Ainda dá tempo…

“Um menino sentou-se no colo de um idoso, que chorava a morte da sua esposa. O idoso susteve o choro e sorriu. Quando a mãe da criança lhe perguntou o que tinha dito ao velhinho, ela respondeu:  _ Nada. Só o ajudei a chorar.”

José Pacheco em Dicionário de Valores

Tivemos um início de ano bem temeroso, com tragédias, vidas sendo interrompidas abruptamente, muita tristeza e desolação. Cada vez mais, somos acometidos com notícias de adolescentes invadindo escolas, matando e se matando, no mundo e para nossa surpresa, no Brasil também. Ainda somos bombardeados com informações sobre jovens que tiraram suas próprias vidas tendo ou não sido inspirados por jogos e aplicativos de celular. E por falar em celular, a solidão adolescente também está localizada ali, nas dezenas de amigos virtuais e nos poucos em carne e osso.

Pois é, estamos nos distanciando de nós mesmos, atolados em uma realidade que merece atenção e sensibilidade.

E nossas crianças em meio a tudo isso??? Não estou falando só de tragédias, porque a maioria delas nem têm acesso a essas informações, mas falo do simples e efêmero dia a dia, na escola, em casa, do quanto a vida pode ser rica e do quanto podemos instrumentalizar nossos filhos, alunos, sobrinhos, netos a lidarem com suas emoções e construírem um espírito solidário para ver o outro e transformar o mundo, com atitudes simples como a do menino da citação do início. Às vezes só temos que ajudar a chorar, a sentir com o outro, segurando a sua mão ou oferecendo nosso ombro. Que presente é esse!

Mas para isso, cada vez mais temos que nos sentir acolhidos e tudo começa lá no início da vida, quando damos nossos primeiros passos. E depois mais tarde na escola, começamos a ter nossos primeiros conflitos com os amigos, por diferença de opinião, por espaço, por disputa de objetos… enfim… Tem de haver um olhar do adulto, do mediador para que a resolução dessas situações seja afirmada em valores, em respeito, em acolher as diferenças, em conviver!

A nova Base Nacional Comum Curricular (Bncc), que se trata de um “documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica” (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/), determina, entre outras, que as crianças desenvolvam as seguintes competências:

“Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.” (bncc versão pdf – portal Mec)

Pois é, agora é lei! As competências socioemocionais agora figuram em condição mandatória e não como uma sugestão, referência ou parâmetro, como era há algum tempo atrás.

Há então uma esperança de que nossas crianças e jovens tenham a chance de estar debaixo de um olhar mais cuidadoso a respeito de tudo isso, mas é claro, por enquanto está tudo no papel.

Digo e repito, o cuidado com as emoções, pode fazer a diferença no desenvolvimento de um ser humano ou na vida de outro ser afetado por alguém que teve esses aspectos trabalhados, considerados, assim como o menino e o velhinho da citação de José Pacheco, a qual me remonto novamente.

Vamos pensar sobre isso? Ainda dá tempo!

Deixo dicas de literaturas interessantes para começar essa história!

Um abraço afetuoso!

Adriana Xavier – pedagoga e psicopedagoga

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