Trânsito intenso, o atraso para o compromisso, uma cobrança do chefe, centenas de mensagens no smartphone esperando respostas… Pronto! O estresse está instalado na sua mente (e no seu corpo) pronto para estragar seu dia. O que muita gente não sabe (ou mesmo não se lembra) é que a chave para reverter esse quadro e recuperar o equilíbrio e a paz interior passa por algo simples e trivial como a respiração.
Como professora de Yoga há 25 anos, posso dizer que o segredo para o equilíbrio não está em posturas difíceis de serem feitas, mas em algo bem mais simples que é o ato de respirar. Se você está agitado, ansioso, com a respiração acelerada, é de vital importância ter consciência de como está a sua respiração.
Em busca do equilíbrio
Existe um ritmo cósmico, do universo, um ritmo da natureza, um ritmo mais natural e esse ritmo conseguimos perceber melhor nos fluidos líquidos como o mar. O vai e vem das ondas e das marés deixa mais perceptível esse ritmo cósmico e talvez, por isso, a maioria das pessoas se sente muito atraída pela praia, porque é um lugar em que a gente se sente energizado, vitalizado e ao mesmo tempo relaxado e calmo. Aquele vai e vem das ondas vai contagiando nosso ritmo interno, regulando a nossa respiração, que passa a fluir e refluir no balanço do mar.
Ocorre que quando moramos nas grandes cidades, nós nos distanciamos da natureza e também perdemos a conexão com esse ritmo natural, que fica ainda mais acelerado com a correria do dia a dia. E ainda temos o agravante da invasão das mídias sociais nas nossas relações humanas, bem como a velocidade das informações nos “pilhando”. Esse distanciamento da nossa natureza é uma das principais causas de desequilíbrios que podem gerar doenças, pela visão do Yoga, porque somos a própria Natureza!
Mecanismo de sobrevivência
Em caso de perigo, nós possuímos um mecanismo de sobrevivência que aciona o sistema simpático, para lutar ou fugir, e foi graças a esse mecanismo que conseguimos sobreviver ao longo dos séculos. Imagine nos primórdios dos tempos, quando nós, seres humanos, ainda vivíamos em meio à natureza selvagem, se nos deparássemos com situações de perigo, de risco real, estaríamos ali para matar um leão (ou sermos devorados) ou correr!
Nesses momentos de sobrevivência, entra em ação um mecanismo dentro de nós pelo qual a respiração abdominal é travada, tornando a nossa respiração mais curta e ofegante, o coração acelera e nosso sangue é enviado para as extremidades do corpo, como as mãos e os pés, para que tenhamos energia e força para fugir ou lutar. Esse é um mecanismo importante de sobrevivência natural.
Quando a exceção vira regra
Nossa vida na cidade, agitada, corrida, faz com que esse mecanismo (que era para ser algo usado esporadicamente) seja acionado não só diariamente, como várias vezes ao dia. Esse estresse constante vai desequilibrando o nosso corpo e sabemos que ele é um terreno propício para o desenvolvimento de diversas doenças.
O fator genético é importante, mas não é o único fator determinante para o surgimento de algumas dessas enfermidades. Já se sabe que nosso estilo de vida, nossos hábitos, escolhas e atitudes podem interferir muito mais na manutenção da nossa saúde física, emocional e mental. Uma dessas atitudes é olhar para essa respiração!
Conhecendo o Pranayama
No Yoga, o termo Pranayama compreende as técnicas respiratórias. Essa palavra deriva de dois termos do sânscrito: Prana se refere ao alento ou ar vital. Já Ayama significa extensão, propagação, intensidade. Resumindo, o Pranayama é o processo pelo qual se expande, se intensifica o Prana no nosso corpo. E em algumas linhas do Yoga, o Pranayama significa simplesmente o controle, o domínio do Prana.
Existe algo de muito especial no ar que respiramos e, seja de forma consciente ou inconsciente, associamos a respiração à vida! Basta lembrar que sobreviveríamos alguns meses sem comer, alguns poucos dias sem beber água e pouquíssimos minutos sem respirar. Fica clara a importância dessa relação da respiração com a sustentação da própria vida.
A prática do Yoga nos traz essa consciência da respiração, essa consciência do Prana, do ar vital, resgatando uma respiração mais próxima do nosso estado natural. Na prática de Hatha yoga, iniciamos o treinamento de Pranayama justamente treinando essa respiração abdominal ou diafragmática, reeducando nosso corpo e resgatando essa respiração mais profunda.
Então, quando treinamos essa respiração mais profunda, lenta, silenciosa no Yoga, estamos fazendo um trabalho de resgatar essa respiração mais natural, que desacelera nosso ritmo interno e nos aproxima mais do nosso ritmo mais natural. E esse é o primeiro e o passo mais importante quando entramos em contato com o Hatha Yoga.
*Mariana Keller é formada em Yoga há mais de 25 anos, tendo estudado no Brasil e na Índia. Atualmente ministra aulas no Club Athlético Paulistano, em São Paulo, e em seu estúdio, em Embu da Artes. Instagram: @marianakelleryoga
