Iluminação e saúde

Venha conferir como a iluminação pode influenciar no ambiente e em nossas vidas

A neurociência e a iluminação estão profundamente interligadas: a luz afeta o cérebro e o comportamento humano. Ela influencia diretamente o funcionamento do sistema nervoso. A retina dos olhos possui células fotossensíveis que não só captam a luz para a visão, mas também enviam sinais a uma área do cérebro que coordena o relógio biológico e responde pela produção de diversos hormônios fundamentais ao corpo humano como a melatonina e o cortisol, que regulam o sono-vigília, os níveis de estresse, a modulação do sistema imunológico, a forma como o corpo metaboliza os alimentos e muitas outras funções fisiológicas.

Os avanços em neuroarquitetura têm guiado o desenvolvimento de tecnologias de iluminação criando sistemas que interagem com o ritmo biológico humano chamado de ciclo circadiano. Esse ciclo, que dura aproximadamente 24 horas, é fortemente influenciado pela luz, tanto natural quanto artificial. A qualidade da iluminação nos ambientes que frequentamos tem um impacto direto sobre o ciclo circadiano, afetando a saúde, a qualidade do sono, a concentração, o humor e a produtividade.

A luz natural é o principal regulador do ciclo circadiano. Lembrando que nossos antepassados não tinham iluminação artificial, o que permitia que o corpo tivesse seu funcionamento orquestrado pelo sol: dia e noite em suas funções opostas de atividade e descanso. Com o progresso, estamos cada vez mais expostos a iluminação artificial e tipos de luz que confundem nosso organismo sobre quando é dia e quando é noite e nosso metabolismo sendo alterado, minando a saúde.

Durante o dia, a exposição à luz azulada, presente na luz do sol, sinaliza ao corpo que é hora de estar alerta e ativo. Essa luz suprime a produção de melatonina, o hormônio responsável por induzir o sono. No entanto, à medida que o dia avança, o corpo se beneficia de uma transição gradual para luzes mais quentes, do entardecer e pôr do sol, que ajudam a preparar o organismo para o descanso noturno. Esse equilíbrio entre luzes frias e quentes é fundamental para manter um ciclo circadiano saudável.


O ideal para a saúde é aproveitar, ao máximo, a luz natural. Para as áreas de trabalho, como escritórios domésticos, a luz branca, com temperatura de cor acima de 4000K, é recomendada. Essa luz fria ajuda a aumentar a concentração, o foco e a energia. No entanto, à noite, é importante fazer a transição para luzes amarelas, com temperatura de cor abaixo de 3000K. Essas luzes mais quentes promovem o relaxamento e preparam o corpo para o sono.

No quarto, a escolha da iluminação é particularmente importante. Para criar um ambiente propício ao descanso, o uso de luz amarela suave é recomendado. O projeto se aproximará ainda mais do ideal se houverem abajures e luminárias baixas, com luzes quentes, pois iluminação, ainda que amarelas, acima de nossa cabeça após o anoitecer são captadas pelo cérebro humano como luz do dia, e atrapalham a produção natural do corpo de melatonina, o hormônio que nos faz dormir bem. Mantenha, além do quarto, também os ambientes de estar em família, à noite, com lâmpadas de pouca intensidade e temperatura de cor abaixo de
2700K e crie uma atmosfera aconchegante, que favorece o relaxamento.


Com tecnologia, a composição de cenários de iluminação, ideias para cada momento do dia e da rotina de seus usuários garante conforto e o equilíbrio das necessidades biológicas de luz. Através dos projetos de arquitetura, conseguimos delinear os ambientes para melhor explorar a iluminação natural e compor com a automatização das luzes para, dinamicamente, regular as intensidades, fluxos e cores dessa iluminação de forma a promover ambientes cada vez mais saudáveis.

É quase intuitivo pensarmos que toda essa tecnologia de iluminação programada para respeitar o funcionamento do corpo humano ao ser aplicada em ambientes de saúde, como hospitais, tem o real potencial de acelerar a recuperação dos pacientes, reduzir o estresse e melhorar o desempenho dos profissionais envolvidos.

Nas escolas, a iluminação também desempenha um papel fundamental na concentração e no aprendizado. A luz branca fria é ideal para salas de aula, mantem os alunos alertas e focados, melhora o desempenho cognitivo e reduz a sonolência durante as aulas. No entanto, em espaços como bibliotecas ou áreas de alimentação, onde o objetivo é criar um ambiente calmo e propício à redução do estresse ou a concentração prolongada, devemos combinar composições híbridas de luz branca suave e luz amarela.

Em escritórios, a luz branca é frequentemente utilizada, de novo, por sua capacidade de estimular o foco e a eficiência. Contudo, é importante evitar a exposição prolongada a essa luz após o horário de trabalho. A transição gradual para luzes mais quentes à medida que o dia avança ajuda a reduzir o estresse e a fadiga ocular, além de melhorar o humor dos funcionários. Outro aspecto a considerar na prática da iluminação com foco na qualidade de vida é o Índice de Reprodução de Cor (IRC), que mede a capacidade de uma fonte de luz em reproduzir fielmente as cores de objetos em comparação com uma fonte de luz natural. Para frutas e verduras, um alto IRC (acima de 80) é essencial para garantir que as cores vibrantes dos alimentos, como o verde das folhas e o vermelho das maçãs, sejam representadas de forma precisa, transmitindo frescor e qualidade, o que induz ao consumo desses alimentos saudáveis. Uma iluminação com baixo IRC pode distorcer essas cores, fazendo com que os alimentos pareçam menos atrativos e, consequentemente, menos frescos. Não é super interessante?


Em um mundo onde passamos cada vez mais tempo em ambientes fechados, compreender e aplicar esses princípios da luz é crucial para o bem-estar. Os projetos de interiores devem considerar a função de cada espaço e a necessidade de ajustar a luz ao longo do dia, a razão entre o momento e as atividades nele realizadas. Muito além do gosto pessoal, a escolha da iluminação é uma escolha inteligente de bem-estar, saúde do corpo e da mente.


Mariana Meneghisso

Granjeira, Esposa, 3X mãe. Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes, Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. Pós Graduada em
Responsabilidade Civil pela Fecaf, Pós Graduada em Neuroarquitetura pelo Ipog. Membro da Anfa Brazil, Academy of Neuroscience for Architecture. Titular, há 20 anos, do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura

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