento que diverte os telespectadores.
A gente bateu um papo leve com o Zé e você confere agora. Baba, baby!
Mês do Dia dos Pais e você comemorando essa data há quatro anos; como foi a experiência de criar uma filha durante a pandemia?
No privilégio que eu tenho de morar perto da mãe da minha filha, o meu lado paterno foi muito forte; foi um momento em que ficamos mais juntos, o dia inteiro em casa. Existiu o período em que era só eu e ela. Foi um mergulho na paternidade, na minha parceria com a minha filha. Eu me dei conta de que estava com a minha melhor amiga. Nos amamos incondicionalmente. Eu dou tudo por ela.
De que maneira você tenta passar os seus valores para a sua filha Bella?
Logicamente eu penso muito antes de dizer qualquer coisa que ela possa interpretar mal. Hoje em
dia está mais incorporado em mim, qualquer dúvida que ela tenha eu respondo com muita naturalidade, nunca cobrando ou apontando, nunca subindo o tom de voz, mas buscando fórmulas. Surgiu uma birra, um choro, deixo ela se acalmar e estimulo uma conversa. A Bella é maravilhosa. Ela é muito parceirinha. Eu procuro ensinar que moramos no Brasil, que existem pretos, brancos, pessoas dos mais diversos estilos, nacionalidades, crenças. De forma lúdica, vou conscientizando a não tratar com diferença, mostrando na prática, dando exemplos que são coerentes e que ela tenha
a capacidade de absorver.
Voltando ao passado e relembrando um pouco a sua infância, quais foram os momentos que te marcaram e foram importantes para você se tornar a pessoa que é hoje? O que ficou na memória?
Minha relação com os meus pais. Eles estão casados há quarenta anos. Eu vi a ascendência deles de muito trabalho. Eles demoraram dez anos pra construir a casa em que moram. Sabe aquele Natal tumultuado? O meu pai e a minha mãe, com seus irmãos e irmãs, todo mundo tentando se juntar e ser uma família unida. Era ótimo porque éramos diferentes, gente de tudo que é canto, viramos um viralatão (sic) maravilhoso. Eu lembro muito disso. O judô também foi uma época muito marcante na minha vida porque eu tinha o sonho de ser judoca.
O mundo está mudando e hoje se fala muito sobre homofobia, preconceito, machismo, xenofobia. Você acredita que um dia será possível um mundo mais igualitário e justo ou esse sonho é utópico demais para acontecer?
Eu acredito. Tudo bem que sou muito otimista, mas acredito porque não tem outra forma para o mundo não ruir. As diferenças estão aí, e toda semana é uma pancada. Eu acredito muito nas crianças. Eu não passo para a minha filha a criação que os meus pais, naquela época, achavam que era coerente, porque o machismo não era falado; hoje em dia falamos e vemos as mazelas que isso pode causar. Estou falando do machismo, mas existem todos esses outros: racismo, xenofobia, todas as diferenças que as pessoas infelizmente não conseguem respeitar.
“O machismo não era falado; hoje em dia falamos e vemos as mazelas que isso pode causar.”
Falando um pouco sobre tecnologia, vivemos essa mudança que é um grande fato da vida contemporânea. De que maneira você procura equilibrar a sua convivência com as pessoas no mundo real?
Muita gente fala assim: “O instagram virou nossa ferramenta de trabalho”. Eu acho que não. Não sou influencer. Sou um artista. Mas a rede social é a cereja do bolo do nosso trabalho. Como somos artistas e queremos nos comunicar, migramos para essa ferramenta. Eu tento equilibrar. Gosto desse contato com o público até certo ponto. Não quero ser refém; quero ter a minha individualidade, o meu mistério, a minha discrição.
No momento, você está dedicado a novela, e você também comentou que é caseiro; mas, após a pandemia, o fato de ter ficado alguns meses trancafiado em casa mudou esse conceito? O que te dá prazer fazer quando não está trabalhando?
Trabalhar é muito bom, né? Eu amo o meu trabalho e quando estou trabalhando parece que estou de férias de tão bom que é. Eu ainda sou caseiro, ainda mais agora que estou reformando a minha casa, o meu ninho; mas, gosto de sair para dançar, ir ao cinema, ao teatro, gosto de ir em restaurantes, sou dono de um restaurante, então gosto de juntar o povo. Gosto de beber vinho com a galera, de socializar, porque tem uma função maravilhosa na nossa vida. Eu sou o cara que convida; antigamente eu era convidado, mas agora sou eu quem convido.
Descreva como foi a sua conexão com o Pantanal. O que, de fato, te encantou em meio a vida
selvagem? Aliás, você trocaria a vida na cidade por uma mais tranquila em meio a natureza, como no Pantanal?
O Pantanal despertou um querer, não de trocar, mas de ter equilíbrio. Eu sou da cidade, nasci em Niterói, moro no Rio de Janeiro há muito tempo e quando eu fujo para a serra, um lugar com menos poluição, me sinto muito bem, me sinto conectado. Morei dois meses no Pantanal, acordava com o som dos bichos, sem o conforto que normalmente tenho na minha casa, sem ar condicionado, com a bicharada, os peões. O meu personagem é um pantaneiro nato, peão de origem; ele me deixou muito mais sensível e apreciador da natureza e da importância que ela tem para o meu espírito, para a minha saúde. Hoje em dia quero ter muito mais essa conexão com a natureza.
Numa entrevista recente você comentou sobre o assédio constante que recebe através das redes sociais. De certa forma isso mexe com o seu ego? Te dá um certo prazer ser objeto de desejo de tantas mulheres/homens?
Inconscientemente sim. Em algum lugar me deixa mais confiante, mas, ao mesmo tempo, a maturidade pesa menos no ego em relação a isso. Eu não tiro os meus pés do chão. Eu fico muito mais feliz em fazer um novo personagem, com
um novo sotaque, um figurino totalmente diferente. O feedback que recebo pelas redes é que o público gosta muito, tanto que eles até criticam quando o Tadeu faz algo de errado; ficam tristes quando ele tem esse tipo de atitude porque o público sente carinho e torce. Ele tem sexy appeal, mas é totalmente diferente do meu. Loreto, o corpo do ator está a serviço do personagem, e percebemos que você experimentou algumas mudanças em função do trabalho.
Para você que é praticante de judô desde a infância, é mais fácil manter uma disciplina quando o personagem exige?
Existem dois fatores muito importantes durante a minha vida na infância que interferem nessa facilidade, n
essa consciência corporal, nessa dedicação para mudar o corpo. Uma é o judô que eu faço desde os cinco anos de idade. Quando interpretei o José Aldo, eu treinava 4 horas por dia com personal e tinha nutricionista. Eu consigo chegar nos meus objetivos, pelo menos perto. Outro fato que me ajuda a ter disciplina é a diabete. Sou diabético desde os 15 anos, preciso ser um pouco mais regrado para não ter complicações. Diabete exige equilíbrio! Eu não posso sair e beber até altas horas e acordar às cinco da tarde porque eu tenho que alimentar o meu corpo, tenho que medir minha glicose, ver se preciso aplicar insulina, se tenho que comer. A diabete me ajuda a ter essa dedicação. Quando tenho que emagrecer, controlo a minha insulina e como menos; quando preciso fazer um personagem que tem que engordar, tomo mais insulina pra continuar com a glicose boa.
Durante uma entrevista você havia comentado que tinha muito medo de contracenar com o Marquinhos Palmeira. Como essa relação se desenvolveu ao longo deste período que vocês estão trabalhando juntos?
Eu tenho o personagem na minha mão, fica mais fácil; mas, no início, era realmente medo a palavra. Por mais divertido que seja o set, eu tenho receio; é um respeito além da conta, sabe? Ele sempre diz pra eu me jogar, deixar as amarras. Ele nos dá corda. É um cara que instiga o nosso melhor.
Estamos num ano de eleição e algumas personalidades da televisão já apontaram em quem pretendem votar. Como você lida com essa questão da política em meio a polarização? Qual o papel do artista quando pensamos em manifestação política?
Vou votar em que tiver um discurso mais inclusivo, de igualdade e que esteja afinado às necessidades do nosso país e da população com suas demandas sociais e culturais. Estamos vivendo momentos tenebrosos. Sou a favor de um país com mais cultura, com mais livros, e livre das armas e da barbárie. Como artista e cidadão, quero um Brasil mais tolerante e livre de quaisquer preconceitos. Quero continuar inspirando as pessoas através da minha arte e fazendo personagens que as façam refletir sobre essa e outras questões.
Depois da novela você tem outros projetos?
Eu tenho, mas não posso falar; é o famoso: “vem coisa boa por aí”. Eu tenho um projeto bem coladinho com a novela. Pensei que fosse descansar, mas, pelo visto, não vai dar. Estou muito feliz. Eu já tenho um outro projeto para o segundo semestre do ano que vem. Estou fazendo o que eu gosto. Não preciso descansar tanto. Só vou precisar zerar este personagem, o Tadeu, que está há um ano na minha pele. Quando estamos trabalhando é igual atividade física, estamos ativos, a memória está fresca, decoramos mais fácil, tudo está melhor, tudo está ajeitado.