Ah, as blogueiras e influencers digitais — essas criaturas místicas do Instagram que conseguem transformar uma simples calça jeans em tendência mundial com apenas um look do dia e um filtro caprichado. Se antes a moda brasileira dependia das passarelas do SPFW e das páginas da revista Vogue, hoje ela mora no feed, entre um reels dançante e um publi de creme milagroso.
Mas, afinal, qual é o papel dessas novas sacerdotisas-do-estilo? Elas são as grandes responsáveis por democratizar a moda ou apenas por multiplicar o consumo e o número de boletos de quem tenta acompanhá-las?
As vantagens: um salto – de 15 cm – rumo à popularização da moda
É preciso reconhecer: as influencers transformaram a moda em algo muito mais próximo do público. Elas pegaram o que antes era restrito a um punhado de fashionistas e colocaram ao alcance de qualquer um com um smartphone e um pouco de paciência para rolar o feed. De norte a sul do país, milhares de pessoas hoje conhecem novas marcas nacionais, aprendem a combinar cores e descobrem que dá sim, para usar tênis com vestido – tudo graças a essas professoras-do-estilo-moderno.
Além disso, muitas delas levantam bandeiras importantes: sustentabilidade, representatividade e autoestima. Mesmo que às vezes isso venha acompanhado de um código-de-desconto e um link afiliado, o resultado é que temas antes distantes ganham voz e visibilidade digital.
As desvantagens: o glamour por trás da ring light
Mas, como nem tudo que reluz é paetê, também há o lado menos brilhante dessa história. A busca incessante por likes e engajamento transforma a moda em um espetáculo de aparências – e, convenhamos, poucos conseguem sustentar um guarda-roupa instagramável sete dias por semana.
O risco é cair na armadilha de confundir estilo com tendência passageira, e autenticidade com publicidade. Afinal, quando tudo é publi, o que resta de genuíno? Algumas bloguerias parecem mais preocupadas em vender o press kit da semana do que em contribuir com a reflexão sobre o que a moda significa culturalmente.
E há ainda a ditadura do corpo-padrão: embora o discurso da inclusão esteja na moda (olha a ironia!), as imagens que dominam as redes ainda reforçam padrões de beleza quase tão inacessíveis quanto o preço daquela bolsa “essencial” que custa o equivalente a um salário-mínimo.
Influencers: criadoras de conceito ou vendedoras de sonho?
Seria injusto dizer que elas não contribuem em nada para o desenvolvimento do conceito de moda. Muitas realmente estudam, pesquisam e produzem conteúdo relevante. Mas há também aquelas que transformam o ato de se vestir em um espetáculo performático para vender a ideia de um estilo de vida perfeito – devidamente patrocinado, claro.
A moda, que sempre foi um espelho da sociedade, agora também reflete filtros, algoritmos e parcerias pagas. Talvez a verdadeira tendência não esteja no look, mas na capacidade de transformar engajamento em capital.

No fim das contas…
Seguir influencers pode ser inspirador – desde que o seguidor mantenha o senso crítico junto com o senso estético. Porque, entre uma dica fashion e outra, o que se vende é mais do que roupa: é a promessa de pertencer a um universo onde tudo é lindo, coordenado e filtrado em tons pastéis.
Da próxima vez que você pensar em comprar aquele blazer igual-ao-da-fulana, pergunte-se: é realmente o seu estilo ou apenas o estilo que o algoritmo escolheu para você?
Celso Finkler
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