Arquitetura para crianças: criando espaços lúdicos, seguros e funcionais

A arquitetura voltada para crianças vai muito além de cores vibrantes e móveis em miniatura. Projetar espaços infantis exige um olhar atento à segurança, ao desenvolvimento cognitivo e à ergonomia, aspectos que se entrelaçam com a neuroarquitetura. Esse campo estuda como os ambientes influenciam emoções, comportamentos e aprendizado, elementos essenciais para criar espaços que realmente atendam às necessidades das crianças.

Nos últimos anos, passei a considerar não apenas a estética dos projetos infantis, mas também os impactos que cada escolha pode ter no bem-estar e no desenvolvimento dos pequenos. A arquitetura infantil deve estimular a criatividade, a autonomia e a interação social, ao mesmo tempo em que garante acessibilidade e segurança.

Ao aplicar a neuroarquitetura a ambientes infantis, cores, iluminação, texturas e formatos podem influenciar o estado emocional e a capacidade de concentração das crianças. Tons pasteis costumam trazer calma, enquanto cores mais vibrantes estimulam a criatividade e a socialização. Além disso, a presença de elementos naturais, como madeira e plantas, favorecem a sensação de bem-estar e reduz o estresse.

A segurança é outro aspecto crucial. Crianças estão em constante movimento e exploram o espaço de maneira diferente dos adultos, o que exige uma série de cuidados no projeto arquitetônico. Pisos antiderrapantes, cantos arredondados, materiais atóxicos  e móveis fixos são apenas algumas das soluções que evitam acidentes. Além disso, a ventilação e a Iluminação natural devem ser bem planejadas para garantir conforto térmico e  visual.

Estruturas como escorregadores integrados a móveis, paredes para desenhar e espaços flexíveis que podem se transformar conforme a necessidade do momento são exemplos de como a criatividade pode ser incorporada ao projeto.

Ambientes bem organizados favorecem o aprendizado e a concentração. Em uma escola infantil, por exemplo, é essencial separar áreas de descanso, estudo e recreação, criando uma transição suave entre esses espaços. Isso ajuda as crianças a compreenderem melhor a função de cada ambiente e facilita a adaptação das atividades propostas.

A formação do intelecto das crianças pequenas, até 8 ou 9 anos, reage de forma favorável e curiosa quanto a relação com tarefas e trabalho, ainda dentro de uma forma desprovida e ingênua, por isso, espaços de brincar, de fazer lição da escola e de dormir podem e devem ser integrados. Depois dessa idade, até a adolescência, é mais acertado que o ambiente de estudos fique fora do campo de visão.

Na ergonomia infantil, as dimensões dos móveis e equipamentos também  devem ser adequadas à altura e à faixa etária das crianças. Mesas, cadeiras e sanitários precisam respeitar as proporções do corpo infantil para evitar posturas inadequadas e promover autonomia. Em escolas, por exemplo, cadeiras e mesas ajustáveis permitem que os móveis  acompanhem o crescimento dos alunos.

Nos hospitais pediátricos, por exemplo,  a arquitetura também pode ter um papel transformador. Inúmeros estudos científicos, em todo o mundo, comprovam isso. Espaços humanizados, com elementos visuais acolhedores, iluminação confortável e temas lúdicos, ajudam a reduzir o medo e a ansiedade das crianças durante o tratamento.

A acessibilidade deve ser pensada para que todas as crianças possam explorar os espaços sem barreiras. Rampas, elevadores e mobiliário adaptado garantem que crianças com deficiência tenham autonomia e conforto. Além disso, brinquedos e áreas de recreação devem ser projetados para incluir todas as crianças, incentivando a interação entre diferentes perfis.

Ao projetar para crianças, considero essencial olhar a perspectiva delas. Observar como interagem com o espaço. Costumeiramente, convido os meus clientes infantis a participarem do projeto dos seus espaços, os convido para vir ao escritório.

Os mais tímidos, mandam pelos pais, referências de cores e fotos de seus super heróis para que eu considere no quarto deles. E, devagar, avançamos em desenhar esses cenários para a vida se desenvolver. Sou muito feliz trabalhando para eles.

Mariana Meneghisso é granjeira, esposa e 3X mãe. É Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes e Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. É pós-graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf e pós-graduada em Neuroarquitetura pelo Ipog. É Membro da Anfa Brazil, Academy of Neuroscienc for Architecture. É titular, há 20 anos, do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.

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