Por Nanci Lourenço
Esse livro nos remete o tempo todo ao divino, à natureza divina e ao valor que se deve dar a ela. Do divino Deus que castiga e do demônio que aproveita dos que desrespeitam esse Deus para fazer valer os seus desejos. Para o humano não restavam muitas alternativas a não ser sofrer respeitando o seu Deus e sendo castigado tanto por Ele como pelo demônio. Passa a vida a sofrer abusos, maus tratos, fome, miséria e, mesmo assim, se mantém resignado em nome desse Deus maldoso e abusivo, criado pelo homem possuidor de riquezas que lhe dá o poder para roubar a vida dos menos favorecidos num país massacrado pelas desigualdades sociais como é a Índia.
As mulheres não existem como pessoas, são mercadorias baratas, abusadas por machões brutos e infelizes que tentam lhes tomar até a esperança; mas elas se mantêm firmes e fortes; mesmo dilaceradas tentam se manter em pé.
Tantas tradições que aprisionam as meninas pobres, forçando-as a se prostituírem; dizem que seus destinos já estão traçados; não lhes oferecem nenhuma outra possibilidade a não ser o abuso físico e emocional. São obrigadas a aceitar essa tradição pois, caso resistam, são desprezadas até por suas famílias, uma vez que o sustento de todos advém da distribuição de seus corpos quase de graça.
A indústria da prostituição é poderosa, corrompe até o que deveria ser a autoridade para o bem; destrói infâncias e aniquilam corpos e almas. O vazio que fica em nosso coração diante de tanta violência torna a história desse livro inquietante, mesmo com toda a beleza poética de sua escrita, mesmo com a torcida para que o amor sobreviva, talvez por conter a tristeza de tantas mulheres, como diz Mukta.
Mas, a tristeza lhes fazem mais fortes para carregar a esperança com todo cuidado e carinho que elas merecem, para que de seus colos não caiam e não se percam nas curvas da vida.
Livro: Todas as Cores do Céu, de Amita Trasi
Comentários de Nanci Lourenço, autora do Temperando as Palavras.