Essa vacina vem com autoestima?

Por Adriana Rodrigues Xavier

Navegando pelas redes sociais, vira e mexe, me deparo com ex-alunos que hoje são artistas plásticos, críticos de cinema, psicólogos…enfim…além disso, me chama muito a atenção, seus textos, imagens escolhidas, opiniões sobre as coisas da vida. Eu os vejo cantando, tocando violão, pintando…São tão únicos, tão especiais! Quanto orgulho!

Então me lembro das cenas das infâncias, as mãos dadas, a hora do lanchinho, o choro da saudade da mamãe, ..me lembro de que aquela gostava da frutinha picada, aquele adorava brincar de pega-pega no parque, o outro amava caçar bichinhos… Tantos detalhes, tantas conversas, conflitos, cumplicidade…Sim, por um tempo eles foram meus! Eu tive acesso a essas vidas! Mas a pergunta que fica é: “que marcas deixei? Foram positivas, negativas, ou o pior, indiferentes?” Não fazemos ideia da bagagem que uma criança carrega pela vida afora…das relações construídas, das experiências vividas e cada vez mais devemos levar tudo isso em questão. Não só em casa, mas também na escola, que é o lugar em que a maioria das crianças passa seu maior tempo atualmente. Cuidar desse dia a dia, no sentido de proporcionar um espaço de escuta e acolhimento é fundamental para que nossos pequenos possam se perceber e perceber o outro, que possam ter tempo e lugar para crescer.

Sabemos que nem sempre foi assim, “no nosso tempo”…Dizemos sempre que, hoje, adultos que somos, crescemos em meio a outras circunstâncias, outros olhares, outros diálogos em relação à infância e que mesmo assim “sobrevivemos”.  Sim, sobrevivemos, mas o que levamos agora dentro de nós? Quais os registros do nosso tempo de criança? Querendo ou não, essa “criança” está lá em algum lugar, pronta para ser revelada, mesmo que tenhamos mais de trinta aninhos. Ela pode aparecer na hora de lidar com a rejeição ou a cobrança no ambiente de trabalho, nas relações afetivas, no trato com o dinheiro etc.

Cada vez mais dentro de uma sala de aula, diante daqueles pequeninos que chegam à escola pela manhã e saem às 18h, durante o ano todo, reflito o quanto posso afetá-los, o quanto cada narrativa, história, merece ser olhada, merece uma escuta, um contorno!

O nosso desejo, diante de uma criança, enquanto educador que conduz, deve ser o de instrumentalizá-la a ser ela mesma , inteira, reconhecendo seus sentimentos, emoções, habilidades, talentos. E digo mais…esse olhar deve se estender até a adolescência, pois infelizmente vejo esse discurso ser bem difundido entre a primeira e segunda infância, porém a minha impressão é que tudo desmorona aos 10, 11 anos…e isso segue até o ensino médio, em que os meninos e meninas já devem escolher quem querem ser pela vida toda. Sim, essa é a regra do jogo, mas pode e deve haver uma escuta, uma pausa… um gesto pode fazer a diferença…

Ouvi de uma menina de 11 anos que acabara de tomar a vacina da Covid: “Essa picadinha vem com autoestima?”

É sobre isso que estou falando! E não estou dizendo que não devemos ser firmes e seguros em nossas intervenções! Sim!

Vamos experimentar! Vamos refletir!

Quer se inspirar? Recentemente em um curso com os mestres Severino Antônio e Kátia Tavares, os mesmos nos deixaram uma dica incrível de filme.. Aproveito o ensejo e repasso a dica a vocês:

“Um lindo dia na vizinhança”, com Tom Hanks.

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