Taís Araújo fora da caixa

Taís Araújo fora da caixa

Taís Bianca Gama de Araújo Ramos, ou a vascaína Taís Araújo, é uma mulher à frente do seu tempo. Aliás, ela é uma daquelas pessoas que usa a fama pra fazer a gente pensar um pouco fora da caixa. Taís preferia não ficar fazendo discurso sobre preconceito, já que vivemos em um país justo e tolerante. Quem dera.
Formada em jornalismo, ainda se faz necessária uma boa discussão sobre raça, machismo, misoginia e preconceitos, mesmo que todos ao seu redor não queiram perder tempo com isso. E, talvez, todas essas bandeiras que levanta, unidas ao seu talento, tenha resultado na escolha para interpretar a primeira protagonista negra da televisão brasileira, no papel de Xica da Silva, em 1996, na Rede Manchete.
Na época, a novela foi exportada para vários países e Taís ficou mundialmente conhecida.

Estamos falando de mais de 20 anos atrás, quando não se pensava em cotas para negros e a cor definia os papéis dos empregados domésticos na dramaturgia e todos achavam normal, que tudo bem, que era assim que deveria ser. Apesar de já trabalhar como modelo, o fato de ter precisado ficar nua aos 17 anos para interpretar Xica, a fez repensar seus valores morais. Ela sabia que não estava certo aquilo.
A grande conquista – muito mais humana do que propriamente de sua carreira – veio com a novela Viver a Vida, em 2009, onde interpretou uma das Helenas de Manoel Carlos. O ponto alto desta novela é que Tais ganhou um papel que poderia, tranquilamente, ser interpretado por uma atriz branca, o que, na época, foi um triunfo na sua vida artística. O agravante foi que a atriz recebeu um montão de críticas negativas e chegou a pensar que a sua carreira estivesse à beira do abismo. #sqn
Desde então, Taís vem mostrando maturidade para assinar importantes papéis nas telinhas até ganhar este presentão que é a Michele, seu papel em Mr Brau, em que protagoniza com o maridão, Lázaro Ramos.

É muito legal porque a personagem Michele, junto com a própria Taís, colaboraram no processo de “transição capilar” em que muitas meninas passaram a deixar os cabelos naturais. um resgate maravilhoso da identidade já que o negro nasce escutando que o seu cabelo é feio.

Falando em cor e em pele, a hashtag #SomosTodosTaísAraújo virou trending topic na manhã de 1 de novembro de 2015, quando a sua página no Facebook tornou-se alvo de comentários racistas. E foi essa mesma hashtag que inspirou tantas outras de sucesso, contra o preconceito e a intolerância.

Criada na Zona Norte do Rio, é mãezona de Maria Antônia e João Vicente, crianças nas quais ela faz questão de ensinar sobre a realidade da vida, sem aquela enganação de que o mundo é cor de rosa pra todo mundo. Taís tenta mostrar, diariamente, que a vida é muito além de tudo aquilo que eles vivem no dia a dia.

Ela sabe bem disso!

  • {2000} foi eleita um dos 50 rostos mais bonitos do mundo pela revista People em espanhol.
  • {2015} Foi eleita uma das mulheres mais guerreiras e estilosas pela revista americana Vogue América.
  • {2016} uma pesquisa de opinião apontou Taís como a mulher mais admirada por jovens na faixa etária entre 13 e 20 anos.
  • {2016} foi apontada como a quinta artista mais influente da televisão e internet no país.
  • {2017} eleita uma das 100 personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo com menos de 40 anos pelo MIPAD.
  • {2017} foi nomeada Defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Mulheres Brasil, entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e empoderamento.

O elenco de Mister Brau gravou em Angola. Como foi a experiência de estar no país?
Foi lindo demais estar na Angola; foi a minha quarta vez no país, a primeira foi em 1998. Naquela época eu encontrei um país devastado pela guerra. Eu acompanhei o processo todo de Angola pós-guerra. É um lugar que ainda está se reconstruindo, têm ocorrido muitas mudanças. Eles gostavam bastante da série. Na verdade, eles admiram o Brasil como um todo. Nos receberam com amor e carinho.

Após quatro temporadas da série pensa em retornar às novelas?
Trabalhei em Mister Brau mais do que qualquer novela das nove. Achei que seria num ritmo diferente, mas gravava de segunda a sábado, tinha muitas externas, a demanda de tempo era maior. Na verdade é assim, eu não canto, não danço, eu dou truque em tudo (risos). Então, quanto melhor for o truque, menos trabalho a produção vai ter. Essa demanda é mais para agilizar o nosso processo que já é pesado. Além disso, fazia teatro de sexta a domingo. Então, não senti muita diferença entre fazer série ou novela, embora eu só gravasse Mister Brau três meses por ano, ficando com o resto do tempo livre para outros projetos.

Algum ponto em comum com Michele Brau?

Em todo personagem levamos coisas nossas. Ela é irônica, bem humorada, eu também sou. Eu queria ser a Michele, que administra bem o dinheiro e não tem nenhum pudor; se acha gata. Não tem problema em ostentar o fruto do trabalho. Eles têm uma liberdade incrível. Mas não tenho a menor vocação para a vida de pop star.

E falando em PopStar, qual a expectativa para comandar o reality musical da Globo?

Apesar de já ter apresentado outras atrações, me emocionado com o público que me acompanha na TV e no palco, agora terei a emoção de uma plateia e dos meus colegas talentosos. Estou morrendo de medo, pois é um ambiente novo com dinâmica diferente, ao vivo. Nunca passei por isso! É realmente um presente, espero aprender, entreter e conto com a companhia de vocês. Que nossos domingos sejam divertidos, engraçados e cheios de música.

Fala um pouco da experiência de ter feito a peça O Topo da Montanha com o maridão, o ator Lázaro Ramos.

Foi importante para mim. O espetáculo O Topo da Montanha foi o meu grande projeto com o Lázaro. Fui agraciada. Ficamos um bom tempo em São Paulo. É muito raro, hoje em dia, uma peça permanecer tanto tempo em cartaz; normalmente ficam três meses. Falamos sobre a última noite de vida de Martin Luther King; é um tema duro, mas a carpintaria dramatúrgica da autora Katori Hall é muito bem elaborada. Ela consegue fazer do início quase uma comédia romântica, e quando todos ficam bem à vontade, te faz refletir sobre aquele assunto. O espetáculo começa fazendo todos rirem e termina com choro, fazendo o público pensar no que a sociedade virou. Apesar de falarmos dos Estados Unidos de 1968, se aplica perfeitamente ao Brasil de hoje.

Pensa em interpretar uma figura feminina de peso no teatro?
Você está falando do teatro. O cinema nacional retrata pouco a mulher, e a mulher negra, menos ainda. Tenho tanta coisa para fazer ainda, não só personagens históricos. Eles são sempre bem-vindos porque quando olhamos para a nossa história nos fortalecemos. Porém, personagens contemporâneos estão aí para contar as narrativas.

Como foi se rever em trabalhos antigos como na reprise do Vale a Pena Ver de Novo?

Em Anjo Mau eu estava bem diferente; completou vinte anos essa novela. Eu me estranho fisicamente, as bochechas… Minha boca grudava no nariz (risos), a cintura era maior, gente que coisa estranha. Sou muito mais magra hoje. Cheias de Charme exigiu muito, não somente pela demanda de cenas, mas pelos shows que fazíamos, além das aulas de dança e canto. Espero que tenha o filme das “empreguetes”, porém, está difícil juntar todas as agendas.

Você se considera representante feminina do século 21? A mulher que trabalha fora e concilia os cuidados com a casa e família?

Vou equilibrando minha vida em casa, com meus filhos, marido, profissão, as coisas que eu quero fazer e são ligadas só a mim. As mulheres têm o dom de conciliar tudo ao mesmo tempo, é uma característica feminina.

Qual a sua relação com o esporte?

Já fui muito mais interessada em futebol do que sou hoje. O sonho do meu pai é que eu fosse um menino, porque ele já tinha minha irmã. Me levava aos jogos do Vasco, eu até curtia quando era pequena. Mas com o tempo, não sei… O Vasco foi me dando algumas tristezas (risos), fui me afastando, deixando de ir aos jogos, não sabia mais a escalação do time… Continuo torcendo por ele.

Qual o segredo para manter o corpo definido?

Não tem muito segredo, é aliar uma alimentação saudável à atividade física. As pessoas buscam um “emagrecedor”. Isso não existe. É importante comer alimentos nutritivos o dia inteiro e fazer de seu café da manhã uma boa refeição. Não existe milagre nesse sentido.

O que te tira do sério?

Sou muito bem humorada, mas a falta de respeito me tira do sério.

Bob Wolfenson: Retratos

Taís Araújo é uma das personalidades retratadas pelo renomado fotógrafo Bob Wolfenson na mostra Retratos no Espaço Porto Seguro em São Paulo. Em quase 50 anos de carreira, o artista é o responsável por alguns dos retratos mais marcantes da iconografia brasileira recente. Além da atriz, celebridades da cultura, esporte, política e moda tiveram fotos produzidas por Bob, presentes na exposição que fica aberta ao público até dia 09 de dezembro, na Alameda Barão de Piracicaba, 610, Campos Elíseos. Entrada gratuita.

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