E as coisas voltaram a acontecer…A quadra voltou a ficar acesa no início da noite para as aulas extracurriculares de futebol; já existe o trânsito nas entradas e saídas das escolas; já é possível sentar em roda não tão longe do amigo, dar as mãos pra fazer ciranda (é claro, passando álcool gel depois…). Enfim, devagar, semana após semana, já se consegue enxergar uma sutil retomada disto ou daquilo em nossas escolas. “Nossos vizinhos já saem de suas casas, e o mesmo acontece com o meu vizinho com o uniforme da prefeitura de Cotia, após um longo período em casa”- afirma Adriana Rodrigues, a colunista de educação da Revista Tudo.
Como mostra um trecho de uma pesquisa sobre o assunto, publicada pela renomada fundação Carlos Chagas:
No Brasil, 81,9% dos alunos da Educação Básica deixaram de frequentar as instituições de ensino. São cerca de 39 milhões de pessoas. No mundo, esse total soma 64,5% dos estudantes, o que, em números absolutos, representa mais de 1,2 bilhão de pessoas, segundo dados da UNESCO.
Mas estamos voltando! Sim! Mas, e o que passou? E o que ficou? Ah, sobre isso ainda há muito o que fazer, escrever, restituir, falar, entender…
A impressão da Adriana Rodrigues é a de que muitas crianças saíram de uma espécie de hibernação e que despertaram para um mundo diferente, porém, foram “congeladas” e agora, seguem em um processo de descongelamento, muito em relação à convivência, à resolução de conflitos, à autonomia diante de muitos desafios, ao desenvolvimento dos padrões de movimento e tantas outras questões ficaram da porta para dentro das casas e das telas. E não estamos falando da aprendizagem de conteúdos desta ou daquela disciplina, estamos falando do tempo e do espaço que a escola oferta e que são fundamentais para o crescimento do indivíduo. “Temos visto em meio ao degelo de muitos estudantes, poças de frustração, de carência de instrumentos e ferramentas para seguir.”- comenta Adriana. Voltamos à pesquisa mencionada acima, que aponta que cerca de 53% dos professores entrevistados afirmam que cresceram os quadros de depressão e ansiedade em seus alunos. Sim! Quem caminha diariamente no chão da escola, percebe nitidamente as dificuldades em relação a tantos aspectos, enfrentadas pelos alunos”, completa a educadora.
Um lado bom de tudo isso, é que a mesma pesquisa mostra que cerca de 47% dos professores entrevistados considera que o vínculo com as famílias aumentou nesse período.
Dessa forma, equacionando todos esses dados, Adriana conclui que a priori, existe a urgência em se firmar parcerias com essas famílias para tratar desse estudante que desbrava novamente a escola. “Devemos estar abertos e com nossos olhares pulsantes e sensíveis para, dia após dia, acolher as crianças e adolescentes , para tanto, também é preciso que as instituições olhem para esse professor, que também deve ser cuidado, “abraçado” – observa a educadora.
É tempo de aguçar os sentidos para exercitar esse olhar; a escola está ressentida, machucada, se refazendo todas as manhãs!
Diante deste cenário, o Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, em parceria com a UNESCO do Brasil e com o Itaú Social, propôs uma pesquisa com o objetivo de verificar como as professoras e os professores das redes públicas e privadas do Brasil foram impactadas nesta pandemia.
Segue alguns resultados desta pesquisa da fundação Carlos Chagas para quem quiser se aprofundar no assunto.
49,3% das professoras acreditam que somente parte dos alunos consegue realizar as atividades. A expectativa em relação à aprendizagem diminuiu praticamente à metade
Quase a metade das professoras indica um aumento da relação escola-família e do vínculo do aluno com a família
Quase 70% das professoras sentem-se apoiadas pela escola, porém, esse percentual é ligeiramente menor entre docentes negras e negros
Fonte
https://www.fcc.org.br/fcc/educacao-pesquisa/educacao-escolar-em-tempos-de-pandemia-informe-n-1
Por Adriana Rodrigues Xavier