De frente para o espelho

No dia a dia de outrora, na vida corrida, indo de cá prá lá, sempre observei as poucas vezes em que conseguia me olhar no espelho. Reparar isso ou aquilo.. Até o batom, antes de sair era passado às cegas…Agora, de repente, a pandemia me colocou de frente para mim mesma! E como colocou!  A grande verdade é que estamos todos diante de nós mesmos de uma maneira inédita na história! As inúmeras lives, vídeo chamadas, reuniões online nos prestaram esse serviço ou desserviço…

Eu penso: “Preciso tingir de novo o cabelo, essa cor de batom não fica muito boa, minha pele está com aspecto cansado, acho que gosto do meu sorriso…”Todos os dias, abro o computador e espero ansiosamente por cada janelinha se abrir com os nomes deles, mais um dia começa, o coração bate acelerado… Depois de 10, 20, 25 anos, uma realidade tão diferente vivo como professora juntamente a tantos colegas! Então, o áudio se conecta…eu ajeito meu cabelo e a blusa que é o que dá pra ver, coloco um colar de que eles gostavam e vamos começar! Ah! Esse está com o vídeo desligado…Caiu a conexão da Bia, o Alê não entrou hoje…Alguém chorou porque seu trabalho não deu certo e tudo que vejo é o rostinho choroso diante da tela… Quero acolher, quero ajudar, o vídeo é desligado e a família ampara,respalda …o sentimento de impotência aparece, a vontade de pegar pela mão e orientar, conduzir, dar ferramentas para que a situação se resolva,  possibilitar a busca pela autonomia em meio a esses momentos…sim! Isso é o que fazemos! Mas agora é diferente!

Estou desnuda, exposta…Me vejo o tempo todo, nem precisava tanto assim, era só para acertar o batom… Mas estamos assim ! Tenho que conquistá-los todos os dias de novo e de novo….vejo um rostinho animado, falante e outro disperso, longínquo: “Adri, quero sair!” Não saia! Ainda vamos fazer algo bacana hoje!

É assim, como uma vela ao vento, vamos resguardando desse lado e do outro, cuidando, tentando não deixar a luz se apagar, visualizando cada expressão, cada ação, chamando, respondendo, ouvindo com tanta alegria  sobre a meia nova,o dentinho que caiu, a visita inédita da vovó …então tentamos conversar em “roda”, trazer à memória sobre o que somos , sobre o que fizemos, sobre nossos casos do dia a dia…Acolhendo sem o toque, sem o colo…Mas o mais incrível de tudo isso é que estamos conseguindo… Isso mesmo!

Vejo as famílias com as mesinhas arrumadas, às vezes a mamãe do lado, ou o papai, o irmão e até ajudantes queridas que estão ali conosco, ajudando, trazendo a folha, o lápis e até a frutinha na hora de beliscar algo! A proximidade é grande agora, que paradoxo! Nunca fomos tão próximos, nunca foi tão feito a quatro, seis, tantas mãos…Quantos aprendizados, quantas trocas, a aula aberta acontecendo diante de todos na praça virtual, como a Ágora, tudo acontecendo diante de todos, as paredes da sala de aula caíram, a intimidade veio à tona e todos estão diante do espelho.

A escola está viva! Ela resiste, persiste…a cultura, as relações, os processos de cada um…

Cuide dela porque é o espaço legítimo de construção, de entrega, de reconhecimento de nós mesmos! Ajude a preparar o espaço, os materiais, valorize…Espere aquele educador chegar em sua casa! Estamos crescendo sim, vamos colher bons frutos sim! Estamos juntos, professores, pais, avós, primos, até o cachorrinho de cada um eu já conheço, conheço o quarto, o sofá novo…

Dentro da tela, nos lares em que temos entrado, as coisas têm funcionado assim e então eu saio de casa, vou dar uma voltinha no meu condomínio para espairecer com minha filha, andar de bicicleta, correr…e vejo o meu amiguinho da casa ao lado. Ele está empinando pipa na laje e me chama: “Oi!Minha bola caiu aí?” Eu respondo: “Não Carlinhos! Está tudo bem? Teve aula hoje?” Ele me responde que não e que de vez em quando a mãe vai até a escola buscar algum livro ou material. Ele me conta que não consegue assistir aos vídeos da professora porque não tem internet. Carlinhos parece feliz, é um pouco mais novinho que minha filha de 9 anos. Sempre vejo e converso com esse meu amigo! Ele faz parte dos tantos pequenos brasileiros que vive essa condição de abandono do sistema de educação. Quero ajudá-lo! Penso em doar livros, enviar atividades…conversar com a família…Difícil situação!

Então estamos assim, diante dos espelhos, das telas, vendo nossos defeitos revelados, refletidos, tentando resgatar o que somos e seguirmos, mas também, pensando nos tantos Carlinhos, entre as pipas, ao vento, docemente felizes, com receio de que as mesmas se enrosquem nas árvores e sejam perdidas…

O que será de um mundo sem escola?

Como disse Renato Russo: “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente!”

Adriana Xavier – pedagoga e psicopedagoga

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