Gabriel Medina: Campeão tirando onda

O mar entra em ebulição quando o corpo de 1m 80 de Gabriel Medina está nele.

Natural de Maresias, São Sebastião, litoral Norte de São Paulo, e super boa pinta, Gabriel é um atleta de alta performance e isso não é de agora. Aos nove anos colocou, pela primeira vez, a prancha embaixo do braço e, aos 11, ganhou seu primeiro título nacional.

Em 2014, no auge dos seus 20 anos, em Pipeline, no Havaí, tornou-se campeão mundial antecipadamente, durante a última etapa do circuito, ao ver seus adversários diretos ao título não conseguirem atingir as quartas de final.

Em 2015, figurou a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Fanzaço de karaokê e amigão de Neymar, Medina tem mais seguidores do que Kelly Slater, seu maior adversário quando o assunto é quebrar ondas. O brasileiro faz mais sucesso no Instagram do que a sua grande inspiração no surfe: na disputa por seguidores, são 7,5 milhões contra 2,4 milhões de fãs.

Treinado pelo padrasto, Charles Medina, o surfista não pratica sexo durante os torneios, detesta cerveja e curte se conectar com Deus por meio dos cultos na igreja Bola de Neve.

Disciplina, maturidade e fé andam lado a lado desse prodígio dos mares. “Eu tenho muita fé e sinto-me orgulhoso; trabalhei muito para que isso acontecesse”, desabafa ele.

E a gente, como fica?

Prontos para, mais uma vez, nos emocionarmos com ele.

Bem – vindos ao mundo de águas salgadas de Gabriel Medina.

Em 2012, durante um treino, ele foi o segundo surfista do mundo a realizar uma das manobras raras mais difíceis do esporte: oback flip (um mortal de costas). Essa manobra foi repetida na competição Oi Rio Pro 2016 no dia 14 de Maio, sendo assim, o primeiro a realizá-la em uma competição oficial.

Foram 13 vitórias de Gabriel Medina no Circuito Mundial Masculino e Surfe.

Você foi o primeiro brasileiro campeão mundial, mas o que eu quero saber é: o que o Gabriel Medina tem de diferente dos outros competidores brasileiros, que não conseguiram conquistar o  bicampeonato mundial?

Eu tenho muita fé e, desde o início, acreditei no meu sonho; sempre me senti diferente; é uma questão de acreditar em Deus. Eu fui muito abençoado por ter sido o primeiro campeão mundial de surfe do Brasil e, agora, com mais um título. Sinto-me orgulhoso porque consegui atingir os meus objetivos, no entanto, trabalhei muito para que isso acontecesse. Sonhei e acreditei. No início, o surfe era uma diversão, mas, chegou uma hora que precisei tomar decisões, escolher a profissão e entender que seria para o resto da vida. Graças a Deus Ele me deu esse dom de surfar. E é muito fácil trabalhar surfando porque é um esporte que eu já gostava e são poucas pessoas que podem escolher o seu trabalho. Sou privilegiado, porém, sempre fui diferente dos meus amigos. Eu tinha que dormir cedo pra ter uma vida de atleta, de treinamento e dedicação. Confesso que o meu pai (Charles Medina) e a minha família me deram uma boa educação. Fui muito disciplinado em relação a obedecer e cumprir ordens. O meu pai é o meu treinador, então, já é algo a mais. Sou muito grato por tudo que ele fez comigo e pela forma que me lapidou pra que eu chegasse até aqui.

Nesses últimos cinco anos, o que temos visto é uma hegemonia brasileira e, nessa última competição, nas etapas de quartas de final, você teve 9.4 e depois 10. O que passa pela sua cabeça quando está dentro de uma competição, numa bateria onde só disputam os melhores?

O surfe brasileiro tem crescido e, atualmente, temos onze atletas no tour. Nos últimos anos, conseguimos três títulos mundiais e, no ano passado, tínhamos dois brasileiros na briga pelo título direto. O time brasileiro que nós temos no circuito é muito forte. Conseguiram ser campeões: o Mineirinho, o Felipinho e outros atletas que tiveram bons resultados. O cenário mudou porque estávamos acostumados a ver os australianos e os americanos disputando títulos mundiais (e sempre ganhando) e, do nada, o surfe mudou e cresceu muito no Brasil; sinto-me feliz por ter participado e mudado a história desse esporte no nosso país. Falando dessa bateria, foi muito especial porque eu vi o meu adversário indo bem no começo, só que eu mantive a calma. É para isso que eu treino bastante, para chegar nesse momento e manter a tranquilidade. Eu sabia que se viesse uma onda boa, eu conseguiria aproveitar porque o mar estava muito bom. Eu sabia que o Julian (Wilson) ia até a final, e desde o começo do campeonato o meu pai falava: “Uma hora ele vai tropeçar, faz o seu, porque uma hora ele vai tropeçar”. Eu já estava sentindo que ele chegaria até a final, então, sabia que eu também tinha que chegar, esse era o meu objetivo. Cada bateria foi uma superação pra mim e eu ficava cada vez mais confiante. A onda te proporciona fazer esse tipo de manobra aérea, um surfe inovador, o jeito que eu gosto de surfar. Nós não temos um plano; para cada onda o improviso sai naturalmente, é o instinto; claro que o nosso treinamento ajuda para não cairmos nas manobras e para estarmos preparados para o que der e vier.

Se você fizer uma comparação com o título de 2014 e este, quais foram as principais mudanças que você passou, como atleta, para conquistar o bicampeonato? O que de fato mudou?

O que mudou de lá pra cá foi a experiência; foram alguns anos bem difíceis, bati na trave diante de um título mundial, tive vitórias e derrotas e, querendo ou não, você vai aprendendo. Me tornei um cara mais maduro. Estou com 25 anos e me sinto mais preparado. Em 2014, era tudo novo, não tínhamos um título mundial ainda, eu estava disputando contra Kelly Slater e o Mick Fanning com muita pressão. Só pensava nisso. Haviam noites que eu não conseguia dormir de ansiedade. Já esse título foi mais tranquilo, eu estava com a minha família e os meus amigos, o tempo passou mais rápido, eu consegui me concentrar mais e usar toda a minha experiência no tour. Claro que dependemos da natureza, mas eu sempre tenho a minha família do lado e, antes de fazer qualquer coisa eu sento, converso com eles, e tento fazer o meu melhor; eu sou um cara calmo, mas eles me ajudam bastante. Esse ano que passou foi muito especial, tudo que poderia ter acontecido de bom, aconteceu. Eu só tenho que agradecer a Deus e toda torcida que tem me apoiado, à minha família, meus amigos e meus patrocinadores que fizeram ser possível.

Em 2019, você considera que poderá ser o mais importante da sua carreira, porque além da busca pelo tricampeonato mundial, tem a vaga para as Olimpíadas de Tóquio.

Será um ano muito importante, quero me concentrar 200% porque a Olimpíada está chegando, quero me qualificar para estar no Japão. Vai ser uma honra fazer parte do time brasileiro e representar mais uma vez a nossa bandeira; será um ano de superação. Eu sei que ainda estou curtindo o título,  mas, daqui a pouco tudo começa novamente, e a minha dedicação continua a mesma. Eu sei o que quero e vou atrás.

Cada vez mais você tem conquistado o carinho dos brasileiros, que se tornaram seus fãs ao longo desses anosComo é receber essa atenção especial após suas conquistas?

É muito bom poder voltar pra casa e ser recepcionado assim. É gratificante porque quando estou na água, o que eu mais penso é na minha família, nos meus amigos, na torcida brasileira e no nosso país. É por isso que eu surfo, para deixar todo mundo orgulhoso. Foi muito bom ser recepcionado com carinho. É fruto do meu trabalho, do meu esforço. Recebi esse carinho antes mesmo da decisão do título; vários amigos me mandaram mensagens, pessoas que eu admiro, celebridades, nunca achei que fosse receber tantas mensagens. Cada campeonato que eu vou, tento fazer o meu melhor.

Assim como o Guga e o Ayrton Senna você vem construindo sua carreira, mostrando o surfe brasileiro para o mundo e se tornando um atleta reconhecido num esporte em que a população, até então, não prestava tanta atenção.

É uma honra ser comparado com esses dois grandes ídolos do Brasil. São caras que eu admiro, fizeram muito pelo país e servem de exemplo. Se hoje eu me dedico e faço de tudo para representar a nossa bandeira, foi acompanhando esses caras; apesar da minha idade, eu já assistia filmes e lia livros sobre eles mas, ainda assim, não tem como compará-los. Não me vejo nesse patamar, mas, pode ter certeza, que estou tentando fazer o meu melhor.

O que é possível fazer para que o seu legado seja levado por outros brasileiros, mantendo a presença do Brasil no tour?

Eu tenho investido nessa nova geração. Nós temos o Instituto Gabriel Medina que é onde damos a oportunidade dessas crianças serem surfistas profissionais ou ter um dia a dia de atleta. É o que eu posso fazer no momento. O Brasil, a cada ano que passa, está melhorando e, esse ano, tivemos um campeão júnior de surfe (Matheus Herdy). Eu acredito que, daqui a pouco, teremos muito mais surfistas brasileiros representando o Brasil no tour. Eu tento estar ao máximo presente no Instituto; viajo bastante, a minha agenda é muito difícil, mas quando posso estou com a molecada interagindo de alguma forma, seja treinando ou brincando com eles.

O que você considera essencial e quais seriam as dicas que você dá para as crianças do seu Instituto para serem campeões como você?

Sonhar e ser determinado, independente do que seja, tem que acreditar. É preciso fazer o melhor. Quando eu era moleque, sempre sonhei alto e fazia de tudo para que acontecesse. Os meus amigos saíam, iam para a balada, andavam de skate e eu dormia cedo pra treinar porque queria ser um surfista profissional. Os meus sonhos foram mais altos e, um dia, sonhei em ser campeão mundial; tive que abrir mão de várias coisas e buscar os meus objetivos com disciplina e determinação. É importante apoiar o esporte e, hoje em dia, estamos vendo que o surfe mudou a minha vida. O tênis mudou a vida do Guga e o carro a do Senna. Eu me sinto grato e feliz por ter tido a oportunidade de surfar, porque eu era apenas um menino que sonhava, como muitos outros e, através do esporte, pude dar alegria para a minha família e para o meu país.

Esse domínio dos brasileiros no tour tem incomodado os estrangeiros?

Sim, muito. O Brasil tem incomodado bastante lá fora. Outro dia eu estava conversando com o Mick e ele estava cobrando a Austrália, de não ter surgido uma nova geração de australianos; não que não apareceram, mas foram poucos, diferente do Brasil que apareceram muitos e do nada. Com certeza, cada ano que passa, os gringos sentem e se preocupam, o que é bom porque significa que estamos incomodando bastante.

Eu já tive a oportunidade de entrevistá-lo algumas vezes e, aos poucos, você está se soltando, e claro, tem a questão do Mundo Medina (Canal OFF) onde você é acompanhado por uma câmera o tempo inteiro. Como você lida com essa exposição?

Eu tenho me soltado, mas como você falou, sou um cara tímido. É difícil pra mim, mas estou me acostumando; talvez, por isso, nos últimos programas, eu tenha ficado um pouco mais solto. Tento, ao máximo, ser eu mesmo dentro do programa e o cara que filma é um super amigo, o que ajuda. Ele e o mundo inteiro me acompanham em todas as viagens, e tem muita gente que curte; as pessoas se sentem mais próximas de mim.

Antes de entrar numa competição você procura mentalizar algo ou se concentrar de que maneira?

Eu tenho um ritual que é rezar antes de entrar numa bateria, mas também rezo antes de dormir, peço a Deus e vou mais confiante.

Você já está de malas prontas para a Austrália, onde irá disputar a primeira etapa da temporada Gold Coast em abril. Como você intensificou os treinos?

Essa preparação de praticamente duas semanas no CT Time Brasil foi bem intensa. É uma oportunidade que poucos caras têm e estou tentando aproveitar ao máximo. Treinei bastante, me esforcei e fiz vários exames. Tenho certeza que os resultados vão ser bons. Me sinto 100% preparado para começar a temporada. Todos esses detalhes fazem diferença na minha performance. Vou poder melhorar o que eu tenho de ruim. Estou indo agora para Austrália, para a primeira etapa do circuito, mas, com bastante foco nos Jogos Olímpicos. É o começo de um trabalho longo e duro, mas que começamos aqui. Quero estar em Tóquio representando o Brasil. Falta pouco, cada dia que passa falta menos, então, agora é continuar esse trabalho, treinar e buscar a classificação.

Se Deus quiser, a gente se vê no Japão.

Durante esse período no CT Time Brasil, como foi a convivência com atletas de diversas modalidades?

O ambiente é muito legal, porque são várias pessoas buscando o mesmo objetivo, que é vencer. A gente se comunica, fala a mesma língua. Meu esporte é individual e eu treino bastante sozinho, então, é legal ver pessoas que fazem vários outros esportes, se esforçando; querendo ou não, todo dia que estive no CT me inspirei nos outros para treinar. Me inspirei nesse ambiente.

“Eu tenho investido nessa nova geração. Nós temos o Instituto Gabriel Medina que é onde damos a oportunidade dessas crianças serem surfistas profissionais”

“Os meus amigos saíam, iam para a balada, andavam de skate e eu dormia cedo pra treinar porque queria ser um surfista profissional”

“O surfe mudou a minha vida. O tênis mudou a vida do Guga e o carro a do Senna”

Gabriel Medina

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