A Quiprocó Filmes vai produzir o documentário “Pretos Novos do Valongo“, que abordará a memória das vítimas, além de diversos outros aspectos sobre o maior cemitério de escravizados das Américas, o Cemitério dos Pretos Novos, localizado na Pequena África, Rio de Janeiro. A direção será da jornalista Mônica Sanches, com mais de 30 anos de experiência em reportagens especiais na TV Globo, e da jovem cineasta e diretora da Baixada Fluminense, Laís Dantas, que vem se destacando pelo seu desempenho em documentários, tendo seu filme “Desova”, reconhecido como Melhor Curta no 12º Ficip de Buenos Aires.
Não por acaso, o documentário surge em 2024. Há exatos 250 anos, em abril de 1774, o vice-rei Marquês do Lavradio, então uma das autoridades máximas no Brasil, assinou uma ordem para a transferência das atividades ligadas ao desembarque e ao trato com os escravizados para a área do Valongo. Essa mudança inclui também na mesma data a cessão oficial e definitiva do terreno destinado ao cemitério, onde hoje, após a descoberta do local, fica o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, na Gamboa, recentemente nomeado patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro.
O Cais do Valongo e cemitério são vestígios do que foi o maior complexo escravista das Américas, localizado na região. O documentário “Pretos Novos do Valongo” ocupará um papel fundamental em debates e rodas de conversas sobre ancestralidade africana, diásporas e lutas do movimento negro no Brasil.
“A data não deve ser motivo de comemoração, mas de recuperação desta memória e de reflexão sobre os impactos que permanecem devido à forma como foi ocupada esta parte da cidade. Hoje, o Circuito de Herança Africana, com a agitação do Largo da Prainha, atrai mais turistas do que grandes atrações do Rio, como o bondinho do Pão de Açúcar, por exemplo”, afirmam as diretoras Mônica Sanches e Laís Dantas.
O filme, aprovado na Lei do Audiovisual para captação de recursos, será produzido a partir de materiais de arquivo e de depoimentos com antropólogos, historiadores, arqueólogos e intelectuais que se dedicam ao tema. A obra terá três eixos de abordagens:
o funcionamento do Cemitério dos Pretos Novos e do Complexo do Valongo há 250 anos; a luta da família Guimarães dos Anjos, dona da casa onde o sítio arqueológico foi encontrado em 1996, para que o passado deste local não permanecesse invisibilizado; e o impacto da descoberta do Cemitério nas obras que revelaram o Cais do Valongo, em 2011, agora reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco.
“A aprovação do projeto “Pretos Novos do Valongo” na Lei do Audiovisual cumpre uma etapa importante do seu planejamento financeiro e de produção. Trata-se de um projeto que se insere num território estratégico para a formação do Rio de Janeiro, que se atualiza a partir de um conjunto significativo de intervenções públicas e privadas na Pequena África e que certamente é central no debate sobre o futuro de uma cidade com mais equidade racial e social. Sem dúvidas, teremos um grande projeto que será potencializado a partir de parcerias com o poder público, com empresas e pessoas físicas que poderão agora contribuir com a sua execução”, afirma o diretor executivo da Quiprocó Filmes, Fernando Sousa.
A Lei do Audiovisual (Lei nº 8.685/1993) foi criada para incentivar o desenvolvimento do cinema brasileiro, a partir do apoio de pessoas físicas e jurídicas. Ela é regulada pelo Ministério da Cultura e tem a liberação de recursos realizada pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE). Basicamente, permite que pessoas físicas e jurídicas patrocinem projetos audiovisuais aprovados pela agência, com abatimento dos valores na declaração do Imposto de Renda. Na prática, significa que o incentivo sai de graça para quem contribui. Ela autoriza os contribuintes a deduzirem do Imposto de Renda devido 100% do valor patrocinado. Pessoa Jurídica pode patrocinar com até 4% do que paga de IR e Pessoa física com 6%.