Por Ester Jacopetti
Introdução: Mariana Marçal
Os devaneios de Heleninha Roitman são vistos até hoje em centenas de memes no instagram.
Porque a atuação de Renata Sorrah, dando vida às maluquices do bem da alcoólatra cruelmente controlada pela mãe abusiva Odete Roitman, simplesmente reuniu em massa as famílias brasileiras na frente da TV, no final da década de 80.
Em 2004, a história se repetiu. Renata deu vida à vilã Nazaré Tedesco em Senhora do Destino, que misturava perversidade e piadas maldosas e, mais uma vez, nós, brasileiros e noveleiros, fomos à loucura. A hashtag #nazareamarga – no instagram – já reúne quase 190 mil postagens.
Uma curiosidade interessante é que Renata recusou o papel dado a ela por Manoel Carlos para interpretar outra vilã, a Marta na telenovela Páginas da Vida. Renata alegou que não fazia sentido interpretar outra vilã depois de ter dado vida a Nazaré há tão pouco tempo.
Renata Leonardo Pereira Sochaczewski é filha de um empresário judeu alemão e uma diplomata brasileira, descendente de portugueses.Pisciana e poliglota – ela fala muito bem os idiomas alemão, inglês e francês – mudou-se para Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1964, onde participou de um programa de intercâmbio cultural e lá entrou para um curso de arte dramática, continuando paralelamente com os estudos básicos. Naquele tempo, a Califórnia vivia o auge do movimento hippie que, num processo radical de mudança, lutava pela ampla liberdade de expressão e pelo direito de cada um exercer a sua sexualidade sem culpa. Isso influenciou seu estilo e ela passou a ter ideias à frente da sua época. Como parte dos estudos, participou do elenco da peça Dura lex sed lex, de Oduvaldo Vianna Filho, na qual teve oportunidade de desempenhar vários papéis.
Retornou ao Brasil em 1967 e encontrou o meio teatral influenciado pelas ideias do movimento hippie. Embora não tenha sido ela própria uma hippie, se integrou ao movimento e levou essa tendência para as produções de peças de teatro que escrevia ou participava.
Neste período, cursou psicologia, mas não chegou a se graduar, e ingressou no TUCA (Teatro Universitário Católico). Desde então, o teatro, onde alia o seu trabalho de atriz às funções de produtora, é sua paixão. Costuma dizer: “O palco é o meu prazer, como se nele eu soubesse mais que na vida “.
Na vida pessoal, Renata foi casada três vezes (com Carlos Vereza, Euclydes Marinho e Marcos Paulo) e se relacionou com Paulo Coelho, Roberto Bonfim e André Gonçalves. Tem uma filha, Mariana (do casamento com Marcos Paulo), e dois netos, Miguel e Betina.
Agora na nova novela Vai na Fé, da Rede Globo, Renata contou um pouco sobre a sua personagem Wilma, que pelo jeito não bate bem das ideias, do jeitinho que a gente gosta.
Viva a Heleninha!
Viva a Nazaré!
Viva a Wilma!
Viva a Renata!
Atualmente, no auge dos seus mais de 50 anos de carreira, está nos palcos com a peça “O Espectador”, um espetáculo sobre celebração, encontros e reencontros e integra um quarteto formado por Marieta Severo – juntas pela primeira vez em um trabalho –, Ana Baird e Andrea Beltrão.
Renata integrou o elenco do filme Medida Provisória, que retrata um futuro distópico, onde o governo brasileiro decretou uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional. O Congresso então aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens.
Sua personagem foi uma grande estrela no passado e, atualmente, ela cuida da carreira do filho. Como essa relação de maternidade e como esse passado interfere nessa relação no presente?
“Vai na Fé” é uma novela deslumbrante e o elenco é incrível. Quando eu li sobre a personagem achei sensacional e a dividi entre passado e presente. No passado ela foi uma atriz que começou no teatro de rua fazendo grandes personagens como Medeia e Macbeth; depois, ela foi para a televisão e se tornou uma celebridade. Como é juntar essa mulher que fez teatro, trabalhos incríveis na televisão e, no presente, se tornou uma mulher amarga, com problemas? Uma mulher que ama o filho (José Loreto), mas tem uma relação muito difícil com ele. A Wilma é uma mulher egoísta, vaidosa e sem filtro, que tenta ser chique em meio à cafonice ao seu redor. No passado, queria ser uma celebridade, competia com as colegas, contava o número de falas que tinha. Até que veio essa coisa do etarismo e ela não pode continuar porque achavam que estava velha.
Tinha uma relação com o Fábio (Zé Carlos Machado), por quem era super apaixonada. O Fábio era casado; ela tentou dar o golpe da barriga, ficou grávida e ele se separou dela. Ela parou na profissão e vive para o filho que é cantor. Wilma se tornou empresária dele.
Você acredita que a Wilma pode ter chances de se tornar uma vilã na trama?
Wilma é uma pessoa sem noção, fala as coisas, é sem filtro, grossa às vezes, mas eu não a vejo como vilã não. Eu estou adorando fazer, os colegas são todos muito bons, o Loreto, a Sheron (Menezzes), está todo mundo atuando com prazer e alegria. Voltando ao personagem, no passado, Wilma perdeu um papel na televisão porque ficou mais velha, então, ao longo dos capítulos ela pratica etarismo com a protagonista Sol (vivida por Sheron) do mesmo jeito que praticaram com ela.
Essa turma dos 40 precisa parar de achar que estão velhos; 40 é primer da vida.
A novela fala muito sobre sentimentos e isso talvez gere identificação com o público que estará assistindo e o sentimento inclusive, está no nome da novela “Vai na Fé”. Qual é a fé da Wilma e o que vai chegar até o espectador que está do outro lado da telinha?
Essa pergunta é difícil de responder porque é no decorrer da novela que você vai jogando com isso e recebendo uma resposta do público. Até agora não temos uma resposta; e o maravilhoso de novela é que, durante seis meses, desenha-se um caminho de troca, a gente dá e eles recebem e mandam de volta, e os autores estão capitaneando isso. Eu ainda não sei o que as pessoas esperam da Wilma. Mas a gente vai descobrindo o personagem a cada capítulo e isso é muito bom. Essa novela tem uma diversidade incrível e eu acho maravilhoso como foram pegando pessoas de várias idades.
Quando você recebeu os primeiros detalhes da novela, o que mais chamou a sua atenção?
O que mais me chamou a atenção quando eu li os primeiros capítulos é que a novela é muito bem escrita, que os personagens são muito bons, assim como os temas abordados. Quando você lê um capítulo, quer ler o próximo, quer saber o que vai acontecer. Os personagens são incríveis. Não é fácil fazer a Wilma, as pessoas do meu núcleo sabem que eu fico dando pitaco: ‘é assim’, ‘é assado’. Os temas tratam de relações tóxicas, racismo, intolerância religiosa, tudo. É uma novela que tem humor e é amorosa e afetiva.
Como foi a preparação para a personagem, como isso aconteceu?
Essa foi a primeira vez que eu vi a preparação de uma novela tão intensa. Nós tínhamos professor de dança e de canto. A Cris Moura foi uma figura muito importante, foi um elo de ligação entre nós, do elenco todo; pela primeira vez tivemos muita preparação; eu estava fazendo teatro e, por isso, não pude participar tanto, mas todo mundo fez e todos os dias tinha aula. Eu achei incrível. O elenco ficou amigo e isso nos uniu porque, às vezes, a gente só encontrava o ator na hora de fazer a cena, mas ali não, todo mundo saía junto pra tomar um chope e isso foi por causa da preparação. Não podemos perder isso nunca. É ouro.