Por Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal
Enquanto o sonho de muitos é ocupar um espacinho na maior emissora do Brasil, em 2019, Otaviano Costa, inquieto com a sua vida profissional, pediu demissão da Globo, após 10 anos na Casa, com um baita salário e mesmo tendo um contrato de um ano de trabalho pela frente.
Ele pode fazer isso, afinal, tanta certeza de que as coisas dariam certo se deve ao fato de sempre ter topado todos os desafios que vieram em sua direção.
Nesse período, e com a chegada da pandemia, movido pela inquietação, ele se reinventou e está fazendo sucesso com o “Otalab”, um programa multiplataforma no UOL. “É o meu próprio ecossistema”, disse ele que caminha nessa nova onda de reinvenção do entretenimento.
Para isso, montou um estúdio profissional para seu novo projeto e contou com o auxílio de especialistas da sua antiga emissora para fazer algo profissional.
Com as gravações do “Extreme Makeover”, exibido no GNT, interrompidas pela pandemia, ele decidiu focar nesse projeto ousado. “O ‘Otalab’ é uma mistura do Otaviano Costa mais solto, brincalhão, despojado e em conexão com o mundo digital, mas que também traz toda uma cultura da televisão na hora de realizar essa produção”, contou ele durante uma entrevista.
Foi essa audácia e coragem que fez nossa equipe chegar em Otaviano, com a certeza de que o bate papo renderia uma boa entrevista. E rendeu!
Encontramos aquele cara gente boa, humildão, cheio de energia, que fez parte da juventude de muitos de nós e continua presente, sempre por perto, sempre na ativa, sempre on.
Tem sua descendência libanesa por parte paterna. Casou-se em 2006 com a atriz (maravilhosa, diga-se de passagem) Flávia Alessandra. Teve sua primeira filha em outubro de 2010, chamada Olívia. Já Giulia Costa é filha da atriz com o diretor Marcos Paulo, morto em 2012, a quem Otaviano cria com o mesmo amor que a filha biológica.
Começou como VJ na MTV – quando a profissão era sonho de qualquer jovem dos anos de 1990 –, mas foi também ator de novela, fez personagem na reedição da Escolinha do Professor Raimundo e dublou desenho da Disney. Quando esteve na Rede Globo, foi paciente, permeou os programas de emissora por dez anos, de Amor & Sexo ao Vídeo Show, até finalmente ganhar o próprio “Tá Brincando”, que estreou em 2019.
Foi quando ele pediu para sair.
“A Globo estava se tornando uma só Globo e eu estava me tornando muitos Otavianos”.
Neste momento você está se dedicando ao ‘Otalab’, mas como surgiu a ideia deste programa e quais são as avaliações que você faz da primeira temporada?
A ideia do ‘Otalab’ no UOL surgiu de uma inquietude, de uma grande reflexão; eu vi o estúdio e o meu time parado, todo mundo em lockdown e vários projetos colocados em standby. Foi quando a gente se perguntou: e agora o que vamos fazer? Foi quando me veio a ideia de procurar parceiros, players, plataformas distintas para tentar descobrir um formato e trazer algo que se assemelhasse ao formato de televisão, mas com conteúdo da internet.
Nós formatamos um programa que é dentro do meu estúdio e isso gerou resultados incríveis, inclusive em audiência, o que é fantástico. Artisticamente eu me realizei e comercialmente também; várias marcas de grandes empresas apostam neste conteúdo. Sobre os aprendizados têm pontos importantes pra mim: assim como na tv, mas de uma maneira ainda mais forte, o digital precisa de mudanças constantes para atrair o público que tem tantas outras distrações; então, o nosso time trabalha com afinco para gerar novidades, para que esse público não se desligue da gente. Tem também a vulnerabilidade da tecnologia que nos deixa reféns; ela é variável, oscila demais, é suscetível ao tempo, à chuva, à instabilidade do sinal; isso nos força criativamente em termos de produção e em gerar standby, ou seja, vídeos e outras saídas, alternativas para que a gente não fique na mão.
Já se passaram dois anos desde que você saiu da Rede Globo para produzir o seu próprio conteúdo. Como você está se sentindo? Realizado ou ainda inquieto?
Eu estou extremamente realizado, ainda inquieto, mas muito feliz. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que tudo que planejei seria realizado e, mais do que isso, que superaria as minhas expectativas em curto espaço de tempo. A quantidade de coisas que eu já realizei, a maneira como eu imaginei com pessoas diferentes, times distintos, plataformas, formatos, é incrível. Estou muito realizado e mesmo diante de um ano tão desafiador como a pandemia, conseguimos construir um caminho, abrir possibilidades enormes que estão gerando ainda mais provocações este ano.
A classe artística luta para se manter viva. A Pinacoteca, em São Paulo, está abandonada. Como ator de formação, como você se sente quando ouve esses relatos de desmantelo na cultura do país?
Péssimo. Todos nós fazemos parte dessa cultura; somos formadores e consumidores desta cultura, nós somos a identidade dessa cultura. A sensação que me dá é que existe um descuido com a nossa gente, com a nossa existência, com a nossa identidade; as artes são expressões do nosso povo, assim como o homem das cavernas; nós somos cantores, pintores, atores, técnicos, artistas que fazem a fotografia, a iluminação de estúdio, e tantos outros que tentam traduzir a vida através da sua expressão artística. A nossa cultura jamais poderá ser extinta, senão, extintos estaremos nós.
Muitos artistas usam as redes sociais também para se manifestar politicamente, mas, ao visitar a sua página, percebemos que você prefere não opinar em relação a este assunto. É uma maneira de se proteger e não se tornar alvo dos haters? Ou é uma estratégia profissional por conta dos trabalhos?
Você percebeu certo, mas deixe-me esclarecer uma coisa: eu nunca me furtei de dar opinião ou exercer a minha crítica como figura pública com qualquer questão da política seja na esfera municipal, estadual ou federal.
O que é diferente para mim, nos últimos anos, é que a internet se tornou uma arena de briga, de violência, de brutalidade; as pessoas estão violentas e não interessa qual é a opinião que você exerça ali, você será deturpado, querendo você ou não; independente da sua posição política, ideológica ou da sua crítica, seja qual for a sua opinião, vão te classificar como de direita ou de esquerda, A ou B, contra ou a favor. Desde então, quando percebi essa violência e toda essa bipolaridade burra na internet, que nada contribui para o debate político, resolvi diminuir a minha voltagem, porém, no rádio, por exemplo, até nas lives, quando me perguntam, construo a minha ideia e não dou chance de deturparem o que estou falando.
Eu prefiro, quando consultado, dar a minha opinião de maneira que eu seja completamente entendido, para que não haja a colocação de forma equivocada. Junto a isso existem alguns contratos que são muito valiosos para mim; junto às corporações eu assino um documento de comportamento, que me permite dar a própria opinião, mas sem pegar uma faca e entrar na timeline exercendo um debate que pode respingar na imagem da empresa. Isso é lógico e faz parte do negócio e do nosso mercado.
Mesmo de volta ao trabalho, você sente falta da televisão aberta?
Eu amo fazer o que faço; quando resolvi sair da TV Globo foi pra continuar ampliando as possibilidades como comunicador e poder fazer do jeito que eu queria. Abrir o meu canal no Youtube e construir o meu próprio estúdio me permitiu ampliar as fronteiras da TV aberta para fazer a minha imersão total para o digital.
Já são 30 anos de carreira, como é olhar toda a sua história, chegar até aqui e se reinventar na profissão buscando um novo formato, um novo jeito de fazer televisão?
Eu já tinha trabalhado com o Faustão como repórter, já tinha feito novela, já apresentei o “Vídeo Show”, eu fiz o “O+”, fui da primeira geração da “MTV”, trabalhei com a Angélica na “Casa da Angélica”, no SBT eu fiz a novela “Éramos Seis”( na segunda versão). O que eu vou fazer mais? Eu sou esse ser inquieto; não é à toa que aos 46 do segundo tempo, eu resolvi deixar a Rede Globo para me reinventar. Eu acho que esse viés de mutação e transformação é constante, eu sempre vou ser assim; acho que aos 80 anos eu ainda vou ter alguma coisa de diferente para fazer.
“quando percebi essa violência e toda essa bipolaridade burra na internet, que nada contribui para o debate político, resolvi diminuir a minha voltagem”
“acho que aos 80 anos eu ainda vou ter alguma coisa de diferente para fazer”.