Lidia é uma das minhas corredoras que mais se desafia com superações pessoais; tem 64 anos, é casada, mãe de dois filhos que estão sempre apoiando suas decisões nas corridas e na vida.
Independente financeiramente desde os 16 anos – quando ainda estava no segundo ano do Curso Escola Normal, hoje, denominado Magistério – iniciou a docência, assumindo uma turma multisseriada numa escola na zona rural, Estado do Paraná.
Durante trinta e oito anos dedicados a esta área, exerceu a função de professora primária, coordenadora pedagógica, professora do ensino fundamental e médio, diretora de escola e supervisora de ensino, onde encerrou sua carreira profissional. Lídia, diferente de muitas mulheres da sua época, entendia que trabalhar não era uma afronta e sim vital para que fosse uma mulher realizada, equilibrada e feliz.
Mas onde está a corrida?
Em 2015, com o falecimento de seu pai, entrou num processo melancólico, pois existia muita afinidade entre os dois.
Fazer caminhada no Parque Cemucam era uma atividade diária. Ela sempre encontrava umas mulheres correndo, vestidas com camisetas rosa e uma asa estampada nas costas.
Adorava ver as asinhas.
Em 2016 recebeu o convite de uma participante para fazer parte do grupo.
Aceitou imediatamente.
A acolhida e a sensação do primeiro treino foi indescritível para ela.
Certo dia, em um dos treinos sofreu uma queda e fraturou o úmero. Ficou alguns meses sem treinar. Sentiu um desespero e o medo de não mais correr tomou conta de seu coração.
Voltou aos treinos e comentou comigo o sonho de correr uma meia maratona.
Respondi: é só treinar.
Ficou meio assustada, mas, decidiu se desafiar e marcar seu aniversário de sessenta anos com uma meia maratona.
Fez algumas meia maratonas e a vontade de correr uma maratona foi ficando mais forte. Ela lia muito a respeito e, um dia, correndo com uma colega fez este comentário.
Para sua surpresa ela confessou que possuía o mesmo desejo.
Decidiram partilhar comigo, que as incentivei a virem comigo para Valência. Tomar a decisão de se tornar maratonista é um ato de coragem, pois exige muita determinação, abdicação e, principalmente, comprometimento… e a Lídia se superou. Mesmo muitas vezes se perguntando se seria possível aos 64 anos, ela encarou e, em dezembro de 2022, concluiu os 42km; por sorte, eu estava por lá! Pude ver o sorriso, o alívio e a sensação de vitória.
Lídia diz que a corrida nos transforma, nos faz sentir cada pedacinho de nosso corpo, nossa respiração, nos conhecer melhor, nos conecta com o nosso interior, com o Universo.
Hoje, ela não vive mais sem a corrida e, certamente, a equipe não vive mais sem ela.