Marcio Garcia e a paternidade raiz

Nada contra os pais “Nutella”, mas, Marcio Garcia, comprovadamente, é pai “raiz” e, por essas e outras, foi escolhido por unanimidade pela nossa equipe para estampar a edição do mês em que se comemora o Dia dos Pais.

Ariano muito bem espalhado pelo corpão de 1,90 metro,  aos 48 anos, o galã, carioca da gema, preenche os domingos dos brasileiros com o programa Tamanho Família, que tem a fórmula pronta de sucesso e conquistou o nosso coração.

Tanta entrega ao projeto que – como o nome sugere, é para toda a família – tem nome: Pedro (14), Nina (13), Felipe (9) e o caçula João (4), filhos dele com a renomada nutricionista Andréa Santa Rosa, responsável pela alimentação funcional e saudável de toda a família, sem ditadura.

Por isso Marcio continua gato! Aliás, não menos bonitão do que no início da carreira, quando arrancava suspiros vivendo o personagem Cassiano, na dramaturgia Tropicaliente. Mas, antes disso, deu o ar da graça na MTV, emissora que ofereceu a ele a primeira oportunidade na telinha.

Depois é história! O ator e apresentador engatou a primeira e nunca mais parou. Como se diz por aí, trocou os pneus com o carro andando. Teve uma importante passagem pela Record mas foi a Globo que brigou pelo passe e ganhou na contratação.

Foi dublador de animações como A Era do Gelo, participando dos cinco filmes. Marcio deu vida ao tigre dente-de-sabre Diego. Fez cinema. Atuou e esteve nos bastidores na produção, na direção e assinando roteiros.

Paizão, como Marcio mesmo contou, a família anda  em bando pela cidade do Rio de Janeiro, já que nunca desgruda da filharada. “Eu e a Andréa temos o nosso momento sim, entre nove e dez da manhã (risos)”, debocha ele que, apesar de linha dura, cria os quatro filhos com muito amor e independência. Não diferente de muitas famílias brasileiras, televisão e internet são regradas para que as relações humanas sejam prioridade. “O nosso jantar é quase um gerenciamento de crise”, brinca.

O Renascimento do Parto

Márcio e Andréa participaram do filme O Renascimento do Parto; eles tiveram seu primeiro filho de cesariana, contra a vontade do casal e por um motivo que é um dos mitos em torno do nascimento: cordão enrolado no pescoço. O filme mostra que 40% dos bebês nascem com o cordão enrolado no pescoço, e que isso é um evento completamente fisiológico, mas que se criou o mito do cordão assassino. O casal é a favor do parto natural.

Revista TUdo: Sua família é considerada uma ‘família de comercial de margarina’. É assim que você se vê?

Comercial de margarina não, porque a Andrea (esposa) não aprova, só se for de tofu (risos). Eu ouço alguns amigos dizendo que eu sumi da praia; realmente sumi de muitos lugares, mas não sinto a menor falta. Hoje, abro mão do meu futevôlei de domingo para estar com os meus filhos, aliás, abro mão de muito mais coisas para estar com eles, mas sem sacrifício. Eu adoro viajar com os meus filhos. Férias com eles existem desde sempre. Eu e a Andréa temos o nosso momento sim, entre nove e dez da manhã (risos). A minha filha (Nina) nasceu no mesmo dia que eu, de parto normal; ela é ariana de 17 de abril. Eu tenho uma ligação muito forte com ela por conta disso, mas não vejo ninguém mais grudado com ninguém. O caçula (João) tem uma mania de chamar de ‘gente’ e ‘pessoal’, porque ele vive num bando. Outro dia estávamos apenas eu e ele é ele falou ‘gente’; expliquei que não, porque só havíamos nós dois. É uma gangue. Eu nunca percebi ciúmes, nunca peguei ou senti o João enciumado, e nem ninguém.

O dia dos pais está chegando e as emoções ficam a flor da pele. Como pai, o que você aprendeu enquanto filho, e o que pretende deixar de lição para os seus filhos?

O pilar essencial é o caráter, porque desvio de conduta eles vão sempre ser estimulados a ter, desde a rodinha de amigos, até em situações na  vida adulta. Sempre vai existir a oportunidade de ser desonesto, e cabe a eles escolher ser ou não ser.  Eu digo que não existe felicidade sem caridade. O meu filho criou um movimento que se chama “Pé de Apoio” que é incrível e se tornou grande. Ele joga futebol e a escola dele fica praticamente dentro da Rocinha. Um dia ele estava ao lado de um menino que tinha os pés machucados e perguntou pro garoto o que havia acontecido; o menino comentou que estava usando uma chuteira três vezes menor. O moleque calçava 40 e a chuteira era 37. O meu filho pegou a chuteira nova dele e deu pro menino. A minha primeira reação foi: ‘você é louco, deu sua chuteira novinha’. Mas depois eu pensei: ‘nossa o que eu estou falando?’ E então ele começou a recolher todas as chuteiras das crianças da escola pra dar pra garotada da Rocinha. Hoje existe esse movimento de doação de sapatos, chuteiras, sapatilhas de balé, e virou um movimento para outras comunidades; cresceu muito. Outro dia, o Felipe chegou em casa reclamando de uma injustiça na escola e nós ouvimos a história e, realmente, era uma situação de injustiça. Então, eu comentei: filho, a vida é assim, vá lá e se vira. Claro que deu vontade de ir até o colégio e falar com o reitor. Eu falei pra ele: a vida nem sempre é justa, e nem a justiça é justa. Vá até a porta do seu coordenador e fale o que pensa sobre o assunto.

O mundo está evoluindo e nós sabemos da importância de conversar sobre orientação sexual, drogas, entre outros assuntos. Em algum momento você já conversou com os seus filhos sobre esses assuntos?

Converso sobre tudo com os meus filhos e, outro dia, o Felipe estava ouvindo uma conversa e disse “Vocês estão falando sobre gay, eu sei o que é, homem que gosta de homem. Como a mamãe que não gosta de camarão, tem menino que não gosta de menina”. Não tem mais essa de preconceito. Homem pode gostar de homem ou de mulher, e o contrário também.

O programa “Tamanho Família” está de volta para mais uma temporada. O que mudou no apresentador da estreia e do apresentador de hoje.

Os meus cabelos estão mais brancos (risos). O programa é uma fórmula minha de trabalho; a cada ano que passa, e a cada programa, eu aprendo muito. A minha preocupação é não me tornar o protagonista da história. Estou ali para ser o intermediador, o interlocutor. Recebo muito feedback dos meus convidados;  o pessoal sai de lá meio atônito. Os atores estão acostumados a circular nos programas, em estúdio, mas a família não. E a família, no final do programa, encara o palco pra fazer uma homenagem, e eu vejo muitas situações em que a família está desesperada porque a mãe nunca cantou na vida e vai cantar para a filha, para a plateia. É muito nervosismo. Eu que sou apresentador, fico nervoso; agora, imagine quem não é do ramo, sabendo que tem que fazer um show para o artista da família, e para a plateia que, mal ou bem, está julgando a performance, que pode não ser a melhor do mundo. Então, a cada programa, é uma novidade porque a família é diferente. Às vezes eu conheço determinado convidado, mas outra coisa é a pessoa com a mãe do lado. Se eu estiver com a minha mãe do lado, sou outro Márcio, vou me posicionar diferente. Ela vai falar: ‘não fala isso não, meu filho’. Mãe é mãe, e pode ser do Pelé, do Cristiano Ronaldo, do Neymar. Costumo dizer que essa é a fórmula e o programa tem que ser despretensioso, não precisa de grandes receitas. Há quem diga que é um talk show, game show. Eu digo que é um bate papo, uma brincadeira, porque nós estamos conversando e brincando. No final damos um troféu para as duas famílias. Esse é o grande barato, uma grande marmelada. Nós vamos brincar, conversar e as famílias saem dizendo que rolou uma espécie de terapia, porque como estão na frente de todo mundo, todos saem mais unidos. Ás vezes rola um arranca rabo, mas sempre positivo.

Como é esse feedback do público?

Lógico que na minha rede pessoal a galera dá uma aliviada, porque é só minha, mas te juro, eu já recebi críticas de público e de críticos, e eu nunca li uma crítica negativa sobre o programa. Foi o único trabalho que eu fiz na minha vida que nunca ouvi críticas. Juro pra você! Eu entro no Gshow, na Globo, no post dos convidados, são 500 comentários positivos. Algumas pessoas reclamam que choram muito, essa é a única queixa. A maior vitória é da família, porque o que nós conseguimos resgatar é muito bacana, e estamos sempre tentando ratificar esse raciocínio de que a família não é a nossa tradicional. Nós temos uma família tradicional, de pai, mãe e filhos, mas se o cara tem um marido, se a menina tem uma esposa, ou se resolve chamar o cachorro de filho, ou não ter filhos, eu não sou melhor do que ninguém. Sempre tentamos, de alguma forma, dar esse recado: o importante é o carinho, o respeito, a cumplicidade. Família é aquela que você decidiu conviver e vai compartilhar o seu dia a dia.

Você apresenta um programa aos domingos, que tem uma concorrência muito forte, mas ainda assim, fez muito sucesso diante do grande público. Era algo que você esperava?

Certeza nós não tínhamos de nada, mas confesso que depois que começamos a testar as provas, ouvir a opinião das pessoas e tivemos um grupo dentro da emissora que analisava o programa, percebemos que estávamos no caminho. Minha ideia sempre foi fazer com que as pessoas de casa pudessem participar um pouco das provas, tentando adivinhar, e ninguém tem bancada em casa, o que eles têm é um sofá. Fomos simplificando o programa, sempre com um pouco de medo, porque não temos uma super bancada ou um prêmio em dinheiro. Então, o que nós temos? Um bate papo, uma grande brincadeira, porque quando jogamos com os nossos familiares, não apostamos com dinheiro na mesa, não tem apelação para ter audiência. “O Tamanho Família” nasceu com um conceito humano, verdadeiro. Para o público é muito interessante ver o ídolo na condição de gente como a gente. Ele deixa de ser o ídolo e se torna família. Gravamos, mais ou menos, três horas de programa e, esse tempo de gravação serve para que as pessoas se sintam à vontade, principalmente parentes que não são do ramo.

Seu último trabalho na dramaturgia foi em Babilônia, em 2015. Pensa em voltar para as novelas ?

Por enquanto não. Talvez eu volte para o cinema; estou dirigindo e produzindo e quem sabe eu faça uma participação num filme. Esse filme é baseado no livro de Alexandre Fraga, chamado “Oeste”, que é a história do jogo do bicho, com o Cauã Reymond; ele será o protagonista. O nome do personagem é Rogério, mas pode ser que mude, e eu faço o segundo cara que é o grande adversário dele, outro bicheiro. Eu também dirijo um filme chamado “Delação”, em parceria com a FOX Filmes, mas só será lançando mais pra frente.

Galã sim! Não é porque já é um quase cinquentão que ficou menos gato. Afinal, foi o rostinho bonito que o levou a começar a carreira como modelo.

Em uma entrevista recente, Marcio disse que deve começar a fazer palestras esse ano para falar um pouco sobre casamento, paternidade, educação, como reservar tempo para tudo… Com o novo projeto ele espera poder agregar e ajudar as pessoas.

“O nosso jantar é quase um gerenciamento de crise”

“Eu e a Andréa temos o nosso momento sim, entre nove e dez da manhã (risos)”

“Sempre vai existir a oportunidade de ser desonesto, e cabe a eles (os filhos) escolher ser ou não ser”

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